por Janaina Bechler Hoje fiquei um tempão procurando meu pai na Santa Casa. Entrava aqui e lá, ninguém sabia ao certo onde eu podia encontrá-lo. Me disseram então: ele está no bloco cirúrgico do hospital Santa Clara. Lá fui eu, na recepção o moço numa minúscula escrivaninha, quase improvisada no corredor, confirmou olhando papéis, ele estava lá. Chegando na sala de espera haviam muitas pessoas, mas não encontrei minha mãe, que acompanhava ele. Então segui pelos corredores. Um tanto sujos se eu olhava para baixo. As janelas aliviavam, mas eu não deixava de estar em páginas de outras batalhas, filmes e livros com aqueles mesmos doentes e suas camas. Muitas camas em cada sala. Cheguei a olhar na porta de duas delas. No instante pensei se eram o ambiente certo para quem se recupera de uma cirurgia. De novo aquela imagem da guerra que eu não conheço, mas que já li e vi encenada. Meu pai estava lá, em cada cama, ausente, debaixo de cobertores mesclados e escondendo a cabeça daquela luz massiva e branca, cegueira de Saramago, por certo, nos olhos de todos. Saí das salas imaginando o que fazia minha mãe, se ela havia se perdido em pensamentos como os meus, não atendia ao telefone. Adiante ainda, no corredor maior, um homem usava sotaque para contar uma história longa a uma enfermeira. Muita cumplicidade perecia caber naquela dupla, um de cadeiras de rodas, uma de jaleco, próximos à janela que deixava ver a imagem de São Fransisco fincado no aprazível jardim, lá embaixo. Voltei ao homem que me recebera naquele prédio: – tens certeza que ele está aqui? Repeti o nome do meu pai. -Ah, por nome não tenho como saber. – Não? Como posso saber? O senhor me disse que ele estava aqui, conferiu no papel. – A senhora me disse que ele havia entrado para uma cirurgia. Diga, é SUS? – Não, convênio. – ah, então não é aqui, não. Vá ao hospital São Francisco, lá há um bloco cirúrgico com mesmo nome, mas para convênios. Era Barata, o nome. Não desse homem, do bloco cirúrgico. Me embrenhei de novo naquele labirinto-complexo, encontrei o prédio São Francisco. Fui recebida antes de explicar ao que vinha, por uma porta que abre sozinha e um homem de terno, sentado em uma mesa confortável para um computador. Ele me perguntou o que procurava, voluntariamente. Digitou o nome do meu pai e soube me dizer uma planilha com todos os procedimentos até então realizados. Precisava pegar o elevador, ir ao terceiro andar, onde esse bloco cirúrgico Barata estava localizado. Não era radical a diferença dos dois Baratas, mas o chão estava mais limpo e meu pai, nomeado. Encontrei minha mãe sentada em um sofá, compartilhando angústias com as mulheres e homens de lá e de cá que aguardavam a notícia enigmática da vida depois da anestesia. Sentei com ela e esperei. Logo caminhei esses outros corredores e tive curiosidade pelos quartos, camas e doentes em recuperação: as portas estavam fechadas. Ali a recuperação era privada. (em 17 de setembro)