O famoso “soco no estômago”.
Para homens brancos em constante procura de sua identidade, sua história, se aberto às reflexões, o soco expõe as víceras.
Foi assim que desenvolvi meus sentimentos ao assistir a “WOYZECK, PRETO-POÉTICO-POLÍTICO”.
Descendente de alemães, portugueses… a peça era para mim. “Nós, europeus,” somos expostos de uma maneira maravilhosa – mesmo que eu não me considere isso – sou brasileiro! -, mas sou literalmente enquadrado, com muita razão, inclusive.
É uma obra de narrativa que expõe a construção de uma parte bem significante do racismo estrutural que se vive hoje – centenas de anos depois. O positivismo de Augusto Comte, importado pelo republicanismo e que deu ares ufânicos ao gauchismo “histórico”, tradicional, está ali. A teoria do embranquecimento da população… Está ali! E… Você sabia que isso existiu?! (Detalhe: eu não conheço Woyzeck, não precisa conhecer Woyzeck, a história é a nossa).
Um texto de autor levado ao palco, com a fibra de seus executores à mostra. Cenário minimalista, mas que se enche de luzes e sombras bem apresentadas. De atuações que precisam se destacar – e se destacam. A peça é uma obra que merece arenas lotadas – e as lágrimas que derrubei.
Sempre é muito difícil trabalhar com as saídas da estória para a história, a quebra da chamada 4ª parede, o determinante que torna, na frente da plateia, o personagem em pessoa – e eles fazem isso muito bem! Como parte que se enquadra em toda uma narrativa adaptada ao nosso tempo/lugar.
Meu subjetivismo branco, pequeno-burguês, estava contemplado no seu cutuco, que constantemente procuro manter.

Mas é uma peça nova, uma obra em desenvolvimento – e isso também é lindo de enxergar. Quem consegue observar o espaço de evolução que existe ali, curte mais ainda a produção. Um trabalho de alma das atuações de Yannikson, Mayura Matos, Eduardo Arruda, Rita Réus, Felipe Fiorenza, Sílvia Duarte, Alexander Kleine e Anderson Gonçalves, da encenação de Eduardo Arruda e Mayura Matos, e da produção de Dirce Maria Orth, de Ponto de Cultura, proveniente de pequeno município, mas de grande visão. (ficha técnica completa ali abaixo)

Meu racionalismo artístico quer ver a obra de novo, com 30 minutos a menos, com os personagens em dinâmicas mais afinadas de entradas e saídas e com o som de suas vozes não destacados para baixo do áudio mecânico, produzido – “pausa para o momento homem branco crítico de arte aqui”, meu lugar de fala.

Mas quer saber?! Vale a pena já do jeito que está! Eu não sou referência de nada, a não ser da satisfação de meu próprio ego…

Parabéns aos envolvidos. E sigam!

Ficha Técnica
Dramaturgia: Georg Büchner
Adaptação dramatúrgica: Eduardo Arruda
Encenação: Eduardo Arruda e Mayura Matos
Elenco: Yannikson, Mayura Matos, Eduardo Arruda, Rita Réus, Felipe Fiorenza, Sílvia Duarte, Alexander Kleine e Anderson Gonçalves
Direção musical / trilha sonora original: Felipe Fiorenza
Figurinos: Carmem Arruda e Eduardo Arruda
Confecção de figurinos: Carmem Arruda, Rita Oliveira e Eduardo Arruda
Cenografia: Eduardo Arruda
Interpretação / teclado da trilha sonora: Adriano Kleemann
Gravação e edição musical da trilha sonora: Marcello Mello
Criação de luz: Leandro Gass
Operação de luz: Leandro Gass e Haik Khatchirian
Operação de som: Aterna Pessoa
Edição musical e efeitos sonoros: Alexander Kleine
Maquiagem: Coadjuvantes
Composição original música “Voz ancestral”: Grupo Afroentes
Edição da música “Voz ancestral”: Mayura Matos
Construção do intonarumori: Silvio Germano Westerhofer
Composição original da música “Violinos em delírio”: João Batista Schmidt
Texto “Ária Yannikson”: Yannikson
Texto “Ária Mayura”: Mayura Matos
Voz da performance: Clélio Cardoso
Mídias sociais: Kelvin Prudêncio e Yannikson
Fotografia: Dani Reis
Material gráfico: Eduardo Arruda
Produção: Dirce Maria Orth, Eduardo Arruda e Yannikson
Agradecimentos: Goethe-Institut Porto Alegre, CCBB, Fora da Asa – Experiências Plurais
Co-realização: Goethe-Institut Porto Alegre
Realização: Coadjuvantes

Aqui o release da peça:

TEMPORADA DE ESTREIA 🎭

Semana de estreia de Woyzeck: preto – poético – político!

Trabalho de estudo e pesquisa do grupo Coadjuvantes nos últimos anos, o espetáculo terá suas primeiras apresentações no teatro do @goetheinstitut_portoalegre! Os ingressos já estão disponíveis pelo link (https://bit.ly/woyzeck-preto-poetico-politico) e também podem ser adquiridos com os integrantes do elenco. Reserve a data e garanta já o seu!

SINOPSE:
O espetáculo “Woyzeck: preto – poético – político” é uma criação contemporânea que traz, em sua temática principal, a história de Woyzeck: um homem preto submetido a diversas experimentações científicas, sociais e comportamentais. Questionador de sua natureza enquanto indivíduo e ser repleto de subjetividades, é ao lado de Marie que Woyzeck vai descobrir os limites das atrocidades humanas, vivenciando, na própria pele, os resquícios de um sistema que é continuamente alimentado para não estar ao seu favor. Nesta história, personagens como o Capitão, o Médico, o Tamboreiro e a Beata surgem como imponentes símbolos de manutenção do racismo e dos privilégios da branquitude na nossa sociedade.

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