Desmitificando a produção audiovisual

Na última sexta-feira (07/11) estivemos dando oficina de vídeo para uma gurizada da Vila Hípica, promovendo as atividades do Quilombo do Sopapo – ponto de cultura do Bairro Cristal. Dividimos a galerinha em três grupos: um de mais velhos, um de meninas superpoderosas e outro de piazada do futebol. A Têmis, claro, ficou com as superpoderosas, eu, claro, com os guris projetos-de-craque da bola. O grupo mais fácil de se lidar, já trabalhando, inclusive, nas oficinas do ponto, ficou a cargo do amigo Ricardo. Discutimos rapidamente nossa proposta, falamos cada um em seu grupo sobre como conduzir a produção de um filme seja com câmeras ou com telefones celulares e partimos para as filmagens. Do meu grupo, saíram pequenos fragmentos de uma partida de futebol. A galerinha participou ativamente, indo buscar os uniformes (o figurino!) e se “puxando” nas encenações. O resultado é este pequeno vídeo aqui: Interessantíssimo como é importante trabalhar a desmitificação da produção audiovisual. Todos consomem televisão e a têm como um santo graal, intocável, construída por mágicos sobre-humanos. Quando se trabalha com as facilidades da tecnologia de hoje, demonstrando que as coisas são palpáveis e que é possível também produzir vídeos dali, daquela realidade própria, parece que novas portas se abrem nas visões de quem quer que se aproprie da técnica. É assim que temos trabalhado nos mais variados cantos desta cidade. Desmistificando. E esperamos, agora, encontrá-los lá no Quilombo do Sopapo não só para videozinhos de futebol ou pequenos fragmentos de realidade momentâneas – como foi o enfoque dessa oficina -, mas para a construção teórica dessa desmistificação, para a seqüência do interesse na prática audiovisual como atividade transformadora, inclusive, de suas realidades. *o Quilombo do Sopapo é projeto constituído pela OCIP Guayí, com apoio do Sintrajufe.**a Catarse é parceira nas oficinas de vídeo

Catarse e o Quilombo de Sopapo

A Oscip Guayí, responsável pelo projeto “Economia Solidária na Prevenção à Violência”, realiza ação comunitária nesta sexta-feira (07/11/08) na Vila Hípica (bairro Cristal), em Porto Alegre. A atividade consistirá numa oficina de música e produção audiovisual, direcionada aos jovens da comunidade, das 16h às 19h. A ação tem o objetivo de divulgar os cursos de Tecnologia da Informação e de Produção Audiovisual, que ocorrerão no Ponto de Cultura Quilombo do Sopapo (avenida Capivari, 602) a partir da segunda quinzena de novembro. Em caso de chuva na sexta-feira, a atividade será transferida para outra data. A oficina de produção audiovisual será conduzida pela Catarse, onde os oficinandos terão que fazer o roteiro e a produção de um curta-metragem de ficção.

Amencar

Animação para internet sobre trabalho infantil *para assistir novamente, clique com o botão direito do mouse sobre a tela cinza e selecione “play”

O Retrato da atriz enquanto corpo

“CORPO – Unidade do organismo vivo, em que não existem as dicotomias corpo-mente, razão-sentimento. Uma anatomia que guarda sistemas complexos de desejos, medos e paixões; matéria constituída de mistério, que ciência, filosofia e religião tentam decifrar. Aqui trata-se de um corpo que é parte interdependente do processo co-evolutivo da natureza e da cultura, inserido num campo cultural historicamente datado e constituído por técnicas formativas. O corpo é processo, o qual se constitui da complexa rede de trocas de informações, de relações dinâmicas entre o indivíduo com o meio e com os outros indivíduos”. O Retrato da atriz enquanto corpo Produção: Maria & Cia e CatarseCâmera: Júlia Rodrigues e Gustavo TürckRoteiro e Edição: Maria Falkembach e Têmis NicolaidisTrilha sonora: Leandro Maia Para conhecer mais sobre o documentário acesse o blog Dramaturgia do Corpo de Maria Falkembach

Catarse integra equipe que ganhou Prêmio Vladimir Herzog de Jornalismo

O documentário interativo Nação Palmares, produzido pela Agência Brasil e veiculado na internet em 20 de novembro do ano passado, ganhou na categoria internet, o Prêmio Jornalístico Vladimir Herzog de Anistia e Direitos Humanos, o mais importante do jornalismo brasileiro. A reportagem do Coletivo Catarse sobre o Quilombo Silva, primeiro quilombo urbano reconhecido no País, que fica em Porto Alegre, integra o trabalho. Foi produzida para o quadro Outro Olhar, da TV Brasil. O projeto foi coordenado por André Deak: “[…] é a primeira experiência no mundo de web-documentário interativo com hipervídeo, ou seja: um documentário o qual se pode interagir clicando na tela, durante a transmissão, e ter acesso a outros conteúdos, todos eles relacionados. Mas todos, também, ofertados sob demanda, caso o usuário prefira assistir somente trechos. Pode não ter ficado uma obra-prima, mas é uma colaboração nossa para as novas formas de narrar no jornalismo. Afinal, explorar novas linguagens também é um dos papéis de uma empresa pública, certo?”. “Essa é a equipe que realizou o Nação Palmares. Trabalho árduo, esforço de integração de mídias, experimentações tecnológicas. Maior orgulho. Resultado não só do trabalho do pessoal aí embaixo, mas de todo mundo que trabalhou em nome do jornalismo público na Radiobrás. André Deak, Juliana Nunes, Rodrigo Savazoni, Spensy Pimentel, André de Oliveira, Jefferson Pinheiro, Fausto José, Yasodara Cordova, Mario Marco, Robson Moura, Valter Campanato, Wilson Dias, José Cruz, Marcello Casal Jr.” Rodrigo Savazoni, na época editor da Agência: “Ponto final de uma trajetória [foi o último trabalho dessa equipe na Ag. Brasil], Nação Palmares também é marco zero de um modelo de fazer reportagem que eu continuarei a perseguir. Nesta era em que vivemos, a informação crítica, contextualizada, radicalmente conectada com a realidade pode mudar muita coisa. No mínimo, pode impedir que a infâmia continue a se alastrar. E para dar conta de uma realidade complexa, eu chutaria que é preciso pensar sobre o que devemos falar (a pauta), com que valores (a ética), e em uma linguagem à altura do desafio (a estética). Com Nação Palmares, apontamos um caminho. Espero que eles sejam muitos”. MAIS:O making of, num post que André Deak escreveu no ano passado.O texto A Genealogia do Nação Palmares, do Rodrigo Savazoni, que conta o início, o fim e o meio do processo.

Blogagem coletiva com Moradores de Rua

São pessoas que cruzamos pelas ruas diariamente. Às vezes estão mais presentes no nosso cotidiano, que nossa própria família. Mas como é a realidade – não dos donos da rua – mas, dos moradores das ruas? Pessoas que estão presentes, mas que nunca procuramos saber quem realmente são. Por medo? Por nojo? Por preferir ignorar? Seja qual for o motivo, a verdade é que quando conversamos com essas pessoas, vemos uma outra verdade. Aquela que vai além da noticiada, que vai além do que se vê, que acaba com o medo, com o nojo, com a ignorância e, muitas vezes, podemos inclusive nos identificar. No dia 4 de setembro de 2008, estivemos conversando com um grupo de moradores de rua procurando quebrar barreiras e acabar com preconceitos que não têm razão de existir. Entrevistaram: Claudia Cardoso, Gustavo Türck, Têmis Nicoladis, Rafael Corrêa, Licurgo Urquiza, Eduardo Seidl, Cássio Maffazziolli, Nanda Isele Gallas Duarte, Manoel Madeira, Natália Alles, Clarinha Glock, entre outros. Gustavo Türck [GT]: E gostaria que vocês começassem, se apresentando e falando um pouco do próprio projeto do Boca de Rua e da situação de vocês mesmo. E aí nós vamos abrir, é livre, é bem em clima de bate-papo pra ser bem informal, né? Adriano [Don]: Prazer, meu nome é Adriano da Silva Bandeira, faço parte do jornal dos moradores Boca de Rua…Muitas coisas que eu fazia de errado… o jornal mudou a minha vida. Agora é trabalho, eu vendo o meu jornal… Na sinaleira, eu não vendo o meu jornal. Eu vendo o meu jornal onde eu trabalho no Senac, ali no Senac na Cel. Genuíno, aí quando eu vou cuidar os carros dos meu cliente, aí já deixo… Bah, tu é do Boca de Rua? A gente já viu esse jornal na TV. Pois é, eu trabalho nesse jornal agora. Agora vai fazer sete anos que eu trabalho no jornal Boca de Rua. Que eu entrei no jornal, quando o jornal fez 1 ano. Agora, eu já sou mais um rapper, né, eu era rapper, mas eu… deixava um pouco o rapper pra fazer as coisas de errado que eu fazia antes. Eu cheirava cola, andava na rua assim, bah, pra mim era uma bagunça a rua… Eu tava sempre no meio das pessoas, assim, querendo mexer, roubar… Agora, eu não faço mais isso. Agora, se eu não tenho nada para mim fazer, eu descanso, porque eu trabalho de noite. O Manoel foi lá me ver, lá… Bah, Don, como tu conhece todo mundo aqui? Mas claro! Moro lá desde os 6 anos. Não é, Manoel? Eu conheço todo mundo lá. Maneco [M]: Bom dia, meu nome é Roberto dos Santos Fogaça, sou parente do Fogaça, mas sou morador de rua porque eu gosto muito de ficar na rua… Faz 3 anos que eu to na rua… Moro no Jardim Planetário. Nós perdemos um monte de parceiro já, não é nem 1 nem 2, perdemos a Chineza que agora foi pouco tempo aí, estamos um pouco chocados, a realidade é ruim, o jornal tá crescendo cada vez mais e vai ficar muito bom. Sou morador de rua, mas tenho casa, mas não gosto de ficar em casa. Gosto de ficar mais com os meus parceiros. Nem gosto de falar muito, dá vontade de chorar, sempre fui um cara chorão…Bah, eu não gosto de falar muito. Gosto muito de morador de rua. Não gosto de rico, meu irmão. Rico quer ver o pobre lá embaixo. Agora, nós vamos ter um filhinho que vai nascer, aí, coisa mais linda, com a Michele – ela não está aí… Gilmar [Gi]: Eu desejo boa tarde, meu nome é Gilmar, eu trabalho no Boca de Rua… Eu entrei nesse trabalho, através de uma senhora, que é a dona Rosina. Encontrei ela lá na Rua da Praia, aí ela perguntou: “Olá, tudo bom, tranqüilo…eu to te convidando pra entrar, aí, num trabalho que a gente tá investindo. É um trabalho que a gente tá unindo as pessoas, aí, pra quem quiser trabalhar… A gente fica muito agradecido…que é através do jornal Boca de Rua”. Só quando inaugurou o jornal, nós começamos lá na praça do Rosário. Lá onde tem o cachorro-quente, lá, onde tem o Colégio do Rosário. Lá a gente conheceu um monte de pessoa e várias amigas lá… E foi ali que inauguramos o nosso trabalho de jornal. E eu só tenho uma coisa pra dizer, eu gostei de trabalhar…eu espero que o jornal nunca acabe…eu só espero que o jornal continue…Às vezes eu ando por aí perdido de noite, daí eu fico pensando… Quando eu era de menor, eu fazia várias coisas erradas. Eu pegava, fazia coisas que não era para mim fazer, porque eu peguei isso aí na Febem. Quando eu caí na Febem da Cruzeiro, fiquei quase 1 ano lá… Mas eu gostei, era muito legal o monitor lá… Só que minha família é de Canoas, eu gosto daqui de Porto Alegre, por causa dos meus colegas, das minhas colegas… A noite é cruel, né… Eu respeito as pessoas para ser respeitado… eu ajo com as pessoas como as pessoas agem comigo. Se a pessoa chegar e falar comigo numa boa, eu falo numa boa. Se a pessoa engrossar, eu também engrosso. Não é que eu quero me aparecer, eu sou igual a todo mundo. Eu não sou rico, eu sou pobre. Para parar na prisão, alguma coisa a pessoa tem que fazer, porque a troco de vão, ninguém vai parar atrás de uma prisão. Então, eu prefiro mais a minha liberdade. E meu nome é Gilmar… André [A]: Boa tarde senhoras e senhores, meu nome é André Luís, moro na rua desde os 7 anos de idade… Graças ao meu bom deus, eu… através de um colega daqui do jornal, fui convidado a participar do jornal Boca de Rua… Vim parar na rua por motivo de doença… Conheci o jornal Boca de Rua, e vim pra cá, e comecei a trabalhar…Achei o jornal muito legal… Através …