Comunidade da Santa Terezinha protesta após morte do menino Gustavo

Gustavo Luiz da Silva Rosa, 6 anos, filho adotivo de Marta e Daniel e neto sanguíneo de Adenir Rosa, todos ex-moradores da antiga Comunidade da Chocolatão, removida do Centro de Porto Alegre para a Av. Protásio Alves, a 10 quilômetros de distância do local que ocupou por 25 anos.

As imagens do vídeo foram feitas por integrantes do GAJUP/SAJU – UFRGS e Acesso Cidadania e Direitos Humanos, que também assinam o relato a seguir:

 

O casal Marta e Daniel, que não se mudou para nova Chocolatão em razão dos problemas que esse novo loteamento apresenta no que diz respeito aos aparelhos públicos como escolas e postos de saúde, bem como em decorrência das dificuldades relativas à segurança, geração de renda e locomoção – o residencial se localiza no final da Av. Protásio Alves -, conquistou, após um longo processo judicial e administrativo, sua residência no loteamento Vila Santa Terezinha.

Na tarde de 07/02/2012, por volta das 19h30min, o pequeno Gustavo, que andava de bicicleta com amigos, foi atropelado por um ônibus da linha da empresa Conorte, que trafegava em alta velocidade pela av. Voluntários da Pátria, vindo a falecer, no meio da rua, em frente a sua nova residência.

A comunidade, comovida e indignada com a morte do pequeno Gustavo, relatou que o tempo da sinaleira era insuficiente para travessia segura dos pedestres.

Entendemos que não cabe culpar o menino ou a família pela tragédia, pois é comum as crianças da comunidade transitarem livremente pelos arredores do loteamento, assim como é saudável a qualquer criança aproveitar sua infância brincando na rua. Contudo, de acordo com o depoimento da própria comunidade, que testemunhou a violência do atropelamento, o acidente iria acontecer independentemente de ser uma criança ou um adulto, haja vista a velocidade em que se encontrava o veículo.

Aquela altura da rua Voluntários da Pátria já conta com histórico de atropelamentos de outros moradores, dentre os quais crianças, que residem em grande número na Santa Terezinha, e que são obrigadas a atravessar a rua diariamente quando vão à escola. O violento atropelamento e morte do menino Gustavo despertou a comunidade para uma manifestação popular que ocorreu na semana seguinte, no dia 10 de fevereiro, quando foram exigidas providências urgentes, dentre as quais: a implantação de redutores de velocidade, quebra molas e mais segurança nas sinaleiras e na faixa de segurança.

A sexta-feira do dia 10/02, às 17h, foi um dia marcado pela luta do povo, e como não poderia ser diferente quando se trata de insurgência popular, um ato pacífico por parte dos moradores da Santa Terezinha acabou por sofrer interferência da Brigada Militar, com chamamento da tropa de choque e conseguinte agressão aos moradores pobres que estavam, legitimamente, reivindicando segurança no trânsito. Quanto à abordagem dos representantes do Estado, cumpre ressaltar um fato em específico que chocou a todos(as) que acompanhavam o protesto: uma moradora, já de idade avançada, foi brutalmente derrubada e arrastada pela polícia, e como se não bastasse a humilhação e o sofrimento, nenhum outro morador pode ousar defendê-la, pois o colega da Brigada apontava injustificadamente uma arma de Calibre 12 engatilhada, ao mesmo tempo em que afirmava: “não toquem no carrinho, ninguém toca no carrinho”.

Após a comunidade resistir bravamente às brutalidades da policia, foi desenhada uma borboleta em homenagem ao falecido Gustavo Luiz Silva Rosa, e combinada com os representantes da EPTC uma reunião para a segunda feira seguinte, dia 13/02.

No final da tarde, chegaram, em solidariedade ao menino Gustavo, ciclistas de Porto Alegre em passeata, levavam uma pequena bicicleta branca, símbolo de acidentes com ciclistas como vítimas fatais. Nesse momento uma diferença pode ser claramente percebida, a Brigada Militar não usou de violência contra àquele grupo, que igualmente trancava a rua e o trânsito, mas que, todavia, está mais próximo das elites da cidade que a comunidade carente a qual o pequeno Gustavo pertencia. De fato, isso só corrobora com a ideia de que a ditadura velada que vivenciamos atualmente é expressa pelo Estado quando ele precisa lidar com as manifestações do seu povo, aquele que é humilde e pobre e também maioria no nosso país.

Na EPTC, reunidos com Sr. Carlos, Diretor de Trânsito, e o Sr. Rodrigo, Chefe de Operação da região, integrantes da Comunidade, ciclistas de Porto Alegre, do GAJUP/SAJU-UFRGS e da Acesso Cidadania e Direitos Humanos, fizeram solicitações a EPTC que se comprometeu a tomar as seguintes providências: aumentar o tempo da sinaleira para, no mínimo, 20 segundos, revitalizar os sinais de trânsito, instalar lombada eletrônica e semáforo nas proximidades da escola.

O povo unido espera pelo cumprimento dessas promessas, com devida urgência de sua segurança e vida das pessoas, na esperança de que nenhum outro futuro precise ser tão precocemente interrompido para que o Estado volte seus olhos para as suas omissões.

Assista também os vídeos que os ciclistas de Porto Alegre fizeram na homenagem a Gustavo acessando aqui e aqui.

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