4° Dia da Biodiversidade

uma semana para festejar a luta pela biodiversidadePorto Alegre – RS FEIRA DA BIODIVERSIDADEQuinta-feira 20.mai.2010Largo Glênio Peres06:00h – Café de manhã coletivo e moNTagem da geOdéSica10:00h – TaMboReada com os Mestres Griôs10:30 – Meninas percussionistas12:00h – eSpeTácUlo teatral Caravana da Ilusão, com grupo o Povo da Rua.14:00h – tertÚlia em Movimento16:00h – Oficina de saMBa de rOda com o Mestre Renato19:00h – Roda de capOeiRa Angola.20:30h – MaRacatu Truvão e logo após BatUcadÃo Coletivo FEIRA DE TROCASSábado, 22.mai.201014hLocal: Comunidade Utopia e Luta – Quilombo das ArtesEscadaria da Borges – CentroTraga aquilo que não está mais em uso (a solidariedade) e boas trocas! SARAU DA BIODIVERSIDADESábado, 22.mai.201018h Local: Comunidade Utopia e Luta – Quilombo das ArtesEscadaria da Borges – Centro FESTASábado, 22.mai.2010 a partir das 22hShows: Rasta blues e gurias da percussãoLocal: Galpão do Parque Harmonia Programação completa: https://blogfestadabiodiversidade.wordpress.com/

A produção de charque e o Sopapo

O Coletivo Catarse esteve em Pelotas realizando mais gravações do documentário sobre o Tambor de Sopapo e entrevistou uma Mãe de Santo, a Tia Maruca, e a sua filha Juraci, que também é presidente da escola de samba fundada pelo Mestre Baptista há 16 anos, a Imperatriz da Zona Norte. Tia Maruca nos contou um pouco das culturas de matriz africana, do sincretismo gerado pela opressão católica e dos rituais africanos que ajudaram os negros escravizados a suportar o campo de concentração de produção de charque em Pelotas. Ela falou da importância do tambor ser tocado no ritual: “O tamboreiro não pode parar”. Sobre o ritual de sacrífício de animais, salientou na implicância de um grande conhecimento da maneira de se matar sem gerar sofrimento para o animal, de se recolher o sangue, se retirar o couro e preparar o alimento para ser consumido depois. Os rituais de sacrifício sempre existiram, desde a mãe África, se dividindo tarefas entre as pessoas mais aptas – uma espécie de divisão do trabalho que foi também sendo utilizada nas charqueadas para a matança do gado. Aliás, segundo Tia Maruca, matar um boi, na ritualística afrodescendente, é a maior oferenda que se pode dar a uma entidade. O sacrifício de um animal deste tamanho é muito complicado, exigindo muito conhecimento e espiritualidade, não sendo qualquer um que faz. Neste sentido, é impossível imaginar o desenvolvimento da indústria do charque, que sacrificava 600 animais por dia, em 30 empreendimentos, sem que os envolvidos não detivessem um certo conhecimento “tecnológico” da matança proveniente da memória de rituais africanos trazidos pelos negros escravizados. Tia Maruca explicou-nos também que o ritual é feito da meia-noite ao meio-dia, da chamada “hora grande” à “hora grande”. Ao final, consagra-se o sacrifício aos deuses tocando-se o tambor, assim como descreveu Nicolau Dreys, um inglês que esteve em Pelotas por volta de 1839: “Na estação da matança, isto é, de novembro até maio, o trabalho das charqueadas principia ordinariamente à meia-noite, mas acaba ao meio-dia, e tão pouco cansados ficam os negros que não é raridade vê-los consagrar a seus batuques as horas de repouso que decorrem desde o fim do dia até o instante da noite em que a voz do capataz se faz ouvir.” (Dreys, Notícias Descritivas, 1839, p.202-205). Aquarela de Wendroth intitulada dança dos negros em Pelotas, de 1857. Publicado por Sérgio ValentimFotos Leandro Anton

A agricultura para as pessoas

Os pequenos agricultores não fazem publicidade milionária na mídia. Talvez seja por isso que os grandes veículos de comunicação só tenham olhos pra enxergar e palavras pra defender os interesses de seus anunciantes, as grandes empresas do agronegócio. Em Porto Alegre, até amanhã, está acontecendo a Brasil Rural Contemporâneo – Feira Nacional da Agricultura Familiar e Reforma Agrária. Ali no Cais do Porto. Vá até lá, converse com os agricultores, conheça quem de fato põe as mãos na terra para plantar comida e semear dignidade. No Brasil, a agricultura feita em pequenos lotes, por agricultores que se organizam em família é responsável por: 70% do feijão; 34% do arroz; 87% da mandioca; 46% do milho; 38% do café; 58% do leite; 50% de aves; 59% de suínos. No Rio Grande do Sul são 378,5 mil unidades familiares, o que equivale a 86% dos estabelecimentos rurais e a 54% do valor bruto da produção gaúcha. Estes pequenos estabelecimentos são também responsáveis por 81% das pessoas ocupadas no meio rural. É POR ISSO, QUE APOIAR A REFORMA AGRÁRIA É AJUDAR O BRASIL A SE DESENVOLVER, É CONDIÇÃO PARA QUE TENHAMOS UMA SOCIEDADE MENOS DESIGUAL. Acesse o site da Feira clicando aqui. ******* PELA SOLIDARIEDADE E PELA FELICIDADE, IGUALDADE. por Cris Rodrigues do Somos Andando. Às vezes a gente liga no automático e só vai. Pra mim, defender a agricultura familiar e a reforma agrária é uma coisa óbvia. Claro, por causa dos benefícios sociais que trazem, que os números do último post comprovam e coisa e tal. Mas qual o sentido disso? O que faz esses números, esses benefícios, deixarem de ser apenas informações e se tornarem de fato relevantes? Durante o show do Teatro Mágico – especialmente quando o palco foi dividido com Pedro Munhoz e que uma faixa produzida por diversos movimentos foi levada ao palco -, a vibração, as palavras, a sensação… Era tudo tão forte, a emoção tão grande e veio uma luz, uma coisa que dizia que a palavra por trás disso tudo é solidariedade. Tá, não foi a primeira vez que cheguei a essa conclusão, mas é que a rotina é tão cruel que às vezes nos impede de sentir o tanto que deveríamos. Agricultura familiar faz sentido porque as pessoas vivem melhor. Reforma agrária é boa porque é justa. Porque não tem um motivo racional, uma razão lógica que explique que uma pessoa tenha milhares de hectares de terra pra plantar produtos pra vender e nem ver o dinheiro enquanto outra batalha a vida inteira e não consegue ir longe. Não porque não é capaz, mas porque não nasceu no mesmo lugar, não veio da mesma barriga, não teve as mesmas chances. Por isso, o Movimento dos Sem Terra defende terra para todos. O Teatro Mágico defende cultura para todos. Mulheres lutam para ter as mesmas condições que os homens. Tantas lutas. Luta. Palavra que lembra briga, guerra. Por que devemos lutar para conseguir o que seria tão natural? Foi nesse espírito que um dia disseram que todos somos iguais. E isso não significa que a lei vale da mesma forma para todos, mas que temos todos o mesmo valor, devemos ter os mesmos direitos e oportunidades e a mesma condição de manter uma vida digna. E feliz. Mais do que solidariedade, do que compaixão, do que amor ao próximo – todos esses lemas que a igreja roubou mas que são muito mais transcendentes, muito mais profundos e verdadeiros quando pensados por eles mesmos, sem deus nenhum por trás -, o sentido de tudo isso é a felicidade. Que todos tenham o mesmo direito a ela.

Pássaro Azul: o maior tocador de sopapo de Rio Grande

A Catarse esteve em Rio Grande gravando o documentário sobre o Tambor de Sopapo e entrevistou a Poróca, filha do Pássaro Azul e o tio Valter, primo do passáro, com 80 anos, que tocou com ele no carnaval. Adão, o Pássaro Azul, foi o mais conhecido tocador de sopapo de Rio Grande. Tocava nas mariquitas, uma das primeiras escolas de samba do estado, o tambor de sopapo. Segundo o tio Valter, só ele que tocava naquele instrumento, pois tinha uma habilidade e fazia a diferença no som da escola. “Era possível ouvir de longe o sopapo do Pássaro quando a escola vinha chegando”, segundo o primo que tocava prato junto dele. Era um negro de 2 metros de altura que travava duelos com o Boto, tocador de sopapo da Academia do Samba de Pelotas. Era comum naquela época, as escolas de Rio Grande desfilarem em Pelotas. fotografia de Passáro Azul (alto à direita) com a família Poróca nos contou que o sopapo de Rio Grande era feito com as madeiras provenientes de barris, como os de vinho, que era comum na cidade portuária. Ele era como uma grande cubana, ou um grande atabaque, feitos por um taloeiro e preso com tiras de ferro. Mas era maior que estes tambores tradicionais, tinha mais de um metro de altura e, segundo o tio Valter, a boca era grande e o som era extremamente grave. Publicado por Sérgio Valentimfotos de Leandro Anton

"uma vontade imensa de olharmos para um estado de coisas que nos atiça"

A vertigem do trampolim: como em um mergulho das alturas transpor com a mais impetuosa força do corpo a líquida, fluida, densa e propulsora realidade da alma do país. Na justeza da primeira pessoa a inevitável insuficiência de que não se pode escapar. Um salto kinético de dura precisão, com olhos desde o céu ao chão do Sertão: é Viajo porque preciso, volto porque te amo, de Marcelo Gomes e Karim Aïnouz. Assisti ontem à tarde e recomendo pelo afeto à força popular: é um filme brasileiríssimo, com uma vibrante composição de ritmo das fortes variações da dor de amar. Não perca: no Unibanco Artiplex POASala 8 16:30 | 20:20 | 22:00 Título da postagem: trecho da fala de Aïnouz na entrevista do pressbook.

É o sonho

“O que faz andar a estrada? É o sonho. Enquanto a gente sonhar a estrada permanecerá viva. É para isso que servem os caminhos, para nos fazerem parentes do futuro.” Fala de Tuahir, no livro Terra Sonâmbula.

Viajo porque preciso, volto porque te amo

Ano passado, numa conversa do FestFotoPoa, falando sobre a realidade das comunidades populares, o fotógrafo Ripper disse que, hoje, tão revolucionário quanto fazer a denúncia da pobreza, do descaso e da violência, é mostrar a beleza que pulsa nesses lugares, da beleza das pessoas, da resistência da vida, apesar dos problemas e sofrimentos. Diante da insensibilidade e da estupidez, do egoísmo e da morte (de muitas coisas importantes e bonitas), eu acredito a cada dia com mais sinceridade que luta e poesia estão tão ligadas quanto carne e pele. É impossível arrancar uma da outra, como condição para não terminar com a existência das duas. Penso nisso agora assistindo ao trailer do filme Viajo porque preciso, volto porque te amo, que entrou em cartaz na última sexta-feira, me agarrando a poesia como quem luta pra manter as narinas abertas. Sobre ele, escrevem Karim Aïnouz e Marcelo Gomes, que o fizeram: Nascemos e fomos criados no litoral do nordeste do Brasil. Para nós dois, o Sertão sempre foi um lugar imaginado, recorrente nas conversas de família. Era o lugar onde nasceram nossos avós. Esse filme se origina na nossa curiosidade e fascinação por esse lugar. Um lugar que conhecíamos muito bem, mas para o qual nunca havíamos ido. Escolhemos contar uma história em primeira pessoa, através de um personagem que fosse viajando e coletando imagens, sons, músicas; comentando suas impressões da paisagem meio-conhecida, meio-desconhecida. Um personagem que fosse encontrando gente, mas que também fosse descrevendo esse lugar e seus habitantes, fisicamente, factualmente. Imaginamos um filme que pudesse produzir a sensação de estarmos ali, que pudesse retratar o encantamento e, ao mesmo tempo, o estranhamento de mergulhar naquele lugar. Era importante um filme à flor da pele, pessoal, artesanal, improvisado – como um álbum de família, como um filme “carta de amor”, “feito à mão”. Clique aqui para baixar o pressbook do filme.