Movimento pró-veto avalia Assembleia

por Afropress Lideranças do Movimento Pró-Veto ao Estatuto da Igualdade Racial, aprovado pelo Senado, como parte de um acordo da SEPPIR com o senador Demóstenes Torres, do Partido Democratas (DEM), avaliam que a Assembléia Negra e Quilombola realizada em Brasília na última quarta-feira (30/06) foi um primeiro passo de uma luta de resistência das comunidades remanescentes de quilombos e em defesa da rejeição do Estatuto que consideram “um retrocesso” para a população negra. Segundo o advogado, Onir Araújo, militante do MNU no Rio Grande do Sul e advogado do Quilombo dos Silva, o primeiro Quilombo urbano do Brasil, a ter suas terras regularizadas, em Porto Alegre, “o balanço é extremamente favorável”. Ele enfatizou ter sido essa “a primeira vez depois de muitos anos que ativistas do Movimento Negro e Quilombola foram à Brasília para um protesto às suas próprias custas e não com passagens bancadas pelo Governo”. Onir disse que 150 lideranças, a maior parte das quais quilombolas e lideranças dos movimentos sociais como o MST e o Tribunal Popular, participaram da mobilização e da Assembléia para pedir ao Presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que vete o projeto do Estatuto da Igualdade Racial, aprovado pelo Senado. As entidades que convocaram a Assembléia e que tentaram um encontro com o presidente do Supremo Tribunal Federal, ministro Cesar Peluso, foram o Movimento Negro Unificado, o Coletivo de Entidades Negras (CEN), o Circulo Palmarino, a CONAQU, MST e a UNEAFRO/Brasil. Entre as lideranças presentes à manifestação estavam Milton Barbosa, Miltão, líder histórico do MNU, um dos fundadores do Movimento, em 1.978, Marcos Rezende, coordenador geral do Coletivo de Entidades Negras (CEN), e Douglas Belchior, do Conselho Geral da UNEAFRO/Brasil. Audiência No período da manhã, logo após a chegada à Brasília, eles protocolaram pedido de audiência ao presidente do Supremo Tribunal Federal. As entidades querem que – a exemplo do que aconteceu com as Cotas – o Supremo também promova Audiências Públicas antes do julgamento da ADI 3239, movida pelo Partido Democratas (DEM), que questiona o direito dos quilombolas às suas terras. Assembleia Na assembléia que aconteceu à tarde no Plenário Nereu Ramos da Câmara dos Deputados, as entidades, além de definirem a adesão a Frente Nacional em Defesa dos Territórios Quilombolas, aprovaram uma pauta propondo a resistência contra a ADI 3239, e a mobilização unificada visando o acompanhamento do julgamento, com a defesa da titulação e sustentabilidade dos territórios quilombolas. A Assembléia também decidiu pedir audiência ao Presidente Lula para dizer a ele que há forte rejeição ao Estatuto aprovado. O advogado Humberto Adami, Ouvidor da SEPPIR e o secretário de Comunidades Tradicionais, Alexandro Reis, por determinação do ministro Elói Ferreira, compareceram para fazer a defesa do texto aprovado. Ambos tiveram espaço para falar, porém, foram alertados de que, se tratava de uma Asembléia do Movimento Social, e que só falariam se permanecessem no plenário até o final da assembléia. Segundo Onir Araújo, ativistas presentes à Assembléia queixaram-se de que Adami e Reis “tem a reiterada prática de vir em atividades do Movimento Social, se manifestar e ir embora logo após a manifestação não permanecendo para ouvir”. Reis usou a palavra por 10 minutos e se retirou após a intervenção. Adami falou por 10, mesmo tendo a mesa dos trabalhos lhe concedido apenas três e fez a defesa do acordo com Demóstenes e do texto aprovado, enfatizando os “benefícios” do Estatuto para a população negra. Foi questionado sobre que “benefícios”, porém, manteve a defesa do Estatuto garantindo que se trata “de um avanço”. Afropress não conseguiu localizar nem Adami, nem Reis para falar da participação de ambos na Assembléia.

MPF cobra na justiça a atualização dos Índices de Produtividade

O Ministério Público Federal ajuizou Ação Civil Pública para obrigar o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA) a atualizar os índices de produtividade, a base para investigação de um dos elementos da função social da propriedade. Atualmente os índices que medem a produtividade das fazendas têm referência em dados da produção de 1975, portanto, não consideram todos os investimentos, pesquisas e desenvolvimento tecnológico, inviabilizando as desapropriações de áreas que produzem muito pouco. Os índices de produtividade são as principais referências utilizadas pelo INCRA em processos de investigação para avaliar se as propriedades cumprem a função social e, em não cumprindo estariam passíveis de desapropriação. Como esse parâmetro está desatualizado em mais de 30 anos, muitas terras que não cumprem a função social deixam de ser desapropriadas. Esse é um dos grandes obstáculos da reforma agrária, que segundo o Ministério Público “Quer se queira quer não, a reforma agrária é um claro objetivo da Carta Política de 1988”, afirma o documento. O MPF tinha um procedimento administrativo instaurado desde outubro de 2007 para investigar os motivos da falta de atualização dos índices. Em 2009 o Ministério do Desenvolvimento Agrário realizou estudos e, através de portaria, recomendou a atualização dos índices. Falta apenas o MAPA aprovar esses estudos para que a atualização seja feita. Na tentativa de realizar a atualização dos índices, sem ter que acionar o Poder Judiciário, o MPF obteve respostas insatisfatórias do MAPA, de que seriam necessários novos estudos para a atualização. Isso levou ao MPF a entender que “poderemos chegar ao absurdo de jamais implementar as atualizações disponíveis, uma vez que, sendo sempre baseadas em dados passados (de um, dois, três ou quatro anos atrás), em verdade, nenhuma atualização poderá se mostrar plenamente consentânea com a realidade do dia em que for publicada. Mas isto não pode, ao contrário do que imagina o Ministério da Agricultura, servir de lastro ao não cumprimento de uma obrigação legal.” Na petição, o MPF alega que foram “esgotadas, assim, todas as tentativas de solução administrativa do problema, e caracterizada a necessidade de atualização dos índices de produtividade, para melhor implementar o objetivo constitucional da reforma agrária, não resta outra alternativa ao MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL senão buscar a garantia da efetivação do comando constitucional perante o Poder Judiciário”. Na ação civil pública o MPF faz referência à representação da Terra de Direitos para a Procuradoria, ao ter destacado que a “ausência de atualização dos índices de produtividade dificulta a realização da política pública da reforma agrária, gerando o agravamento da violência e de conflitos no campo”. (Acesse aqui a integra da petição do MPF) Função Social da Propriedade A propriedade da terra deve atender a uma função social. Isso significa que o proprietário não pode explorá-la como bem entender, pois tem o dever de respeitar os quatro requisitos constitucionais que determinam o seu direito de proprietário: produzir de modo racional e adequado; respeitar ao meio ambiente e garantir a renovação dos recursos naturais; cumprir a legislação que regulamenta as relações de trabalho, e, finalmente, garantir o bem estar social daqueles que trabalham na terra. Quando o proprietário não dá destinação social à terra, causa um dano à sociedade. Por isso, nossa constituição pune com desapropriação quem não atenda a tais preceitos. Com a desapropriação, a terra passa a atender a função social quando destinada a agricultores, através da política pública de reforma agrária. Para o Relator do Direito à Terra, Território e Alimentação, da Plataforma Dhesca Brasil, Sérgio Sauer, “apesar de que o Executivo deveria utilizar os demais critérios para avaliar a função social das propriedades, a atualização do GUT (grau de utilização da terra)e do GEE(grau de eficiência econômica) está de acordo com o espírito constitucional e com os avanços tecnológicos. É inconcebível que o MAPA se recuse a cumprir um preceito constitucional e, contraditoriamente, ainda faça propaganda da eficiência produtiva do grande agronegócio. Junto com esta atualização, é fundamental que o Parlamento aprove a PEC do trabalho escravo, pois isto daria materialidade jurídica a mais um critério constitucional da função social da propriedade. Informações da ong Terra de Direitos. Fotos por Rafael Corrêa, na entrega do Assentamento Caiboaté, antiga Fazenda Southall, dezembro de 2008, São Gabriel/RS.

O olhar solidário das favelas

Os olhos doem, riem, sangram, brilham. Algumas vezes cansam de ver. Em outras, querem toda luz e todo o movimento. Dentro dos olhos cabe o mundo, mesmo que, às vezes, seja difícil segurar neles tanta imagem. Inventaram a máquina pra ajudar, congelar pessoas e lugares. Pelo visor entra o momento. Vai virar história, memória, denúncia, sentimento. Somos comunicadores populares, antes de sermos jornalistas. Nos interessa que a comunicação seja um instrumento de transformação social, ou pelo menos pessoal. O pouco que temos aprendido nesses anos com os olhos derramados sobre as lentes, os pés enfiados nas estradas e o coração junto das pessoas, procuramos compartilhar com os que têm fome de mudança. Nas oficinas de fotografia da Vila Dique e do Arroio Kruse, como diz a Thais, somos “facilitadores do olhar”. Fotógrafos com limites, por termos que dividir nosso tempo com uma dezena de outras atividades (todas interessantes, importantes e necessárias), e por conta mesmo da precariedade de nossas máquinas, procuramos incendiar nos olhos dos outros a sede das imagens e das histórias. Ainda, ajudar a ler e olhar de forma crítica para a grande mídia que só os olha de um jeito, que só os lê pelo filtro que lhes interessa: miséria, violência, ignorância. Como se fosse só isso. Como se sempre fosse isso. Como se não exista cor, sabor, amor, sorriso. Por isso, instigamos pensar as imagens, seu poder, seus objetivos. E fundar a nova auto-imagem real e possível. O OLHAR SOLIDÁRIO DAS FAVELAS A pobreza e a violência que caracterizam o retrato tradicional sobre as comunidades populares estão longe de dar conta da riqueza desses espaços. por João Roberto Ripper A Escola de Fotógrafos Populares, sua agência e o banco Imagens do Povo são experiências do Observatório de Favelas. A escola pretende formar jovens moradores de favelas cariocas no ofício da fotografia e abrir-lhes caminho no mercado de trabalho. Mais do que isso: a escola busca realizar um trabalho de registro das comunidades populares a partir do olhar dos próprios moradores, além de difundir outras possibilidades de percepção dos espaços, distinta do olhar tradicional, marcado por sensacionalismo, pobreza e violência. Para entendermos a importância desses projetos, que funcionam em conjunto com diversos outros do Observatório de Favelas, é importante pensarmos alguns conceitos. Entre eles, o de que os moradores das áreas populares vivem precariamente e são submetidos à dominação econômica e cultural das classes média e alta. Essa forma de exploração começou a se intensificar nos anos 1940, por ocasião do surgimento das primeiras favelas, e vem se exarcebando desde então. Uma de suas expressões é o conceito de “cidade partida”. De um lado, a cidade onde é formal e lógica a inclusão. De outro, a cidade da exclusão. A pobreza nas metrópoles, genericamente falando, não vem apenas dos salários baixos e dos empregos precários. A pobreza é resultante do reduzido acesso aos bens e serviços urbanos, tais como habitação, educação, saúde, segurança, entre outros. Falamos, portanto, de direitos à cidade que não foram respeitados e contemplados para todos os seus habitantes. Valorização da participação popular Segundo Diógenes Pinheiro, doutor em Ciências Sociais pela Unicamp (Universidade Estadual de Campinas) e professor no cursinho pré-vestibular popular dos Morros do Chapéu Mangueira e Babilônia, em Copacabana, o uso corrente e cada vez mais difundido do termo “cidadania” só pode ser compreendido se localizado na conjuntura política brasileira após o período autoritário, quando a tentativa de construção de uma sociedade democrática passava pela valorização da participação popular, pelo acesso e pela expansão do mundo dos direitos. “Atualmente, a permanência do termo cidadania em quase todos os projetos que se voltam para a compreensão das favelas indica, a nosso ver, duas dimensões complementares: de um lado, sua ausência visível, mesmo após quase 20 anos do restabelecimento da democracia no Brasil, mostrando que a democratização política e social seguiu a tradição brasileira de beneficiar prioritariamente a sua elite, incluindo aí as camadas médias, mas que não chegou às camadas populares. De outro lado, porém, essa ausência é cada vez mais tematizada, já que limita as liberdades básicas dessa elite, que se vê coagida pela presença envolvente das favelas e, principalmente, da violência, que hoje escapa dos limites das comunidades populares e chega ao asfalto.” Assim, nesses discursos, a cidadania aparece, ou reaparece, como algo a ser doado “por uma elite iluminista, que vai à favela com seus projetos emancipatórios prontos e não vê o morador de espaços populares como um parceiro social, mas sim como alguém a ser trazido para o mundo da civilização, da cidade e seus valores. Sendo assim, um projeto de cidadania que não reconhece nas estratégias e nos estilos de vida desenvolvidos nas favelas nada de positivo”, afirma. Existe uma desqualificação moral do outro, daquele que é diferente, no sentido de não repartir necessariamente os valores burgueses dominantes, traduzindo-se numa visão sobre os pobres em geral e os favelados em especial. Isso enfatiza dois lados: o da carência, onde são vistos como “coitadinhos”, logo inferiores; ou o “potencialmente criminoso”, que acha que o morador da favela tem mais tendência a ingressar no crime. De sua parte, o poder público se apresenta de forma diferenciada diante do cidadão morador das favelas e daquele que habita a “cidade formal”. A discriminação aparece até nos projetos urbanísticos, ecológicos e sociais. Não se limpam praças de favelas com o mesmo empenho que são limpas as praças da zona sul, e a polícia age de forma totalmente diferente nos bairros nobres e nas favelas. Há, na verdade, diversos graus de cidadania experimentados por quem ocupa posições assimétricas no território da cidade. Mas é importante destacar que, muitas vezes, a favela representa um projeto de cidade mais humano. Tomemos como exemplo a alta sociabilidade vista nas comunidades populares, onde quase todos os vizinhos se falam, onde há mais solidariedade nos momentos de dificuldade. Muitos economistas costumam se referir a essas comunidades como de “baixa renda”. Pergunto: por que insistir em defini-las sempre pelo negativo, pelo que não têm, por que não se referir …

Plebiscito popular contra o latifúndio no Brasil, em setembro

A CAMPANHA Criada em 2000 pelo Fórum Nacional pela Reforma Agrária e Justiça no Campo (FNRA), a Campanha pelo Limite da Propriedade da Terra: em defesa da reforma agrária e da soberania territorial e alimentar, é uma ação de conscientização e mobilização da sociedade brasileira para incluir na Constituição Federal um novo inciso que limite às propriedades rurais em 35 módulos fiscais. Áreas acima dos 35 módulos seriam automaticamente incorporadas ao patrimônio público. O módulo fiscal é uma referência, estabelecida pelo Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (INCRA), que define a área mínima suficiente para prover o sustento de uma família de trabalhadores e trabalhadoras rurais. Ele varia de região para região e é definido para cada município a partir da análise de várias regras, como por exemplo, a situação geográfica, qualidade do solo, o relevo e condições de acesso. A aprovação da emenda afetaria somente pouco mais que 50 mil proprietários de terras. A introdução desta medida resultaria numa disponibilidade imediata de mais de 200 milhões de hectares de terra para as famílias acampadas, sem despender recursos públicos para a indenização dos proprietários. Esses recursos são hoje gastos em processos desapropriatórios e que poderiam ser empregados no apoio à infra-estrutura, ao crédito subsidiado e à assistência técnica para os assentamentos. De acordo com os últimos dados levantados pelo Instituto Brasileiro de Geografia Estatística (IBGE) em 2006, no Brasil, 2,8% das propriedades rurais são latifúndios e ocupam mais da metade de extensão territorial agricultável do país (56,7%). Em contrapartida as pequenas propriedades representam 62,2% dos imóveis e ocupam apenas 7,9% da área total. Vale lembrar que mais de 70% dos alimentos produzidos para os brasileiros provém da agricultura camponesa, uma vez que a lógica econômica agrária tem como base a exportação, principalmente da soja, da cana-de-açúcar e do eucalipto. O Brasil tem a segunda maior concentração da propriedade fundiária do planeta. Diante da realidade do campo, vários segmentos sociais se mobilizam para conquistar seus direitos. O papel da Campanha é exigir a obrigação do Estado em garantir esse direito à propriedade da terra a todos os brasileiros e brasileiras que dela tiram seu sustento. Além disso, a Campanha também está engajada na luta contra o agronegócio e o hidronegócio no Brasil, que destroem o meio ambiente, a biodiversidade e desabrigam milhares de trabalhadores rurais, quilombolas, indígenas e comunidades ribeirinhas. ENTENDA A PARTIR DE ALGUNS NÚMEROS A pequena propriedade familiar, segundo dados do Censo Agropecuário do IBGE 2006: •Produz a maior parte dos alimentos da mesa dos brasileiros: toda a produção de hortaliças, 87% da mandioca, 70% do feijão, 46% do milho, 38% do café, 34% do arroz, 21% do trigo; 58% do leite, 59% dos suínos, 50% das aves; •Emprega 74,4% das pessoas ocupadas no campo (as empresas do agronegócio só empregam 25,6% do total); •A cada cem hectares ocupa 15 pessoas (as empresas do agronegócio ocupam 1,7 pessoas a cada cem hectares); •Os estabelecimentos com até 10 hectares apresentam os maiores ganhos por hectare, R$ 3.800,00. Enquanto a concentração de terras no latifúndio e grandes empresas: •Expulsa as famílias do campo, jogando-as nas favelas e áreas de risco das grandes cidades; •É responsável pelos conflitos e a violência no campo. Nos últimos 25 anos, conforme a Comissão Pastoral da Terra (CPT):◦1.546 trabalhadores foram assassinados e houve uma média anual de◦2.709 famílias expulsas de suas terras!◦13.815 famílias despejadas!◦422 pessoas presas!◦765 conflitos diretamente relacionados à luta pela terra!◦92.290 famílias envolvidas em conflitos por terra! •Lança mão de relações de trabalho análogas ao trabalho escravo. Em 25 anos, 2.438 ocorrências de trabalho escravo foram registradas, com 163 mil trabalhadores escravizados. Acesse o site da campanha clicando aqui. Participe e divulgue: •Abaixo assinado (3,5 mb, pdf)•Cartilha “Três histórias e uma terra” (7,32 mb, pdf)•Cartaz da Campanha (5,17 mb, pdf)•Jornal do Limite da Propriedade da Terra (10,2 mb, pdf)•Cartaz do Plebiscito Popular pelo Limite da Terra (236 kb, pdf)•Folder do Plebiscito Popular pelo Limite da Terra (2,36 mb, pdf)•Cartilha do Plebiscito Popular pelo Limite da Terra (228 kb, pdf)•Capa Cartilha do Plebiscito Popular pelo Limite da Terra (72 kb, pdf) Pinturas de Pavel Égüez.Foto de Orlando Azevedo.

Travessia

Chove forte. A noite chegou a pouco na cidade. Numa esquina movimentada, em frente à universidade, os olhos dos carros furam com fachos de luz o rio que desce escorrendo pelo ar. O sinal amarela, avermelha, fecha. Do outro lado da larga via uns 30 estudantes começam a atravessar. Um rapaz espera, espera, espera, e como todos o ignoram também começa a travessia. Nos encontramos no meio da avenida, quando ele esbarra com o corpo e a bengala num capô de uma caminhonete que avançou para cima da faixa de segurança. Estendo a mão, seguro seu braço, volto com ele. Me pergunta que caminho faço. Vou no sentido contrário ao dele, mas quero voltar mais. Então ele insiste, diz que não precisa, que está acostumado. Fico olhando o jovem menino se distanciar na calçada escura, com os pés nos poços d’água, sob o barulho das buzinas e dos motores, dos pingos que espancam o chão e arrancam pedaços da laje e cheiros da terra. Muitas vozes seguem próximo a ele, mas nunca junto, nunca cruzam palavras com o caminhante, que se guia pelos sons da rua, pelos passos contados, pelas pedras que reconhece. Nem outras mãos o procuram quando ele precisa atravessar de novo, pra chegar à parada do ônibus. Fico pensando se alguém por ali fala em coisas que precisam mudar e sonha com outro mundo.

João Cândido hoje

2010 é tempo de celebrar os 100 anos da Revolta da Chibata e os 130 anos do nascimento de João Cândido. Nascido no Rio Grande do Sul, em 1880, o marinheiro é o principal líder da Revolta da Chibata, levante ocorrido em novembro de 1910, no Rio de Janeiro. Os marinheiros exigiam melhores soldos, alimentação digna e o fim da prática da chibata nos navios brasileiros. O movimento eliminou da Marinha de Guerra a prática dos castigos corporais como punição aos marujos. A revolta abalou as estruturas do governo da época, que teve de tomar medidas rápidas para atender às solicitações dos rebeldes e trazer a paz de volta às águas da Guanabara. João Cândido e seus companheiros se tornaram exemplos de luta pelos direitos humanos. Para que esta importante passagem da história nacional não se apague de nossa memória, o Grupo Afluentes e o Comitê Latino Americano realizam uma atividade neste sábado, dia 26 de junho (Rua Vieira de Castro, 133 – Porto Alegre). Carta enviada pelo Comitê Geral, dirigente da revolta, ao Marechal Hermes da Fonseca, presidente da República: Rio de Janeiro, 22 de novembro de 1910 Ilmo. Exmo. Sr. Presidente da República Brasileira Cumpre-nos comunicar a V. Exa. Como chefe da nação brasileira: nós marinheiros, cidadãos brasileiros e republicanos, não podendo mais suportar a escravidão da Marinha Brasileira, a falta de proteção que a pátria nos dá; e até então não nos chegou; rompemos o negro véu, que nos cobria aos olhos do patriótico e enganado povo. Achando-se todos os navios em nosso poder, tendo a seu bordo prisioneiros todos os oficiais os quais tem sido os causadores da Marinha Brasileira não ser grandiosa porque durante vinte anos de república ainda não foi o bastante para tratarmos como cidadãos fardados em defesa da pátria, mandamos essa honrosa mensagem para V. Exa. faça nós marinheiros brasileiros possuirmos os direitos sagrados que as leis da república nos facultam, acabando com as desordens e nos dando outros gozos que venham engrandecer a Marinha Brasileira; bem, assim como: retirar os oficiais e incompetentes e indignos de servir a Nação Brasileira, reformar o código imoral e vergonhoso que nos regem a fim de que desapareça a Chibata o bolo e outros castigos semelhantes; aumentar o nosso soldo pelos últimos planos do Ilustre Senador José Carlos de Carvalho, educar os marinheiros que não tem competência para vestirem a orgulhosa farda, mandar por em vigor a tabela de serviço diário que a acompanha. Tem V. Exa. o prazo de doze (12) horas para mandar-nos a resposta satisfatória, sob pena de ver a pátria aniquilada. Bordo do Encouraçado S. Paulo em 22 de novembro de 1910. Nota – não poderá ser interrompida a ida e volta do mensageiro. Marinheiros “Ele (João Cândido) deixou para a família a noção de que este mundo era desigual e isto ele sentiu na pele com a Revolta da Chibata. Ele dizia na comunidade de marinheiros que não deviam se rebaixar e se humilhar. E isso ele passou para todos os filhos também. Eu aprendi e fui à luta, participo nas associações de moradores, no movimento negro e de mulheres. Parada eu não fico. A lição que meu pai deixou é que se a gente tem um ideal, e não se sente bem com uma situação e se puder reverter essa situação, que não devemos esperar pelos outros, temos que arregaçar as mangas e lutar para mudar. Com luta ou com diálogo, vamos nós mesmos tomando as rédeas do nosso destino, porque abaixo de Deus nós temos esta condição. Não podemos esperar que a solução dos nossos problemas venha só de cima.” (Zeelândia Cândido de Andrade, filha de João Cândido, em entrevista ao Jornal da Marcha, no ano de 2005). Para saber mais sobre João Cândido e a Revolta da Chibata: – Projeto Memória sobre João Cândido, da Fundação Banco do Brasil (textos, fotos e video-documentário): https://www.projetomemoria.art.br/ – Reportagem da revista IstoÉ sobre a anistia incompleta de João Cândido:https://www.istoe.com.br/reportagens/60677_HEROI+INJUSTICADO – Entrevista com Aldir Blanc, compositor da letra de “O mestre-sala dos mares”, em parceria com João Bosco, autor da música:https://www.censuramusical.com/includes/entrevistas/ALDIR_BLANC.pdf – “O mestre-sala dos mares”, letra original:https://www.youtube.com/watch?v=f9c7sY5TNTQ&feature=player_embedded#! Dois livros que indicamos sobre João Cândido: – João Cândido – O Herói da Ralé– CHIBATA! João Cândido e a Revolta que Abalou o Brasil

O que é ser digital?

A ideia era responder a pergunta do título em vídeos com até um minuto e meio. A Thais Fernandes produziu dois para o concurso promovido por uma companhia de telefone celular. Este foi semifinalista: Este uma reflexão sobre o que é ser digital, inspirada em Alice no País das Maravilhas: