Ano passado, numa conversa do FestFotoPoa, falando sobre a realidade das comunidades populares, o fotógrafo Ripper disse que, hoje, tão revolucionário quanto fazer a denúncia da pobreza, do descaso e da violência, é mostrar a beleza que pulsa nesses lugares, da beleza das pessoas, da resistência da vida, apesar dos problemas e sofrimentos.
Diante da insensibilidade e da estupidez, do egoísmo e da morte (de muitas coisas importantes e bonitas), eu acredito a cada dia com mais sinceridade que luta e poesia estão tão ligadas quanto carne e pele. É impossível arrancar uma da outra, como condição para não terminar com a existência das duas.
Penso nisso agora assistindo ao trailer do filme Viajo porque preciso, volto porque te amo, que entrou em cartaz na última sexta-feira, me agarrando a poesia como quem luta pra manter as narinas abertas. Sobre ele, escrevem Karim Aïnouz e Marcelo Gomes, que o fizeram: Nascemos e fomos criados no litoral do nordeste do Brasil. Para nós dois, o Sertão sempre foi um lugar imaginado, recorrente nas conversas de família. Era o lugar onde nasceram nossos avós. Esse filme se origina na nossa curiosidade e fascinação por esse lugar.
Um lugar que conhecíamos muito bem, mas para o qual nunca havíamos ido. Escolhemos contar uma história em primeira pessoa, através de um personagem que fosse viajando e coletando imagens, sons, músicas; comentando suas impressões da paisagem meio-conhecida, meio-desconhecida. Um personagem que fosse encontrando gente, mas que também fosse descrevendo esse lugar e seus habitantes, fisicamente, factualmente.
Imaginamos um filme que pudesse produzir a sensação de estarmos ali, que pudesse retratar o encantamento e, ao mesmo tempo, o estranhamento de mergulhar naquele lugar. Era importante um filme à flor da pele, pessoal, artesanal, improvisado – como um álbum de família, como um filme “carta de amor”, “feito à mão”.
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