FSM 2011 – Dacar – Depoimento libertário!

A equipe da Agência Carta Maior, na qual o Coletivo se integrou no FSM 2011, cruzou com Wedad Ekkerda’oui, ativista egípcia, diversas vezes durante esses dias e a apreensão dela por um desfecho positivo no Egito era enorme. Chegamos a colher um depoimento ontem, quando notícias anteciparam a queda de Mubarak. Mas com o discurso da noite do ditador, deixamos o material na gaveta. Hoje, após sabermos da notícia, procurava por ela na Festa de Encerramento. E a encontrei. Em outro depoimento dado à Carta Maior, mais longo, para a repórter Bia Barbosa, instantes antes da queda do ditador Mubarak, a tradutora egípcia afirmava que seu povo está unido de forma inédita, superando barreiras históricas de gênero e de religião. Antevendo o que estaria por vir, ela assegurava então que os protestos continuariam se necessário fosse.

Ninguém pode contra o povo que se levanta

Hoje, o povo venceu. Sempre pode. Viva o povo do Egito! Viva todo o povo do mundo! Aproveito para recordar esta história que Galeano conta em Memória do Fogo III – O século do vento. E que não se pode nunca esquecer: Cinco mulheres – O inimigo principal qual é? A ditadura militar? A burguesia boliviana? O Imperialismo? Não, companheiros. Eu quero dizer só isso: nosso inimigo principal é o medo. Temos medo por dentro. Só isso disse Domitila na mina de estanho de Catavo e então veio para La Paz, a capital da Bolívia, com outras quatro mulheres e uma vintena de filhos. No Natal começaram a greve de fome. Ninguém acreditou nelas. Vários acharam que esta piada era boa: – Quer dizer que cinco mulheres vão derrubar a ditadura? O sacerdote Luis Espinal é o primeiro a se somar. Num minuto já são mil e quinhentos os que passam fome na Bolívia inteira, de propósito. As cinco mulheres, acostumadas à fome desde que nasceram, chamam a água de franco ou peru, de costeleta o sal, e o riso as alimenta. Multiplicam-se enquanto isso os grevistas de fome, três mil, dez mil, até que são incontáveis os bolivianos que deixam de comer e deixam de trabalhar e vinte e três dias depois do começo da greve de fome o povo se rebela e invade as ruas e já não há como parar isso. Em 1978, as cinco mulheres derrubam a ditadura militar. Foto: Reuters

FSM 2011 – Dacar – Manifestação contra Mubarak

No último dia de atividades do Fórum Social Mundial, nesta sexta-feira (11), cerca de 150 ativistas de diversos países realizaram um protesto em frente a Embaixada do Egito em Dacar. A manifestação foi pacífica. Os ativistas pediram a queda do regime do presidente Hosni Mubarak, que, em discurso à nação na noite de quinta-feira (10), ainda resistia a renunciar. Talvez, tenhamos participado do último ato internacional contra o ditador do Egito. Mudanças de rumos. Viva o povo egípcio! Enquanto trabalhávamos na edição deste vídeo aí abaixo, o povo do Egito dava seus primeiros gritos de libertação. A revolução se faz em instantes, mas a luta de um povo é um processo que pode levar seus 30 anos. Acabo de voltar da Festa de encerramento do FSM 2011 e a alegria dos egípcios ali era imensa.

Sobre Viúvas, performance da Tribo

Ontem, me conta Daniel – filho de Edgar e Sandra, dois atuadores do Ói Nóis Aqui Traveiz -, uma mulher chegou ao meio dia para garantir a entrada que é distribuída às sete da tarde. Reclamou que a fila parecia com a do SUS. Quando a performance sobre a ausência lhe deixou presente uma América Latina viúva de muitos homens assassinados por ditaduras, ela pediu desculpas, abraçou o rapaz. É sempre assim, ele diz: “no final da peça nos perdoam” (pelas longas horas na fila). Na estreia, mais de 200 pessoas quiseram conhecer as viúvas, mas menos de 50 podem por cada noite. Houve confusão, e uma funcionária da Usina do Gasômetro chamou a polícia. Uma experiência em teatro de vivência. Em Viúvas – Performance sobre a Ausência, trabalho em andamento. Onde está você, que não se pode esquecer?Agora, são cinco sentados na grama, como se esperassem em música: a mente aberta, a espinha ereta e o coração tranqüilo. Mas já as rodas giram e o sol que bate no vidro gasto do ônibus da Monumental Turismo inquieta, joga seus pedaços de luz no rosto dos que espiam. Margeamos o Guaíba e a poesia nos mira com suas claridades e sombras. Trapiche. Chegada. No meio do rio, a proa aponta para duas enormes chaminés de uma indústria na outra margem. Dobramos à esquerda. Por trás das nuvens, o céu em lilás já está quase morto no horizonte, de onde a noite vem trazendo o passado. No convés, um passageiro do tempo se levanta, olha para suas lembranças na direção das águas. Quando volta o rosto, já é o personagem que todos escutam: “Foi quando eu estava exilado, foi então que me ocorreu. Eu não conseguia dormir à noite…” “Será preciso nomear esta pátria?” (da angústia, da injustiça), ele põe a pergunta sobre nossas cabeças. Em silêncio, achamos que não. Qualquer carne, qualquer espírito em qualquer geografia latina pode alcançar esta dor. Esta dor que vem de novo, agora. Com a mão em minha barriga o homem de terno preto e óculos escuro me para. Depois, ordena: “Atravesse a passarela e coloque-se em terra firme”. Na entrada da ilha, outros iguais a ele nos esperam com matracas atravessadas sobre o peito. Iguais, talvez, as que foram usadas para transformar pais, maridos e filhos em horror e cadáveres. Penso no poder do aço dos que governam atravessando a resistência dos que sonham a liberdade. Na pedra iluminada, junto ao rio, uma mulher canta em uma língua estranha. Mas a melodia eu entendo, conversa comigo. Ela avisa: “Temos esperado, todas as mulheres. Há muito que estamos esperando.” Um outro atuador passa em revista aos que desembarcaram, encara, bem de perto. Alguns minutos para sentir o lugar. Logo, o peso das botas em marcha sobre a laje assusta outras viúvas, desesperadamente coloridas, enlouquecidamente solitárias e tristes. Este novo e velho ditador tem palavras para ludibriar: “Na memória de alguns a guerra continua. Se formos capazes de esquecer o passado, as feridas vão cicatrizando. Democracia, uma nova terra para um povo novo…” Mas viemos aqui para não esquecer, todos. “Os desaparecidos políticos são fantasmas que voltam sempre. Querem lembrar que não podem ser esquecidos”, está escrito no material de divulgação da performance. A Tribo um canal para que eles nos encontrem, nos falem. Então, aquela mulher de antes já carrega suas cadeiras vazias sobre as costas. No meio da escada, me olha nos olhos, nos seguramos os dois, um dentro dos olhos do outro. “Ali, onde o rio pensa numa direção e depois muda de opinião, foi ali que eles morreram.” Estamos nas ruínas do que foi um presídio. Nas celas, os presos são as mulheres socando pilões. Ela sua, todo o rosto, toda a alma, e bate contra o milho que jorra. É Alexandra. Desta vez desviei o olhar, fui para as inscrições na parede: “Pirata 14.05.82”, esteve ali. “Eu chorava e minha mãe não escutava” – foi gravada quando, por quem? O presídio foi desativado apenas em 1983. Vem de novo a mulher, a da pedra e da escada, a que conduz a dor, a revolta e o choro. Sophia. A que põe a mão em meu peito, enquanto conta. Que um pai vira fumaça preta, fumaça e cinzas. Onde está teu marido, Alexandra? Onde está Emiliano? Onde está Miguel? Onde estão todos? Os nomes vão sendo chorados, gritados pra fora com saliva. Chove milho sobre a agonia da viúva. De joelhos, ela recolhe grãos sobre os pés dos que assistem mudos, mudados. Em pé, abraça a gente que veio lhe ver, neste funeral sem corpo. Sarah, a fotógrafa que muitas vezes esqueceu a câmera pendurada no pescoço pra viver as emoções da peça, me diria depois que aquelas mulheres eram como os presos puídos, triturados ali como milho no pilão. Enlouquecidamente solitárias e tristes. Menos na festa. A festa aconteceu anos antes e está sendo recordada agora. Nós entramos dentro das lembranças, e interagimos com elas. Outra época, outra atuadora, então uma jovem sorridente me leva pela mão até o baile. Bebo vinho, ao som da gaita e do cajón. Meus olhos dançam na roda, giram, bato palmas. Às vezes, o rio me acorda. Um mosquito zune em meu ouvido. Sob o céu, à noite, entre escombros, envolvido em águas. Na festa, converso com um camponês. Ele me diz que a produção no campo está aumentando porque muitos são os que abandonam os latifúndios e se juntam aos que tem os dedos de terra, os que trabalham em coletivo, sem patrões, os que constroem o destino, e que agora dançam em minha frente. “Ao nosso redor existem aldeias, aldeias dos vivos, aldeias dos mortos”, a anciã ensina ao mais moço. É a nossa história. Para enxergá-la, vemos os corpos nus, descobertos, amontoados, imóveis. Dois personagens falam, mas não os ouço mais. Quando voltam os ouvidos para o corpo, só escuto o motor do barco. Estamos outra vez no convés, e desta vez engolidos pelo escuro, quando os fogos são acessos na …

FSM 2011 – Dacar – Boaventura defende ações coordenadas para implodir o sistema

A pergunta colocada nesta quarta-feira (9) pelo sociólogo português Boaventura de Sousa Santos aos ativistas do FSM foi: como produzir muitos Cairos ao mesmo tempo a ponto de mudar o sistema? “Nosso desafio é criar protestos sociais simultâneos e sincronizados em todo o mundo, com diferentes agendas políticas, mas convergentes na crítica aos Estados não legítimos. O que é novo no Cairo é que, ali, a partir da troca de informações, conseguiu-se uma sinergia na ação do ponto de vista nacional. Mas ainda não conseguirmos promover ações globais para desestabilizar o capitalismo”, disse. Veja a íntegra da fala de Boaventura no FSM 2011-Dacar.

FSM 2011 – Dacar – Fatimatou Djibo, da Via Campesina

Entrevista com a agricultora Fatimatou Djibo, do Níger, uma da líderes da delegação da Via Campesina no Senegal, que informa sobre a campanha contra a violência às mulheres, que o movimento reforçou este ano aqui em Dacar; também explica as ações dos campesinos contra as sementes transgênicas e critica a alta dos preços dos alimentos em nivel mundial.

Merenda escolar sustentável

O vídeo que o Coletivo Catarse produziu para a ong ANAMA, sobre a merenda escolar no município de Maquiné, foi ao ar no telejornal da TV Brasil, na segunda passada, dia 07. Uma postagem com a versão completa da reportagem foi publicada aqui em dezembro. Esta, a versão que foi ao ar na TV: Você também pode assistir o vídeo direto na página da TV Brasil ou no site do Overmundo.

FSM 2011 – Dacar – Lula da Silva

O ex-presidente do Brasil falou da importância do apoio à soberania africana, durante o FSM de Dacar, e cobrou das grandes potências para que haja um diálogo internacional de rearranjo de poder nas esferas de decisões políticas e econômicas multilaterais. Sobre o Egito: “Água mole em pedra dura, tanto bate até que fura”.

Debate sobre despejos na avenida Tronco nesta quarta

Moradores da Cruzeiro e Cristal debatem despejos da avenida Tronco nesta quarta-feira (9) A Associação dos Moradores da Divisa e Cristal e o Comitê Popular da Copa da Cruzeiro e Cristal realizam nesta quarta-feira, dia 9 de fevereiro, às 19h, uma Assembleia Popular dos Moradores da Cruzeiro e Cristal. A reunião será na Igreja Santa Teresa (Rua Comandaí, 90 Cristal). O objetivo é debater os despejos previstos para a ampliação da Avenida Tronco. Segundo o presidente da Associação dos Moradores da Vila Cristal, José Renato Maia, os moradores estão muito preocupados com a falta de informação. “Não sabemos quando começam as obras, quem será mesmo atingido, para onde serão removidas as famílias. Queremos ter o direito de discutir o nosso futuro. Defendemos a realização da Copa, mas com respeito aos direitos da população”, ressaltou.