Primeiro episódio registra as condições de vida dos cortadores de cana e suas famílias, que chegam do Maranhão e de outras regiões miseráveis em Guariba – cidade que bóia no mar de cana do interior de São Paulo.
Das históricas relações desiguais da produção, pouca novidade se belisca por lá – permanecem as de sempre: para os cortadores muito esforço e baixo salário, num sistema vicioso de lucro por produtividade, em que quem roça mais também ajuda a entupir mais rápido os bolso do patrão – tudo dentro da lei.
No entanto, o facão da ânsia por grana anda é bem mais afiado, e seu corte botando sorriso na cara de muitos magnatas pelo mundo, dono de ações em bolsa, que não têm a mínima noção da vida que levam Antônios e Franciscos – os seus braços baratos. Aos poucos vai sumindo o rosto de usineiros, na invasão das marcas corporations – as coisa agora são de dimensões das commodities internacionais. Etanol para os carros ecológicos flex mamarem legal nos engarrafamentos metropolitanos da hora do rush. O mundo, dizem seus líderes e idealistas, vai substituir a etapa do petróleo-gozo-fóssil-da-Terra com o suor dos brasileiros. Só isso: money.
Segundo episódio da série Trabalhadores de canaviais, para o quadro Outro OLhar, da TV Brasil, registra denúncia de servidor do INSS da região de Jaboticabal, ao revelar que 30% dos cortadores pedem afastamento no final de cada safra e muitos deles, sem condições de trabalho, não recebem benefícios – a reportagem conversa com um deles: Adão Avelino de Jesus.
Uma boa parte do salário dos cortadores de cana é paga por produtividade. Quem corta pouco ganha mal e não consegue ser readmitido nas próximas safras. Essa pressão acaba levando muitos trabalhadores ao limite do esforço físico.
“Quanto pesa a vida do trabalhador, na balança do mercado?”, perguntávamos na matéria sobre os migrantes que gastam suas vidas nos dentes do canavial. Para os maridos de Maildes e Zenilda, o peso da cana não coube nessa vida. O que elas carregam, desde então, de tão grande é quase insuportável, desesperador.
É sobre as viúvas dos canaviais a terceira reportagem desta série para o quadro Outro Olhar, da TV Brasil:
O trabalhador submetido, explorado até o seu limite pelo patrão e a terra esgotada pela monocultura da cana estão nas três primeiras matérias da série Trabalhadores de Canaviais, que você pode assistir nas postagens anteriores.
A quarta e quinta reportagens que apresentamos agora (só a primeira foi ao ar na TV Brasil) são uma alternativa a este modelo que gera toda a riqueza para um grupo muito pequeno de pessoas, baseada na exploração do homem e da terra, no sofrimento de ambos.
O projeto Catende-Harmonia é um alento, uma esperança e um basta! No interior de Pernambuco, trabalhadores de uma usina que chegou a ser a maior da América Latina, decretaram sua falência, assumiram coletivamente a direção da empresa, transformaram em cooperativa e romperam com uma cultura de exploração do cortador de cana e da concentração de poder e recursos. São a própria revolução. Deram certo. São exemplo.
Catende é considerada uma das maiores experiências brasileiras em auto-gestão e economia solidária. Em terras de reforma agrária, diversificaram a lavoura, preocupados também com o meio ambiente, e melhoraram muito a qualidade de vida de mais de quatro mil famílias. Reinventaram suas próprias vidas, num processo de desenvolvimento humano (mas também econômico) profundo: