Faces de Eva estreia no Festival Porto Verão Alegre

Nos dias 04 e 05 de fevereiro de 2025, a instalação artística Faces de Eva teve sua estreia em duas sessões praticamente lotadas na Sala Álvaro Moreyra, dentro do Festival Porto Verão Alegre. A performance teatro-musical vinha sendo desenvolvida de forma independente pelo grupo TMA – Teatro Musical Autoral, ao longo do ano de 2024, numa co-produção com Coletivo Catarse / Ponto de Cultura Ventre Livre e apoio da Comuna do Arvoredo. A mulher e seu lugar de poder na sociedade patriarcal. Tão complexa quanto o tema, foi a própria montagem, um processo longo, cheio de intensidades e aprendizados que levaram o TMA a entregar uma performance riquíssima, com diversas camadas simbólicas, cenas esteticamente elaboradas, tudo confluindo para tratar da profundidade do tema. Para o público atento e sensível, é certeza de que a Eva reverbera para além do teatro, sendo lembrada no dia a dia, ao ver as notícias, a rede social, ao se enxergar diante das situações de vida. Para entender um pouco mais sobre o que foi montar e estrear Faces de Eva, conversamos com Raul Voges, um artista multihabilidoso que assinou nada mais do que o roteiro, direção, cenografia, figurino, produção e, ainda, atuação. Fala um pouco sobre a tua trajetória de artista e o que te motiva a continuar fazendo arte? “Eu iniciei como bailarino e ator que gostava, também, de cantar. Você não sabe de onde vem, mas algo em você te empurra para isso. Na arte, tive ótimas escolas e ótimos mestres. Sempre fui muito disciplinado e interessado em ter acesso a todo o conhecimento possível. A disciplina me trouxe a formação como professor, e minha didática se construiu através da observação atenta ao trabalho dos professores que tive, e também das minhas práticas em sala de aula e espaços onde dirigi e coreografei. A disciplina também me trouxe um profundo respeito pelas artes, e pela forma de desenvolve-las em meus alunos.Meus aprendizados iniciais, com Lenita Ruschel na dança, e com Sonia Pellegrino no teatro, foram dando espaço à construção da minha confiança e da minha paixão por estar em cena. Naquela época, anos 80, se falava, “O fulano fez escola”! Fazer escola, era cursar as diversas técnicas oferecidas, respondendo com dedicação e ousadia. Fazer escola era, atravessar a cidade num domingo, usando 2 transportes mais caminhada, para fazer uma aula com um profissional que estaria somente aquele dia em sua cidade.Dos 17 aos 30 anos, estive em palco muitas vezes, passei por algumas escolas, e me identifiquei agradavelmente como professor de dança em escolas de dança, e de preparação corporal para elencos. Dancei muito, e iniciei meu percurso no teatro com grupos independentes. Trabalhei em escolas de municípios do RS, e tive uma escola de dança na cidade de São Jerônimo. Na universidade, cursei metade do curso de Educação Física, e me formei em Arquitetura. Então decidi morar em São Paulo, motivado pela arte e pela arquitetura (recém formado).Trabalhei 3 anos como professor das Oficinas Culturais do Governo do estado de São Paulo, ministrando oficinas no interior no estado. Criei dois grupos teatrais, e fui diretor artístico de uma fundação. Fiz um pós em gestão cultural, fiz parte do conselho de patrimonio histórico, e desenvolvi um projeto arquitetônico de ampliação de um museu de arqueologia, em um prédio tombado. Foram 3 anos bem intensos de vivências e aprendizagem constantes.Voltei para POA quando meu pai adoeceu. Fui buscar os colegas de outrora e atualizar-me do que estavam fazendo. Fiz aulas com um e outro, dancei com outros em suas cias, mas foi novamente como professor de escola de dança, que pude prover minha vida. Antes de ir pra Sampa, havia descoberto o trabalho de uma companhia de Porto Alegre, que me encantou, a Cia Terpsi. Desejei trabalhar com sua coreografa e diretora, Carlota Albuquerque. Passados 3 anos de retorno à POA, soube que Carlota estava ministrando aulas para uma turma mista, e me apresentei à ela como aluno. Iniciou-se aí, uma relação de afeto artístico e de experiência dramatúrgica com meu corpo, minha voz, meu canto, que definiram meu caminho como intérprete criador. Havia encontrado um “deciframento” em meu ser artístico, que me transformou o ser total. Expandindo meus trabalhos em cena, passei a participar de elencos de musicais, e conheci minha parceira de Actemus (Academia de Teatro Musical), a Cintia Ferrer. Foram alguns anos de construção de uma linguagem única para o teatro musical na cidade. E aquele meu universo da infância, com meu avô escutando óperas, meu pai me comprando livros de romances e histórias, dramas e suspenses, somados aos filmes da Atlândida na TV, ressurgiu dentro de mim, trazendo ao meu trabalho um grande entusiasmo. Por estar em cena como elenco de musical, pude construir esse novo contexto pedagógico aos alunos que estavam ávidos como eu, outrora na juventude.Hoje, o TMA – Teatro Musical Autoral, o coletivo que criei e dirijo, é minha oferta ao mundo. É minha construção de vida, que pode ser sentida, questionada, entendida ou só apreciada. Gosto da crítica, da ironia, e gosto de mudar as fisionomias e gestos de quem assite, e também de mover os olhos, o corpo na cadeira, e provocar o assobio, o dedo que tamborila na perna e o texto que fica gravado, repetindo em uma mente afetada por meu trabalho”. O TMA (Teatro Musical Autoral) é um grupo que se constitui e se reconstitui a cada trabalho. Pode falar um pouco sobre isso e como este grupo do Faces de Eva foi montado? Meus trabalhos são sempre montados com elenco convidado, mas não tenho uma ordem para isso. Enquanto professor de arte, tenho a facilidade de acesso a diversos talentos, de artistas com os quais convivo em sala de aula, em studios. Nestes 40 anos de professor, o universo criador trouxe uma comunhão de idéias com alguns, e os convites surgem deste lugar. Encontrar em cada artista, as possibilidades, e lincar suas disponibilidades com um tema proposto. Buscar um teatro autoral, com pesquisa e estudo, é o princípio de …

O teatro que se faz com muitas mãos

Desde o início de 2024 está em movimento o processo de montagem do espetáculo Vasalisa, a Sabida, numa co-realização Coletivo Catarse / Ponto de Cultura Ventre Livre e Aline Ferraz – Projeta Matricêntrica. É uma iniciativa que vem sendo gestada e fomentada pelo Coletivo através de recursos próprios e, também apoiada em editais como o Ações Continuadas – Funarte que tem sua duração até março de 2025 (https://coletivocatarse.com.br/2024/12/21/acoes-continuadas-uma-realidade-em-andamento-que-vai-seguir-em-2025/) e terá novo ciclo renovado com o PNAB Cultura Viva que foi aprovado e aguarda a entrada do recurso. Este apoio é a utilização da estrutura física para ensaios, armazenamento de material cênico, desenvolvimento e gravação de trilha sonora original, masterização e utilização de equipamentos. Embora tenha, hoje, este, fundamental, suporte, a pesquisa originalmente foi concebida e desenvolvida, de modo independente, pelas artistas Aline Ferraz e Têmis Nicolaidis, contando com a participação colaborativa de diversos profissionais nas áreas do audiovisual, da música, da dança, do figurino, que estão contribuindo com seus conhecimentos especializados para a concretização do projeto de modo ainda mais potente (ficha técnica ao final desta matéria). Vasalisa, a Sabida está sendo concebida como uma performance marcada pelo hibridismo de linguagens, escolhidas uma a uma, a partir do audiodrama, fio condutor da ação cênica na perspectiva de suporte expandido apontando possibilidades estéticas para além da performance ao vivo. Em seu caldeirão artístico são misturadas pitadas de contação de histórias combinadas com elementos do teatro de animação agregados a punhados de dança e contracenação. E o tempero potencial dessa poção é a intuição. Ela, que é um importante aspecto da psiquê feminina e que foi desvalidada pelo patriarcado, assim como, a maneira de ser/estar no mundo protagonizada pelas mulheres. Além disso, a intuição, é o tema do conto russo Vasalisa, a Sabida retirado do livro Mulheres que correm com os lobos, da escritora e psicanalista Clarissa Pinkola Estés. Amplamente divulgado e desde seu lançamento, em 2018, referência para mulheres aprofundarem as reflexões em torno da natureza instintiva da mulher a partir de 19 mitos, lendas e contos de fada pesquisados e minuciosamente analisados pela autora analista junguiana. Os contos de fadas são recursos importantes para facilitar o autoconhecimento, visto que, representam em suas narrativas fenômenos universais, com base no inconsciente coletivo. Eles também ativam o imaginário, favorecem a criatividade, a comunicação oral e promovem uma interação lúdica. Em 2025 o desenvolvimento deste trabalho vem com força total e pretende oferecer ensaios abertos e sua estreia ainda no primeiro semestre. Ficha Técnica: Texto: Clarissa Pinkóla EstésRoteiro, direção, dramaturgia, cenário, figurinos e atuação: Aline Ferraz (@lineaferraz_atriz) e Têmis Nicolaidis (@temis.nicolaidis)Assistência de direção: Lorena Sanchez (@lorenasanchez_apa)Assistência de figurino: Ethiéne Guerra (@ethi.g)Direção de movimento coreográfico: Raul Voges (@raulvoges)Trilha sonora original: Marcelo Cougo (@marcelo_catarse) e Marcelo Eguez (@marcelo_eguez)Produção sonora: Gustavo TürckApoio: Comuna do Arvoredo (@comuna_do_arvoredo)

Estreia de Faces de Eva no Porto Verão Alegre

Durante o ano de 2024 o coletivo TMA (Teatro Musical Autoral) ocupa o salão Zé da Terreira na Comuna do Arvoredo para desenvolver e ensaiar a instalação teatro-musical ‘Faces de Eva’. Esse trabalho tem sua criação livremente inspirada no musical “Evita”, e explora os caminhos por onde mulheres exerceram o poder, em suas épocas e com seus talentos e convicções. É uma intervenção artística que desafia os formatos cênicos tradicionais, redefinindo o lugar do público e o convidando a (se) olhar por diferentes ângulos e espaços. É uma obra artística contemporânea crítica que tem a música e a dança como condutora de um universo feminino em constante transformação. A instalação teve estreia de uma primeira versão em 2019, na Casa de Cultura Plauto Cruz. Este ano, a estreia desta nova versão será no Festival Porto Verão Alegre, nos dias 4 e 5 de fevereiro, às 20h na Sala Álvaro Moreyra (Centro Municipal de Cultura Lupicínio Rodrigues – Avenida Érico Veríssimo, 307). Ingressos limitados já a venda: https://ingressos.portoveraoalegre.com.br/event/13/faces-de-eva. Uma co-produção TMA e Coletivo Catarse/Ponto de Cultura Ventre Livre com apoio da Comuna do Arvoredo. AUTOR:Raul Voges e Maurício Fulber DIREÇÃO:Raul Voges ELENCO:Cristine Patane, Fabiola Ribeiro Barreto, Guilherme Fraga Bittencourt, Gabriela Schneider, Ighor Pozzer, Odila Maria de Athayde Bohrer, Raul Voges. FICHA TÉCNICA:Temis Nicolaidis(co-produção e assist.direção), Vigo Cigolini (tec.som e luz), Marisa Rotenberg (orientação vocal) DURAÇÃO: 70 minutos

O nada misterioso futuro das crianças com consciência

Aqui quem escreve é uma mulher de 45 anos, que acompanhou muitas mudanças sociais, mesmo nessas (poucas) 4 décadas de vida. Muito avançamos como sociedade em relação às questões de gênero. Hoje, pais já embalam seus bebês, dão de comer, fazem o tema de casa. Homens já choram sem vergonha e lavam a roupa de sua família, comportamentos que quando eu nasci eram inconcebíveis para a maioria. Porém, muito mais devemos avançar já que mulheres ainda são mortas, violentadas, assediadas ou mesmo importunadas de maneiras “sutis” apenas por serem mulheres….todos os dias. Por isso, quando assistimos uma peça de teatro protagonizadas por crianças que, livremente, debocham e gritam em cena essas mudanças, a sensação é de que não vamos parar de avançar, e ainda bem. O enredo de O Atual Mistério de Feiurinha, adaptado da história original “O Fantástico Mistério de Feiurinha”, escrito em 1986 por Pedro Bandeira, desconstrói todo o tempo essa ideia de que a princesa precisa ser recatada e do lar e, sim, ela deve ser a heroína de sua própria história. Essas princesas que batem em lobos, se recusam a servir os principes e não querem casar, são mostradas como personagens que vão atrás de desvendar seus próprios mistérios para que não desapareçam, assim como aconteceu com Feiurinha. Esse não desaparecer significa, para mim espectadora, superar a condição de invisibilidade a qual muitas mulheres e questões sociais relacionadas a elas são submetidas.Em conversa com uma amiga, ela comentou da falta de políticas para a infância, e eu refleti no porque. Um dos pensamentos que me ocorreu foi sobre as pessoas encararem a infância como transitória, curta e o importante mesmo é a vida adulta pois ela permanece até o fim. Pois, para mim, é ao contrário. A infância é um estado permanente pois ali a base é formada de maneira sólida e transformadora. Trabalhar questões tão basilares à sociedade como machismo, feminismo, patriarcado e papéis de gênero, através do teatro, com crianças é de uma potência absurda. Oportunizar a elas apresentar um espetáculo com esse teor para suas famílias é revelar a ideia de criança cidadã, pessoa que tem o seu lugar na sociedade e que já está pensando o tal de futuro melhor que todos nós concordamos que é urgente que seja construído. Eu quero um mundo melhor para a minha filha mas mais do que isso eu quero que ela tenha as ferramentas para lutar por seu próprio futuro de uma maneira mais equânime entre homens e mulheres e que eles possam fazer juntos e que o teatro possa ser o caminho possível para isso. SinopseO Atual Mistério de Feiurinha traz princesas empoderadas e independentes que procuram por uma princesa desaparecida. Feiurinha é criada para competir, mas se converte em uma feiticeira que questiona bem e mal, beleza e feiura, acabando com a competição entre as mulheres imposta pela sociedade. As princesas percebemos que nunca tinham ouvido ou lido sua história e contam ela para que todos e todas possam conhecer. A peça foi inspirada na obra de Pedro Bandeira, O Fantástico Mistério de Feurinha, mas traz um conteúdo renovado da narrativa. Ficha técnica Direção, figurinosAndressa Corrêa e Helen Sierra Produção e escolha da trilha sonoraAndressa Corrêa ElencoÁgatha Beatriz Dias MarquesAntü TahielAurora Corrêa MouzerDora Flor Dapuzzo de OliveiraEnrico Haas WiltuschnigLara Lopes SchröderLeonardo Dalmolin MartinsLuz BrasilMainô TürckMônica Santos KöhlerNauê Bassi da SilvaNina Bueno NoguezSofia Yeshe da Silva Corrêa Simões KadriTerra Muriel Fernandes AmorimVicente Maranhão de OliveiraVioletta Dalmolin Martins SomFábio Castilhos IluminaçãoClarí Tittoni Fotos e texto porTêmis Nicolaidis RealizaçãoYeshe Cultural ApoioComuna do ArvoredoPonto de Cultura Ventre Livre

Gretel

Cozinhar, para mim, sempre foi mais do que um simples ato. É um ritual, um espaço onde o ordinário vira algo mágico. Cresci observando minhas abuelas transformarem ingredientes simples em celebrações, mesmo em tempos difíceis. Mas será que aquelas mulheres, a quem tantas vezes recorremos por sustento e afeto, realmente queriam passar suas vidas na cozinha? Essa pergunta foi o ponto de partida para criar o espetáculo Gretel.A nossa releitura apresenta então a personagem subvertendo a relação entre patrão e empregada, ao decidir fazer uma torta para si mesma, celebrando o que é próprio, em vez de obedecer à ordem de preparar o jantar, por conta de um convidado de última hora. Esse gesto de Gretel, embora aparentemente simples, é um ato de muita coragem e autonomia (ao final de contas, ela é uma empregada), e desafia a hierarquia tradicional dos contos originais recolhidos pelos Irmãos Grimm, onde não tem nenhum príncipe salvando nenhuma princesa de nenhuma torre. Os contos que já atravessaram tantas fronteiras continuam a dialogar com questões de gênero, poder e autonomia. Com Gretel, colocamos em cena uma mulher que decide por si mesma, que toma as rédeas de sua história sem esperar um príncipe ou qualquer salvador externo. No palco, a cozinha deixa de ser um espaço de subserviência e se torna um laboratório de resistência. Leandro Silva, nosso diretor e idealizador da coisa toda, trouxe uma metáfora que guiou todo o processo criativo: o conceito de mise en place — a preparação cuidadosa dos ingredientes antes de cozinhar. Essa ideia moldou a mise en scène do espetáculo, em que cada detalhe importa e reforça a autonomia da personagem. Neste projeto somos 03 os cooperados que estamos envolvidos de forma muito direta. Com a criação visual de Billy Valdez Billy Valdez, criador das projeções multimídia, pretendemos destacar o papel dos elementos visuais como extensões simbólicas da personagem, ampliando sua subjetividade para além do palco. Já a trilha original de Marcelo Cougo, é um prato à parte. Ele mesmo define sua criação como uma “canção destemperada”, que ressoa com as tensões e quebras narrativas da história. As intervenções sonoras, musicais e os movimentos que misturam o arcaico (contação de histórias e teatro de bonecos) com as poéticas tecnológicas atuais, tornam Gretel uma obra coletiva no melhor sentido: é um manifesto artístico construído a muitas mãos, uma celebração do poder do grupo sem ofuscar as singularidades. Gretel a gulosa, a esperta, a astuta — essas são as traduções que encontramos do nome no conto original em suas diferentes traduções. Pra mim, é uma forma de lhe tirar importância à personagem, tornando-a indigna, irresponsável talvez.Mas, na nossa versão, ela é poderosa. Ao se presentear com a torta que escolheu fazer, ao beber os melhores vinhos da adega, Gretel celebra a si mesma e a todas as mulheres que encontram na sua vivacidade o “fatum”, ou destino, que as transforma. Ela é sua própria fada. Ah! e já que estamos, por que não falar um pouco do grande evento antecedente à mostra do espetáculo?O concurso Torta Gretel, que realizamos no Espaço Cultural Maria Maria, no último dia 7 de novembro, também carregou uma certa anarquia da ordem, e muita diversão. A cozinha – para aquele que a desfruta – sempre foi um espaço de criação artística assim como é o espaço das “Marias”. Ver jovens confeiteiros como Iago, o vencedor do concurso, a Paula, a segunda colocada, e o Lucas, o terceiro, brilhando com suas criações foi uma celebração. Ver amigos queridos na mesa do jurado técnico, rindo e degustando com seriedade cada fatia, me dava a sensação de serviço bem feito. O Leandro correndo pra lá e pra cá, sendo o melhor auditor de todos os tempos, me fez rir muitas e muitas vezes. O Billy, lutando entre as pessoas para conseguir tirar a melhor foto (e conseguiu!). E claro, a minha atenção no som envolvente do Marcelão, que, empolgadíssimo, não parou nem na hora de dar os parabéns ao vencedor. Veja as fotos do concurso aqui: https://www.instagram.com/p/DCW37fER7tr/?img_index=1 No fim, Gretel não é apenas um espetáculo. É uma provocação, um convite para repensarmos os espaços que ocupamos — ou que nos permitem ocupar. E, como atriz e produtora, é emocionante perceber que, em cada cena, estou não apenas representando, mas também compartilhando histórias que alimentam o público de novas ideias e esperanças. De 3 a 5 de dezembro, no Goethe Institut. Sessões às 15h e às 19h30A entrada é gratuita, e os ingressos podem ser retirados no Sympla, ou 1 hora antes , na bilheteria do local.Para mais informações, aqui seguem as redes oficiais do projeto: Instagram: @projetogretel – https://www.instagram.com/projetogretel/Site: https://espetaculogretel.wordpress.com/

Ed Mort no 3º Festive

O grupo de teatro para crianças da Comuna do Arvoredo organizado pela Yeshe Cultural, com apoio do Coletivo Catarse / Ponto de Cultura Ventre Livre participou do 3º Festive – Festival Estadual de Teatro Estudantil de Viamão com o espetáculo Ed Mort, com direção de Andressa Corrêa. O espetáculo que já havia sido apresentado no Museu do Trabalho em dezembro de 2023, retornou com força e um elenco renovado de crianças artistas, com muita energia e vontade de ocupar os palcos da vida. Na plateia crianças e funcionários da escola se divertiram com o texto e atuações. Após a apresentação, o grupo teve a oportunidade de receber um retorno dos jurados do festival. “Participar de um festival que propicia esta troca com outros artistas e técnicos da área das artes cênicas é uma grande oportunidade de crescimento e ampliação do trabalho. Neste caso, para as crianças que estão no início de uma caminhada no teatro, ouvir de outros profissionais considerações sobre o que realizaram em cena, empresta dignidade e respeito ao feito e, mesmo que não venham atuar profissionalmente num futuro, é uma experiência que fica marcada para a vida”. Têmis Nicolaidis – videomaker e sonoplasta do espetáculo. Sobre o Festive O FESTIVE é organizado pelo Grupo Teatral Leva Eu (@grupoteatrallevaeu) desde 2019 e tem como objetivo propor intercâmbio artístico entre os estudantes de artes cênicas do ensino básico do RS, bem como fomentar a cultura local. Neste ano, as apresentações aconteceram no Colégio Stella Maris, em Viamão/RS e teve o apoio do IACEN RS (@ieacenrs), Prefeitura de Viamão (@prefeituraviamao) e Colégio Stella Maris (@stellamaris.icm).

Eu posso ser atriz aos 81 anos!

Sim, você pode. A frase-título, aqui, foi proferida em tom de espanto, de descoberta. A mãe de um coreógrafo, de quem vive da arte, dos palcos, ao perceber outras mulheres (50+) expressando em palco as suas vidas, que permaneciam por trás das coxias dos seus seres, se entusiasmou e finalmente… despertou! Na sexta-feira, 11 de outubro, o Maria Maria Espaço Cultural, Ponto de Cultura e Saúde Ventre Livre, na Comuna do Arvoredo, recebeu excertos de uma parte de um projeto que chacoalha corpos e sensações – “…Foi então que, brincando comigo mesma, descobri o prazer. E, a partir de então, quando encontrava alguém que mexia comigo, já sabia o que dizer e fazer, sentir e dar prazer. Foi assim que me apresentei a mim mesma. Quando me entendi, já me sabia”. Assim se destaca Corpo Labareda, que teve sua primeira intervenção em rua, em teatro de chão, em espaço de porta aberta – como deveria ser a expressão das almas dessas mulheres que expõem em cenas e roteirizam em palimpsestos suas realidades. Com direção de Jacqueline Pinzon, textos originais orientados por Ana dos Santos e produção de La Lola Produtora/Lorena Sanchez, deve cumprir apresentações mais completas em outros espaços da cidade (acompanhe, clique aqui para mais imagens e maiores informações!) ainda em outubro. Também é parte do projeto Língua Lâmina – A Palavra Descentralizada, de artes integradas, com o apoio do Edital 11/2023 SMCEC/FUMPROARTE – Concurso de Projetos de Produção Artística.

A instalação Faces de Eva toma forma no salão da Comuna do Arvoredo

A montagem Faces de Eva, uma co-produção TMA e Ponto de Cultura Ventre Livre/Coletivo Catarse, com o apoio da Comuna do Arvoredo, atravessa seus 05 meses de processo. Embora seja um trabalho independente, ganha fôlego e estrutura a cada semana de ensaio. Na direção do TMA, Raul Voges dirige esta instalação e também atua. O trabalho conta com um elenco experiente de 7 artistas que interpretam, cantam e dançam, dando corpo a essa instalação de teatro musical livremente inspirada em situações de vida de Evita Perón. Mais que isso, trata de consciência política e relações sociais e reflete sobre a contemporaneidade utilizando como mote o legado de Evita. Uma montagem dessas só é possível pela dedicação e investimento dos próprios artistas, além de apoios importantes como o do próprio Ponto de Cultura, que co-produz o trabalho, e da Comuna do Arvoredo que mantém um espaço multiuso para oficinas e ensaios, além de ser o espaço íntimo de convivência de uma das casas do complexo comunitário. O trabalho está para estrear ainda em 2024.

Como cozinhar um espetáculo?

Porção: Residência Era uma vez, em um vale mágico chamado do Arvoredo, um grupo de artistas que se reuniu para cozinhar um espetáculo chamado Gretel. Neste refúgio havia uma cozinha cheia de ingredientes frescos. Uma cozinha onde todos podem se apropriar de seus utensílios, e ir experimentando, misturando, sentindo os aromas, testando as texturas… Cozinhar uma torta recheada de tentativa e erro, de ajustes sutis, como se fosse adoçada com pitadas de sal. Durante a residência artística do Projeto Gretel, esse espaço aconchegante nos permitiu o necessário isolamento do cotidiano. Cuidadosamente planejado para a troca de saberes, o lugar e suas pessoas – e que pessoas – nos deram estrutura e liberdade para expandir. Foram 06 dias de trocas intensas: corpo, mente, alimento e alma alinhados.Em meio à mata nativa e embalados pelo som de uma cascata, encontramos o ambiente perfeito para aprofundar nosso processo criativo. Eu particularmente me senti acolhida pelo entorno e pela generosidade dos meus colegas, o que me permitiu mergulhar em todas as camadas da criação cênica. Da construção corporal à composição das nuances dramáticas, a natureza ao redor parecia sussurrar segredos que moldavam cada detalhe da obra. Música, luz, movimento – cada cena foi como escolher a fruta mais madura, descascar com cuidado e revelar o sabor único de cada mordida… “Só um pedacinho…”.Estar imersa no processo cênico, foi fundamental. Desde alongamentos e experimentações físicas com a linda Carol Garcia, mulher de uma generosidade tão grande que não consigo mensurar, até discussões sobre a estética e a narrativa da peça. E assim como na manufatura de um bom pão, o tempo de cozimento é essencial – as ideias precisam maturar, e os recheios devem encorpar com cuidado. Nesta fase ainda criativa, o espetáculo é como uma torta de frutas que por enquanto precisa de combinações e acertos: testamos sabores, experimentamos novos ingredientes, reformulamos ideias. O conto dos Irmãos Grimm serve como inspiração, mas estamos fermentando algo bem original, que vai além das páginas de um livro. Como cereja do bolo, no último ensaio geral, tivemos o privilégio de ouvirmos devolutivas de mestres do teatro de animação, artistas cujas opiniões e vivências internacionais adicionarão temperos a serem experimentados na nossa sequência de criação, certamente. Esses diálogos enriquecem o processo de uma forma que nem o melhor dos livros de receitas poderia prever. Em resumo, a criatividade flui, o meu conhecimento como artista, fermenta! E ainda continuará a crescer. Sigo em cozimento… Sinto que o Projeto Gretel está se tornando algo realmente especial, um espetáculo que vai trazer reflexões profundas, surgindo como essa torta perfeita; mal posso esperar para dividir um pedaço dela com o mundo. Gratidão a todos os envolvidos e envolvidas. Lorena SanchezAtriz e produtoraProjeto Gretel.09/09/2024

Gretel: Uma Celebração do Bem Viver e da Astúcia Feminina

Inspirado no conto “A Esperta Gretel” dos irmãos Grimm, o espetáculo Gretel traz à cena uma homenagem à sagacidade feminina. Tanto no conto original quanto nesta adaptação teatral, Gretel é uma cozinheira astuta encarregada de preparar um jantar especial para o convidado de honra de seu patrão. No entanto, com o atraso dos comensais, ela se vê obrigada a tomar decisões inesperadas e divertidas. É sua vivacidade que age como uma espécie de “fada” ou “fatum”, alterando o seu destino de maneira surpreendente. A personagem de Gretel é contemporânea e emblemática, uma verdadeira “vivedeira” – termo que se refere a pessoas que, em situações difíceis, sabem resolver e aprender com as adversidades. Com sua autoestima elevada e presença de espírito, Gretel transforma tudo ao seu redor, subvertendo as relações de poder e autoridade. No espetáculo, a cozinha não é vista como um lugar de submissão, mas como um espaço onde a mulher cria, transforma e recria o mundo. Assim como no conto original, Gretel transforma a mesa em um lugar de celebração e desobediência aos cânones patriarcais, refazendo o mundo à sua maneira. O espetáculo Gretel propõe uma abordagem ousada ao unir tradições e inovações contemporâneas. A partir do uso de poéticas híbridas, combina elementos “arcaicos” como o conto de fadas e as técnicas milenares do Teatro de Animação com recursos tecnológicos avançados, via projeções audiovisuais interativas. Esta mistura permite um trânsito sutil e colaborativo entre o passado, presente e futuro, proporcionando uma experiência envolvente, promovendo um alargamento do horizonte do olhar do espectador, trazendo novos significados a um conto de fadas tão tradicional. A técnica do objeto animado é central no espetáculo, onde objetos e bonecos atuam como extensões do trabalho do ator, ampliando a interação entre o inanimado e o humano. EquipeO Coletivo Catarse desempenha um papel fundamental no espetáculo Gretel, trazendo uma rica contribuição artística através de seus cooperados. Billy Valdez, com sua expertise em audiovisual, é responsável por dar vida às projeções e elementos multimídia que ampliam e transformam a cena. Marcelo Cougo, músico de destaque, compõe a trilha sonora original, que embala e intensifica a narrativa da personagem. Por fim, Lorena Sanchez, atriz integrante do coletivo, entrega uma performance envolvente no papel principal, contribuindo também para a construção criativa do espetáculo. Juntos, eles integram a equipe criativa, enriquecendo o espetáculo com suas habilidades distintas e colaborativas, somando-se a esta equipe José Renato Lopez na iluminação, Ismael Goulart nos efeitos e operação de sonoplastia, Anderson Gonçalves na construção de cenários e adereços.A assessoria de imprensa e social mídia fica por conta de Saia Rodada Comunicação.A direção Geral é de Leandro Silva. O projeto conta com a gestão e direção de Leandro Silva (Argonauta Assessoria Cultural) https://www.instagram.com/argonauta.cultural/E produção artística de LaLola Produtorahttps://www.instagram.com/lola_produtora/ Financiamento Para realizar um trabalho de qualidade com a complexidade técnica que Gretel exige, o projeto conta com o financiamento da Lei Paulo Gustavo RS, Edital de Concurso LPG 2023 – Criação Artística.