Maquiné está com sistema ecológico degradado

O Rio Maquiné apresenta dezenas de trechos comprometidos em sua qualidade ambiental, com leito assoreado e margens desprovidas de vegetação ciliar. Pela importância ecológica regional e social, o rio necessita de ações urgentes para reverter ou minimizar esse quadro.

Localizada entre a escarpa do Planalto [Serra do Mar] e o Oceano Atlântico, a bacia hidrográfica do Maquiné possui 422km2, com grande diferença de altitude entre a nascente e a foz, em torno de 800m, com média de volume de chuvas anuais em torno de 2.000 mm e uma capacidade expressiva de água transportada. Por isso, constrói extensas planícies de sedeimentos que são intensamente exploradas para o uso agrícola.

O projeto da ONG ANAMA de Recuperação de Áreas Degradadas, patrocinado pelo Programa Petrobras Ambiental, contratou a empresa Âmbar, que prepara o diagnóstico para intervir no rio. Na entrevista mais abaixo, a geóloga Adriane Venzon faz uma avaliação sobre as primeiras visitas de reconhecimento.

Partindo de uma visão sistêmica, onde água-solo-floresta-clima estão relacionados, estão sendo realizadas ações específicas em 25 pontos críticos do rio, num total de 2.500 metros de extensão: no ambiente de leito, onde há acúmulo de seixos e cascalhos, o excesso desse material será removido e utilizado para contenção dos desbarrancamentos e caso ainda haja excesso para calçamento de vias públicas. Nas margens dessas áreas, no ambiente de terra, será feito reflorestamento com espécies nativas encontradas na região. Todas essas ações estão sendo apresentadas à comunidade e são licenciadas pela Fundação Estadual de Proteção Ambiental (Fepam/RS), que colaborou desde a elaboração do projeto.


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Entrevista

Quais foram os trechos visitados?
Os seis trechos iniciais localizados na parte do rio que atravessa a área urbana, em direção à montante. São trechos importantes, que serão os primeiros a serem trabalhados.

Você poderia descrever a situação das áreas?
Me chamou atenção o assoreamento do rio, em especial dois trechos acima, onde o canal original está bastante desviado e já corre por dois caminhos. E a questão das margens que estão também bastante degradadas, o que facilita processos erosivos.

Que tipo de uso da terra pode ter levado a essa situação?
Ali é uma região muito conhecida pelo plantio de hortifrutigranjeiros e no decorrer dos anos foi feita uma ocupação das Áreas de Preservação Permanente do rio. Mas não foi somente o fator antrópico, ele se soma ao natural, que é o assoreamento da calha do rio, o que leva à alteração do comportamento hidrodinâmico do seu fluxo e faz com que ocorram erosões nas margens.

Que tipo de ações e intervenções o projeto prevê para a recuperação dessas áreas?
Estamos ainda fazendo um reconhecimento. Sabe-se que serão trabalhados 25 trechos, que já estão pré-selecionados, mas para serem executados dependem da concordância dos proprietários. Então, isso também depende da receptividade deles – pelas informações, tem sido boa, com planejamentos de 20, 30 metros de trechos onde vai ser permitida a recuperação da mata ciliar.
O desassoreamento será feito através da limpeza da calha do rio, com equipamentos apropriados, dentro dos critérios ambientais, para normalizar seu fluxo. Porque em vários trechos ele represa, o que provoca as cheias. No momento em que ele perde o fluxo e a velocidade, na incidência de chuvas de precipitação muito alta, fatalmente vai extravasar.

Depois dessa primeira etapa de reconhecimento, qual a próxima fase do projeto?
Parte técnica de levantamento específico para cada trecho. Fazer o diagnóstico e apresentar para a Fepam. E obter a licença de instalação que dará possibilidade de realizar a intervenção.

O que te chamou mais atenção até agora?
Foi a consciência dos proprietários do entorno do rio. Eles entendem que temos que tentar recuperá-lo, para evitar os efeitos das cheias que acabam por atingir direto aos que vivem na margem. Tem sido feito um trabalho, nesse sentido, muito positivo.

Depoimentos de agricultores atingidos pelo assoreamento:

José Ervino Jacob – da Linha Fagundes
Logo que eu vim morar aqui, há 30 anos, o canal do rio era aqui. Nos últimos dez anos é que se formou essa ilha, com as pedras se amontoando no meio do leito. Isso dividiu o rio em dois canais e arrombou a estrada que passa aqui ao lado. A prefeitura foi colocando essas pedras para as margens, mas abriu um canal muito pequeno, então, aterrou novamente. Essa árvore foi arrancada dos barrancos e parou aqui, mas essa é só um exemplo, porque o que desce de árvore quando dá enchente… E uma árvore do tamanho dessa, aqui nesse ponto, represa muito mais pedra.


Elton Bopsin – da Linha Cachoeira
Quando eu era pequenote, o rio tinha outra formação, com seus contornos bem marcados. Nos últimos 20 anos as pedras foram acumulando, alterando o curso e agredindo os barrancos, com a força da água cada vez mais forte. E ninguém sabe de qual maneira ele pode vir a ficar mais para a frente. O tempo é o resultado disso e se querem melhoria é preciso preservar as margens, mas a prioridade é a canalizacão do rio, aprofundando a calha e fazendo com que a água não escorra para fora do leito. Eu defendo isso como um primeiro passo, até que me provem o contrário. Reflorestar, hoje, vai
demorar para dar resultado e, nesse tempo, o rio pode comer mais um tanto de barranco.

Por Julia Aguiar e André de Oliveira
Fotos: Dilton de Castro / ANAMA

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