Taquarembó vivo
Do topo das coxilhas do segundo distrito de Lavras do Sul, ecoam ao vento as vozes daqueles que lutam contra a megamineração. Aqui as pessoas se confundem com as paisagens dos campos nativos, ricos em espécies e água pura. Esse ecossistema singular é uma das cabeceiras da bacia do Rio Santa Maria e também uma das nascentes da cultura celebrada em todo o estado do Rio Grande do Sul.
Os guardiões e as guardiãs das nascentes, dos jardins nativos e da cultura campeira se posicionam contra o Projeto Fosfato Três Estradas, para mineração de fosfato e calcário. Em oposição ao modelo colonialista de venda de minérios, os moradores da região demonstram o modo de vida da pecuária familiar, na qual a criação de diferentes animais sobre o campo nativo contribui para a conservação do bioma pampa e gera trabalho e renda.
O filme faz parte do projeto Querência da Água Boa, que busca valorizar a sociobiodiversidade dos campos nativos da pampa por meio do audiovisual. A obra também contou com apoio da Witness Brasil, do Repórter Popular e do Comitê de Combate à Megamineração no Rio Grande do Sul.
Defendo o meio ambiente e sou contra a destruição da natureza
Bom dia uma luta inana contra os interesses econômicos dos oligopólios. Lutei contra a instalação das barragens do taquarembó e Jaguari,entrei com denúncia crime em Dom Pedrito é o processo foi transferido para lavras para impedirem de acompanhamento. O que ocorreu tudo que falei aconteceu dinheiro desviado e inconsistência nos projetos e o grupelho instalado no comitê de bacia compactuaram com fedelho Vieira e Eliseu quadrilha para que os recursos fossem mal aplicados em uma área protegida e sem viabilidade para o empreendimento,caso até hoje sem punição peloministerio público. E agora é a vez da mineradora anotar o eia rima.
Ao assistir o documentário brotaram em mim alguns versos…
Vivendo junto de ti
Sempre busco te entender
E ainda não sei se entendo…
Gosto da lida do campo
Pois nela está quem sou
E esse barro me formou
Desde os que antes vieram
Até os rumos pra onde vou!
Pampa, eu te carrego em mim
Porque as minhas raízes
Estão em teu ventre e aqui,
O campo é meu elemento
E eu sei e sinto profundo
Que eu sou um pedaço de ti
Desde as coxilhas que se estendem
E que me ensinaram muito
Aos cerros com seus silêncios
Tão iguais aos que eu carrego
Desde as memórias das taperas
Que cravam fundo na gente
Aos ventos frios dos invernos
Contraponteando os mormaços
Dos verões de lida grande.
Pastos, banhados e sangas
Corredores, ranchos antigos
Tudo isso está em mim
Com aquela alma de açude
Rigidez de taipa de pedra
E plenitude de água calma
Prata que reflete a vida
Que a minha gente fez aqui…
Uma vida em simbiose
Com tudo o que aqui se encerra
Na mais crioula harmonia
E respeito a essa terra…
Gerações foram passando
E o campo sempre renasce
Como senhor do seu tempo.
E a natureza nos mostra
– Das secas às chuvaradas –
– Tendo mais ou tendo menos –
Que entrega tudo o que tem.
E quem entende esse legado
No somatório de ciclos
Com sabedoria, paciência
E amor ao chão vive bem.
Assim o Pampa é eterno
Sendo abrigo e abrigado
Pela gente da querência
Que aprendeu tudo na lida
Peleando na própria terra
E respeitando a natural vocação
Que esses campos carregam
E nos chegam por um sopro de atavismo
Respeitando as outras vidas
Que habitam aqui também.
E como é lindo de ver
Cavalhada campo afora
Um lote de ovelhas pastando
Gado de cria no campo
Em meio a tantas outras vidas…
Capim caninha e barba de bode
Cada pedra, cada planta
No destino natural
Os cerros e banhadais
Sangas cortando coxilhas
E a liberdade do pampa
Na mais genuína estampa
Que tempo adentro galopa
Assim desde os ancestrais!
Mas chegam vozes estranhas
Ecoando nessas plagas
As que vieram outrora
Vendendo ilusões…
Em plantações de eucalipto
Que mudaram não só a paisagem
Mas mataram muitas vidas
De planta, bicho e gente
E a essência do campeiro
Forjada nessas paragens.
A mesma voz chega agora
Sempre usando a palavra progresso
Em um discurso monetário
Um progresso ilusório
Que ignora e ameaça
A história que está viva
E foi escrita até aqui
Na mesma paisagem pampeana
Que nos orgulha e sustenta.
Não preciso garimpar
Para encontrar a riqueza
Sei que piso em uma riqueza
Que não é feita de cifras
Mas profunda em significados
E que talvez esses homens
Que falam em mineração
Não consigam entender…
Mas o que tenho e sou aqui
É pra guardar, não vender.
Não há dinheiro que compre
A essência de um povo…
Por isso eu não aceito
Que transfigurem a tua imagem
Pois nesses campos do Pampa
O homem é a própria paisagem.
A paisagem é o próprio homem
E o homem a própria paisagem
Pois se veste, se alimenta
Nessa simbiose campeira
Que permeia a própria alma.
E em cada mate que cevo
Está a fibra da minha gente
Falando que não passou.
É aquilo que não tem preço
Genuína transcendência
– História, recuerdos, cultura –
– Natureza, vidas, essência –
– Sentir, razão e querência –
Que hoje está ameaçada.
E há quem não escute a tua voz
Pedindo que o deixem ser
Apenas tudo o que é
Pampa!
…
Vivendo junto de ti
Sempre busco te entender
E ainda não sei se entendo…
Gentil Félix Da Silva Neto
12 de fevereiro de 2021