O movimento 15M – ou “os indignados”, como os chamaram a imprensa – começou com a ideia de organizar um grande protesto em todo o território espanhol em 15 de maio de 2011.
O objetivo, que na época talvez pudesse ser visto como ambicioso, pareceria retrospectivamente demasiado modesto: não apenas os protestos no dia marcado superaram as expectativas, como deram origem a um movimento multitudinário contra o custo social de uma crise financeira que está sendo paga por aqueles que não a provocaram e o déficit democrático de uma democracia representativa dominada pelos interesses de bancos e corporações.
Quase um ano depois do início do processo que levou ao 15M, este movimento segue vivo, com uma dinâmica complexa e aberta e incidência nas pautas mais variadas.
Durante o Conexões Globais 2.0, Javier Toret, do Democracia Real Ya (democraciarealya.es, @democraciareal), esteve no espaço do Coletivo Catarse e concedeu longa entrevista para Rodrigo Nunes, da revista Turbulence (turbulence.org.uk). Além de contar a história deste movimento, a entrevista busca desfazer mal-entendidos (como a ideia de que seriam inteiramente espontâneos e assembleários) e investigar mais a fundo o que o 15M pode nos ensinar sobre a política em rede e as maneiras como as atuais condições tecnológicas transformam o fazer político.
Parte 1
Toret conta como foi o processo de organização que levou ao 15 de maio de 2011 na Espanha e, contra a falsa impressão às vezes transmitida pela imprensa, descreve-o como “distribuído, sem líderes, mas não espontâneo”.
Fala-se do papel de iniciativas individuais e coletivas num movimento em rede como o 15M: ao mesmo tempo que uma pequena iniciativa pode ter seus efeitos ampliados pela tecnologia, sua eficácia depende da capacidade de funcionar como parte de uma inteligência coletiva em processo.
Toret conta o que passou depois que milhares de pessoas foram às ruas em 15 de maio: como começaram os acampamentos nas praças das cidades espanholas e o que veio depois deles.
A discussão em torno do risco que experiências como os acampamentos do 15M acabem se fechando demais sobre si mesmas e a necessidade do movimento manter-se conectado ao que passa a seu redor e com capacidade de agir coletivamente.
Nesta última parte, discute-se que forma poderia tomar algo como o 15M num país como o Brasil, onde as condições sociais, políticas e tecnológicas são distintas da Espanha.