O interesse do Governo do Estado do Rio Grande do Sul em publicar este anúncio de campanha pública no topo de página do nosso blog foi uma novidade para o Coletivo Catarse e, neste editorial, gostaríamos de dividir com os que acompanham nosso trabalho na internet a decisão em aceitá-lo, já que significa uma mudança na gestão dos recursos que administramos. Há seis anos e sete meses fundamos a Cooperativa. Este blog/site existe desde o começo. Nunca havíamos cobrado por publicidade. Não procuramos anunciantes, nem nunca fomos procurados. Nunca recebemos nenhum recurso que não fosse para remunerar o nosso trabalho. Somos trabalhadores livres, sem patrão, organizados numa instituição sem fins lucrativos. Trabalhamos para movimentos sociais, cooperativas e sindicatos de trabalhadores do campo e da cidade, coletivos de artistas, projetos sociais, universidades, TVs públicas, organizações não governamentais, pequenos empreendimentos solidários e, também, órgãos públicos em geral. Como militantes da comunicação, nos engajamos a serviço das causas pelas quais acreditamos. Mas não prestamos serviços para partidos políticos e governos. Recusamos todas as ofertas que nos chegaram. Também não aceitamos recursos de empresas privadas que estejam envolvidas com qualquer violação de direitos ou que pratiquem mercantilismo. Por outro lado, entendemos como legítimo acessar financiamento público para produzir algo de interesse social. Sempre se debate nos espaços que lutam pela democratização da comunicação que a publicidade governamental com dinheiro público financia em grande parte a mídia comercial. É com recursos públicos que a imprensa corporativa manipula contra o direito dos pobres e dos trabalhadores, usa seus veículos para reforçar a alienação, o consumismo e a dominação do capital. Todas as televisões e rádios no Brasil são concessões públicas e, quase sempre, estão na mão de empresários-políticos. Ainda são poucas na mão de trabalhadores, e menos ainda as geridas pelos movimentos sociais. A nossa política é o trabalho da Catarse. As organizações que apoiamos e as lutas que abraçamos são como nossas, daqueles que querem transformar o mundo num lugar justo de se viver, em que as pessoas tenham o mesmo valor e os mesmos direitos. Trabalhamos para as pessoas e ideias que acreditamos. Temos lado, e está nas reportagens, imagens, texto e emoções que usamos contra a alienação e a dominação de uns sobre os outros. Mesmo com essa mudança de rumos que o governo do Estado incia na área da publicidade oficial, ainda há muito o que avançar. Por exemplo: somente quatro agências de publicidade estão autorizadas a investir os R$ 159 milhões destinados pelo governo. É preciso existir controle social direto sobre essa verba. As regras de escolha, muitas vezes, são ditadas pelas agências, e é praxe que fiquem com 20% do que é cobrado por anúncio. Nós próximos dias, o governo Tarso lançará o Gabinete Digital e a Câmara de discussão, no Conselhão estadual, da necessidade de criação do Conselho de Comunicação. Se for no interesse de participação, é ótima oportunidade para a sociedade discutir os gastos e as concessões públicas. A própria secretária Vera Spolidoro adiantou, ao declarar em evento na Fabico hoje [23.05], que os empresários de mídia vão reclamar. Logo eles, que sabem tanto negociar.