Os segredos do PAC da Copa – Origens – Capítulo 1

Por Tania Jamardo Faillace – jornalista e delegada RP1

Em setembro de 2008, foi realizado no hotel Plaza San Rafael um seminário promovido pelo Ministério das Cidades e o Departamento Nacional de Integração de Transportes para o lançamento do PAC da Copa em Porto Alegre, isto é, um programa de projetos construtivos urbanos destinados a atender algumas das exigências da FIFA.

Para esse seminário, foram convidadas todas as entidades que reunem os contrutores, e empresas de consultoria em Engenharia e Arquitetura, e alguns políticos. Sinduscon, Sicepot (construtores de obras públicas), Câmara Brasileira da Indústria da Construção, etc.

Curiosamente, não foram convidadas as entidades representantes dos moradores de Porto Alegre. Lá não estavam UAMPA, nem FEGAM, nem CMDUA (Conselho do Plano Diretor), nem associações de bairros.

Ah, já esquecia, participavam do seminário também os representantes dos dois clubes de futebol da capital, Grêmio e Internacional, embora o Grêmio nada tivesse a contribuir para o assunto, já que apenas o Internacional teria condições de sediar um ou dois jogos depois de algumas reformas. O Grêmio foi convidado por outros motivos, que depois eu conto.

Nesse seminário, o representante do Ministério insistiu que se precisava fazer um esforço para mudar a legislação de proteção ao meio ambiente, “porque ela atrapalha a construção”; e impedir algumas das ações do Ibama e da Funai, “porque Ibama e Funai atrapalham a construção, quando proibem derrubar matas ou fazer estradas dentro das reservas indígenas”.

Mas, enfim, o que é que pediu a FIFA para autorizar a Copa em Porto Alegre? Estádios bem equipados, em condições de garantir a segurança e o conforto do público e a boa realização dos jogos; bom sistema de transporte urbano; hotelaria em boas condições e suficiente; assistência à saúde disponível aos visitantes e turistas; bom sistema de comunicações; segurança pública eficiente.

Só. Não pediu o alargamento da avenida Tronco; nem a Arena do Grêmio; nem os espigões no morro Santa Teresa, com expulsão dos moradores e destruição da mata nativa; nem privatização do cais Mauá; nem marina no Gasômetro; nem estacionamentos de carros sobre palafitas dentro do rio Guaíba; nem centro de convenções e prédios de apartamentos na área do Internacional, e shopping center na área do bairro Humaitá; nadica disso tudo.

Vocês perguntarão: então, de onde é que saiu toda essa febre de obras de luxo?

Adivinhões!

Veio do pacote fiscal do PAC da Copa: benefício fiscal para toda e qualquer construção relacionada com o futebol da Copa, com os clubes, com os projetos turísticos para a Copa, tudo e qualquer coisa que se pudesse anunciar como empreendimento da Copa de 2014!

E quando se fala de benefícios fiscais, isso se refere à RENÚNCIA FISCAL TOTAL dos impostos municipais e estaduais (IPTU, ISSQN, ICMS, etc., etc)

Gente, vocês sabem o que é fazer negócios que envolvem BILHÕES de reais e não pagar imposto nenhum? Acaba sobrando comissão e gorjeta para todo o mundo, inclusive para políticos e outros. Menos para o cidadão comum.

É esse o segredo da história! Aquilo que eles não falam, e a razão por ue os projetos são apresentados um a um, e são votados até em segredo, e aprovados com documentos e certidões falsas.

Mas ainda tem mais por trás, e que vem sendo cozinhado faz mais tempo. Este é só o primeiro capítulo da novela.

Acompanhe amanhã no blog do A Copa passa por aqui o segundo capítulo da reportagem Os segredos do PAC da Copa “A especulação e a Bolha”.

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