Adel Braga
Mesmo depois de ter feito aquilo dezenas de vezes, o carrasco ainda sentia-se desconfortável e triste. Sendo incapaz de eliminar seus sentimentos, ele teve que aprender a controlá-los. Para isso, ele dizia a si mesmo que não era ele quem matava. Considerava-se tão inocente quanto a lâmina – um feito de aço, o outro de carne, mas essencialmente iguais. O carrasco não mata, a lâmina não mata. Pensar que ela era sua cúmplice na inocência ajudava a tornar o trabalho mais simples, diminuindo seu desconforto.
Às vezes sentia que não era um bom profissional. Achava que não devia sentir nada pelos homens e mulheres que executava. Mas com o tempo acostumou-se consigo mesmo e descobriu que podia fazer seu trabalho com grande eficiência.
Aquele dia tudo aconteceu como sempre. As horas passaram em seu ritmo normal. Os sentimentos vieram de sua maneira costumeira, intensificando a medida em que a hora aproximava-se – não vieram nem mais nem menos intensos. Quando achou que era o momento, o carrasco soltou a corda que prendia a lâmina que, com a velocidade e frieza da luz do relâmpago, separou sua cabeça encapuzada de seu, agora inerte, corpo.