O Batuque na identidade gaúcha

O projeto Batuque Gaúcho é desenvolvido pelo Coletivo Catarse, em parceria com o Instituto Afrosul Odomodê, e tem como objetivo a realização de um documentário etnográfico sobre a religião de matriz africana tipicamente gaúcha, o Batuque. O projeto foi aprovado no edital Etnodoc 2011, promovido pelo IPHAN com patrocínio da Petrobrás.

O documentário revela este fenômeno cultural que trascende a palavra religião como conhecemos. Trata-se de uma das bases da cultura do Rio Grande do Sul e que gera a identidade gaúcha dos descendentes de africanos que construíram este Estado. A cultura do terreiro que foi mantida através do culto aos orixás e é transmitida através da oralidade e da prática ritualística constitui a cosmovisão do batuqueiro, a forma de vida e suas relações socias são construídas dentro deste campo, onde a relação com o Orixá é constante.

Acompanharemos alguns batuqueiros que vão nos revelar como essa manifestação é uma forma específica de culto aos orixás que difere-se do candomblé pela diversidade de nações que originaram este fenômeno, sendo Batuque de Nação um nome muito comum e de identificação do Batuque Gaúcho. Isso se dá pela origem de cada casa e sua nação, como Jeje, ijexá, Oyó e Cabinda, sendo muito comum as Casas misturadas que se identificam como Jeje-ijexá, por exemplo. Essa diversidade funda o Batuque Gaúcho como uma cultura religiosa típica daqui e que está na raiz da cultura gaúcha.

Um bom exemplo é o personagem Jorge, que é filho de Ogum, nasceu no dia de Ogum e é cavalariano da Brigada Militar, demonstrando a cosmovisão de sua ancestralidade na forma como se identifica o Ogum, seja no sincretismo, com um Cavaleiro e sua espada, seja no Batuque onde a figura do guerreiro com a espada é ligada a este orixá. “Jorge é o Ogum na terra”.

Nossa intenção audiovisual é, seguindo a tradição do cinema direto brasileiro, explorar a representação do popular enquanto alteridade, conclamando o expectador à práxis multi(trans)cultural brasileira. Como Leon Hirzman realiza em muitos de seus filmes, utilizaremos a posição de recuo do sujeito-câmera e exploraremos as imagens como asserções dialógicas.

Para estabelecermos uma narrativa de diversas vozes, faremos uma justaposição dessas imagens com falas de Babalaorixas e Ialorixás das diversas nações, especialistas acadêmicos, pesquisadores , e especialmente, dos anciãos, resgatando assim a memória dos mestres griôs antigos e a vivência dos contemporâneos.

Fotos de Eugênio Barboza.

 

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