Pelotas, 18 de junho, manhã de todos os santos. Na Rua São Jorge, bairro Santa Teresinha, conversamos com Seu João. Ele, que hoje cedo perdeu o freio do seu caminhão velho (muito velho), saiu fora da estrada e quase se acidentou vindo pra cá. Na feira de pequenos agricultores, que procura vender alimentos sadios para a gente humilde da comunidade, encontramos na banca dele o único mogango, machucado. Ele mostra, acha que foi uma galinha quem aprontou a bicadas aquele pequeno estrago. Conta que essa hortaliça só vingou na terceira tentativa de plantio. Nas duas vezes anteriores ele perdeu a produção para o veneno que não colocou nas plantas.
Seu João, homem de pele branca, olhos azuis e mãos negras de terra tem dois hectares no bairro rural de Sanga Funda. Explica que o agrotóxico pulverizado nas grandes áreas de arroz vem pelo ar e queima sua lavoura. Sete pequenos agricultores que tiveram suas plantações perdidas entraram na Justiça para buscar a indenização. Em frente ao juiz, o latifundiário culpou a empresa que contratou pra fazer o serviço de afogar seu arrozal nos químicos. Mas disse não lembrar do nome dessa empresa. A ação não deu em nada. João desconfia que seja porque a Justiça é amiga do gerente de uma agência bancária local, envolvido com esse negócio de vender arroz envenenado à população.
Ele nunca tinha nos visto antes, e contava em tom de desabafo e denúncia como se soubesse que não poderíamos guardar esta informação conosco, como fazemos agora.
Dona Maria, que nos acolheu em sua casa e coração, ganhou de presente o mogango, uma espécie de abóbora que o Mestre Batista (marido dela) e também meu pai cresceram comendo por aquelas bandas do Sul.