O vampiro e o bandido

pela amiga Márcia Braga, de Montes Claros/MG

O cinismo das nossas elites parece não ter limites. Os norte-americanos são hoje os maiores exportadores de roupas usadas. Um comércio que cresce assombrosamente no país. O Exército da Salvação arrecada toneladas de roupas e calçados nos EUA, Canadá e países ricos da Europa. O material é guardado em milhares de fardos. Alguns são distribuidos e outros nem chegam a ser abertos. Esses vão parar na África, onde são vendidos. No caso, a Zâmbia, que desde 1991 está perdendo suas fábricas de tecidos para o comércio de roupas usadas.

A situação já foi denunciada no documentário “Roupas que viajam”, mas isso não impediu que centenas de indústrias de tecidos fossem fechadas. No país mais de 80% da população vive na pobreza absoluta, e cerca de 50% do povo tem menos de 15 anos de idade. Os hospitais não têm remédios, as escolas não têm livros, e não existem estradas. E nem estou considerando que foram justamente esses países ricos que deixaram o continente na miséria.

Na Zâmbia, o que interessava aos colonizadores era o cobre. Ver a população vestindo aquelas camisetas com propagandas em diversos idiomas, calçando tênis de marcas variadas e usando bonés de empresas que eles nem conhecem, parece uma triste metáfora do impossível. O que vai acontecer nas próximas décadas? Só perguntando ao FMI e ao Banco Mundial. Mas, como ninguém gosta de se olhar no espelho e enxergar o vampiro de Dusseldorf ou, o Bandido da Luz Vermelha, talvez culpem os próprios africanos pelo fracasso. Penso naqueles versos:
“Ai, Telminha
ouça esta carta que eu não escrevi
ai, Telminha
tudo vai bem mas só penso um dia em voltar
por aqui, tudo corre tão depressa
se você tropeça não vai levantar…”
(Vou danado pra Catende/Alceu Valença)

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