Suíte Senzala

A realização deste documentário sobre o Tambor de Sopapo vem surpreendendo a quem está se envolvendo. Por um lado já imaginávamos – e nos propusemos a tal – que iríamos encontrar um sem número de histórias envolvendo a matriz negra da história do Rio Grande do Sul. Agora, para o que não estávamos preparados era encontrar e descobrir o que realmente estamos desvendando aos poucos. O Sopapo, instrumento lindo, mítico, carrega na sua genética não parte, mas a própria história do que aconteceu nesta região das Américas.Pelotas hoje é uma cidade estagnada, com uma nuvem de energia latente que paira sobre as cabeças de quem vive ali, algo pulsante, vivo, obscuro. E o Sopapo vem tocando e registrando este caminhar há séculos, até parar e se esconder para retornar como parte do profano – do sagrado, do elemento espiritual que acompanhava os escravos, ao profano das festas de carnaval.E Pelotas calou sua própria história.Os negros não queriam contá-la, pois desejavam se esquecer e não perpetuar com lembranças período tão sombrio, por isso passaram apenas a bailar no toque do tambor, tão lindo, tão retumbante e ressoante, que se bate com as mãos tocando o couro do animal sacrificado para a consagração da carne.Os brancos trataram de apagá-la pelos seus interesses de manutenção da ordem. Seu poder sobre os negros se mantinha, assim, intacto, mesmo sem a escravidão legalizada, sobre a nova ordem da escravidão social. Os brancos criaram seus heróis assassinos, um hino mentiroso e uma bandeira que se diz verde e amarela riscada pelo vermelho do sangue dos heróis farroupilhas, sem dizer que este sangue, este líquido sagrado derrubado a troco de nada nas terras gaúchas, é dos negros, dos escravos que encamparam a luta dos oligarcas das charqueadas pela sua própria liberdade, tendo sido traídos friamente pelas mãos daqueles que hoje dão nomes às ruas de todas as cidades do estado. Foram massacrados para que não voltassem à terra em onde trabalhavam para reinvindicar, enfim, seus direitos de homens livres.Hoje, Pelotas purga e cala esta história. Ouça mais uma música que será trilha do filme, na voz da cantora pelotense Giamarê, gravada em uma versão demo no estúdio da Casa Brasil Dunas (foto).

Lembrança dos crimes da ditadura militar: fazei isso em memória delas

por José Ribamar Bessa Freire São mulheres de diferentes cidades do Brasil. Algumas amamentavam. Outras, grávidas, pariram na prisão ou, com a violência sofrida, abortaram. Não mereciam o inferno pelo qual passaram, ainda que fossem bandidas e pistoleiras. Não eram. Eram estudantes, professoras, jornalistas, médicas, assistentes sociais, bancárias, donas de casa. Quase todas militantes, inconformadas com a ditadura militar que em 1964 derrubou o presidente eleito. Foram presas, torturadas, violentadas. Muitas morreram ou desapareceram lutando para que hoje nós vivêssemos numa democracia. As histórias de 45 dessas mulheres mortas ou desaparecidas estão contadas no livro “Luta, Substantivo Feminino”, lançado quinta-feira passada, na PUC de São Paulo, na presença de mais de 500 pessoas. O livro contém ainda o testemunho de 27 sobreviventes e muitas fotos. Se um poste ouvir os depoimentos dilacerantes delas, o poste vai chorar diante da covardia dos seus algozes. Dá vergonha viver num mundo que não foi capaz de impedir crimes hediondos contra mulheres indefesas, cometidos por agentes do Estado pagos com o dinheiro do contribuinte. Rose Nogueira – jornalista, presa em 1969, em São Paulo, onde vive hoje. “Sobe depressa, Miss Brasil’, dizia o torturador enquanto me empurrava e beliscava minhas nádegas escada acima no Dops. Eu sangrava e não tinha absorvente. Eram os ‘40 dias’ do parto. Riram mais ainda quando ele veio para cima de mim e abriu meu vestido. Segurei os seios, o leite escorreu. Eu sabia que estava com um cheiro de suor, de sangue, de leite azedo. Ele (delegado Fleury) ria, zombava do cheiro horrível e mexia em seu sexo por cima da calça com um olhar de louco. O torturador zombava: ‘Esse leitinho o nenê não vai ter mais’”. Izabel Fávero – professora, presa em 1970, em Nova Aurora (PR). Hoje, vive no Recife, onde é docente universitária: “Eu, meu companheiro e os pais dele fomos torturados a noite toda ali, um na frente do outro. Era muito choque elétrico. Fomos literalmente saqueados. Levaram tudo o que tínhamos: as economias do meu sogro, a roupa de cama e até o meu enxoval. No dia seguinte, eu e meu companheiro fomos torturados pelo capitão Júlio Cerdá Mendes e pelo tenente Mário Expedito Ostrovski. Foi pau de arara, choques elétricos, jogo de empurrar e ameaças de estupro. Eu estava grávida de dois meses, e eles estavam sabendo. No quinto dia, depois de muito choque, pau de arara, ameaça de estupro e insultos, eu abortei. Quando melhorei, voltaram a me torturar”. Hecilda Fontelles Veiga – estudante de Ciências Sociais, presa em 1971, em Brasília. Hoje, vive em Belém, onde é professora da Universidade Federal do Pará. “Quando fui presa, minha barriga de cinco meses de gravidez já estava bem visível. Fui levada à delegacia da Polícia Federal, onde, diante da minha recusa em dar informações a respeito de meu marido, Paulo Fontelles, comecei a ouvir, sob socos e pontapés: ‘Filho dessa raça não deve nascer’. (…) me colocaram na cadeira do dragão, bateram em meu rosto, pescoço, pernas, e fui submetida à ‘tortura cientifica’. Da cadeira em que sentávamos saíam uns fios, que subiam pelas pernas e eram amarrados nos seios. As sensações que aquilo provocava eram indescritíveis: calor, frio, asfixia. Aí, levaram-me ao hospital da Guarnição de Brasília, onde fiquei até o nascimento do Paulo. Nesse dia, para apressar as coisas, o médico, irritadíssimo, induziu o parto e fez o corte sem anestesia”. Yara Spadini – assistente social presa em 1971, em São Paulo. Hoje, vive na mesma cidade, onde é professora aposentada da PUC. “Era muita gente em volta de mim. Um deles me deu pontapés e disse: ‘Você, com essa cara de filha de Maria, é uma filha da puta’. E me dava chutes. Depois, me levaram para a sala de tortura. Aí, começaram a me dar choques direto da tomada no tornozelo. Eram choques seguidos no mesmo lugar”. Inês Etienne Romeu – bancária, presa em São Paulo, em 1971. Hoje, vive em Belo Horizonte. “Fui conduzida para uma casa em Petrópolis. O dr. Roberto, um dos mais brutais torturadores, arrastou-me pelo chão, segurando-me pelos cabelos. Depois, tentou me estrangular e só me largou quando perdi os sentidos. Esbofetearam- me e deram-me pancadas na cabeça. Fui espancada várias vezes e levava choques elétricos na cabeça, nos pés, nas mãos e nos seios. O ‘Márcio’ invadia minha cela para ‘examinar’ meu ânus e verificar se o ‘Camarão’ havia praticado sodomia comigo. Esse mesmo ‘Márcio’ obrigou-me a segurar seu pênis, enquanto se contorcia obscenamente. Durante esse período fui estuprada duas vezes pelo ‘Camarão’ e era obrigada a limpar a cozinha completamente nua, ouvindo gracejos e obscenidades, os mais grosseiros”. Ignez Maria Raminger – estudante de Medicina Veterinária presa em 1970, em Porto Alegre, onde trabalha atualmente como técnica da Secretaria de Saúde. “Fui levada para o Dops, onde me submeteram a torturas como cadeira do dragão e pau de arara. Davam choques em várias partes do corpo, inclusive nos genitais. De violência sexual, só não houve cópula, mas metiam os dedos na minha vagina, enfiavam cassetete no ânus. Isso, além das obscenidades que falavam. Havia muita humilhação. E eu fui muito torturada, juntamente com o Gustavo [Buarque Schiller], porque descobriram que era meu companheiro”. Dilea Frate – estudante de Jornalismo presa em 1975, em São Paulo. Hoje, vive no Rio de Janeiro, onde é jornalista e escritora. “Dois homens entraram em casa e me sequestraram, juntamente com meu marido, o jornalista Paulo Markun. No DOI-Codi de São Paulo, levei choques nas mãos, nos pés e nas orelhas, alguns tapas e socos. Num determinado momento, eles extrapolaram e, rindo, puseram fogo nos meus cabelos, que passavam da cintura”. Cecília Coimbra – estudante de Psicologia presa em 1970, no Rio. Hoje, presidente do Grupo Tortura Nunca Mais e professora de Psicologia da Universidade Federal Fluminense: “Os guardas que me levavam, frequentemente encapuzada, percebiam minha fragilidade e constantemente praticavam vários abusos sexuais contra mim. Os choques elétricos no meu corpo nu e molhado eram cada vez mais intensos. Me senti desintegrar: a bexiga …

Entidades agrofundamentalistas levam 25 vezes mais grana do Governo Federal do que o MST

Carter: exagerar o poder do MST é um preconceito de classe Em dezembro de 2009, Miguel Carter concluiu o trabalho de organizar o livro “Combatendo a Desigualdade Social – O MST e a Reforma Agrária no Brasil”. É um lançamento da Editora UNESP, que reúne colaborações de especialistas sobre a questão agrária e o papel do MST pela luta pela Reforma Agrária no Brasil. Ele conversou com Paulo Henrique Amorim por telefone. PHA – Professor Miguel, o senhor é professor de onde?MC – Eu sou professor da American University, em Washington D.C. PHA – Há quanto tempo o senhor estuda o problema agrário no Brasil e o MST?MC – Quase duas décadas já. Comecei com as primeiras pesquisas no ano de 91. PHA – Eu gostaria de tocar agora em alguns pontos específicos da sua introdução “Desigualdade Social Democracia no Brasil”. O senhor descreve, por exemplo, a manifestação de 2 de maio de 2005, em que, por 16 dias, 12 mil membros do MST cruzaram o cerrado para chegar a Brasília. O senhor diz que, provavelmente, esse é um dos maiores eventos de larga escala do tipo marcha na história contemporânea. Que comparações o senhor faria?MC – Não achei outra marcha na história contemporânea mundial que fosse desse tamanho. A gente tem exemplo de outras mobilizações importantes, em outros momentos, mas não se comparam na duração e no numero de pessoas a essa marcha de 12 mil pessoas. Houve depois, como eu relatei no rodapé, uma mobilização ainda maior na Índia, também de camponeses sem terra. Mas a de 2005 era a maior marcha. PHA – O senhor compara esse evento, que foi no dia 2 de maio de 2005, com outro do dia 4 de junho de 2005 – apenas 18 dias após a marcha do MST – com uma solenidade extremamente importante aqui em São Paulo que contou com Governador Geraldo Alckmin, sua esposa, Dona Lu Alckmin, e nada mais nada menos do que um possível candidato do PSDB a Presidência da República, José Serra, que naquela altura era prefeito de São Paulo. Também esteve presente Antônio Carlos Magalhães, então influente senador da Bahia. Trata-se da inauguração da Daslu. Por que o senhor resolver confrontar um assunto com o outro?MC – Porque eu achei que começar o livro com simples estatísticas de desigualdades sociais seria um começo muito frio. Eu acho que um assunto como esse precisa de uma introdução que também suscite emoções de fato e (chame a atenção para) a complexidade do fenômeno da desigualdade no Brasil. A coincidência de essa marcha ter acontecido quase ao mesmo tempo em que se inaugurava a maior loja de artigos de luxo do planeta refletia uma imagem, um contraste muito forte dessa realidade gravíssima da desigualdade social no Brasil. E mostra nos detalhes como as coisas aconteciam, como os políticos se posicionavam de um lado e de outro, como é que a grande imprensa retratava os fenômenos de um lado e de outro. PHA – O senhor sabe muito bem que a grande imprensa brasileira – que no nosso site nós chamamos esse pessoal de PIG (Partido da Imprensa Golpista) – a propósito da grande marcha do MST, a imprensa ficou muito preocupada como foi financiada a marcha. O senhor sabe que agora está em curso uma Comissão Parlamentar de Inquérito Mista, que reúne o Senado e a Câmara, para discutir, entre outras coisas, a fonte de financiamento do MST. Como o senhor trata essa questão? De onde vem o dinheiro do MST?MC – Tem um capítulo 9 de minha autoria feito em conjunto com o Horácio Marques de Carvalho que tem um segmento que trata de mostrar o amplo leque de apoio que o MST tem, inclusive e apoio financeiro. PHA – O capítulo se chama “Luta na terra, o MST e os assentamentos” – é esse?MC – Exatamente. Há uma parte onde eu considero sete recursos internos que o MST desenvolveu para fortalecer sua atuação, nesse processo de fazer a luta na terra, de fortalecer as suas comunidades, seus assentamentos. E aí tem alguns detalhes, alguns números interessantes. Porque eu apresento dados do volume de recursos que são repassados para entidades parceiras por parte do Governo Federal. Eu sublinho no rodapé dessa mesma página o fato de que as principais entidades ruralistas do Brasil têm recebido 25 vezes mais subsídios do Governo Federal (do que o MST). E o curioso de tudo isso é que só fiscalizado como pobre recebe recurso público. Mas, sobre os ricos, que recebem um volume de recursos 25 vezes maior que o dos pobres, (sobre isso) ninguém faz nenhuma pergunta, ninguém fiscaliza nada. Parece que ninguém tem interesse nisso. E aí o Governo Federal subsidia advogados, secretárias, férias, todo tipo de atividade dos ruralistas. Então chama a atenção que propriedade agrária no Brasil, ainda que modernizada e renovada, continua ter laços fortes com o poder e recebe grande fatia de recursos públicos. Isso são dados do próprio Ministério da Agricultura, mencionados também nesse capítulo. Ainda no Governo Lula, a agricultura empresarial recebeu sete vezes mais recursos públicos do que a agricultura familiar. Sendo que a agricultura familiar emprega 80% ou mais dos trabalhadores rurais. PHA – Qual é a responsabilidade da agricultura familiar na produção de alimentos na economia brasileira?MC – Na página 69 há muitos dados a esse respeito. PHA – Aqui: a mandioca, 92% saem da agricultura familiar. Carne de frango e ovos, 88%. Banana, 85%. Feijão, 78%. Batata, 77%. Leite, 71%. E café, 70%. É o que diz o senhor na página 69 sobre o papel da agricultura familiar. Agora, o senhor falava de financiamentos públicos. Confederação Nacional da Agricultura, presidida pela senadora Kátia Abreu, que talvez seja candidata a vice-presidente de José Serra, a Confederação Nacional da Agricultura recebe do Governo Federal mais dinheiro do que o MST?MC – Muito mais. Essas entidades ruralistas em conjunto, a CNA, a SRB, aquela entidade das grandes cooperativas, em conjunto elas recebem 25 vezes do valor que recebem as entidades …

Projeto sobre o Tambor de Sopapo: Mestre Batista participa da gravação da trilha original

Mestre Baptista passou algumas horas conosco no estúdio da Casa Brasil Dunas, em Pelotas. O Mestre tocou sua cuíca na trilha “Suíte Senzala”, composta por Marcelo Cougo especialmente para o documentário que está sendo filmado pelo Coletivo Catarse. Mestre Baptista foi acompanhado do percussionista Dilermando, do ODARA, grupo de dança de pelotas que utiliza o sopapo nas suas apresentações artísticas. Outra participação importante foi da cantora Giamare (em breve postaremos aqui a demo da gravação). Nesta foto estão Mestre Baptista, Dilermando e Giamare,na Casa Brasil, aguardando para entrar no estúdio.

Açúcar branco e Escravidão Negra

O açúcar (çarcara), refino da cana e da beterraba, delícia rara, utilizada em pequenas doses para aromatizar e medicar no Império Persa, foi apropriado pelos árabes e popularizado na Europa, vendido nas farmácias em doses “homeopáticas”. Vens e vais de civilizações atrás desta riqueza, Portugal lidera o comércio e produção da cana-de-açúcar, com as primeiras mudas vindas da Ilha da Madeira. O solo nordestino tinha “ a terra gorda” – massapé. O clima, as águas, a fertilidade das terras, permitiam safras a cada três meses, enquanto nas Antilhas, 16 meses. Mais que cinco colheitas. A fertilidade vinha da matéria orgânica da própria Mata. O equilíbrio na Mãe Natureza se mantém quando há variedade de espécies vegetais e de animais. A economia monocultora rompe esse equilíbrio quando escolhe uma planta que vale mais que as outras e ocupa quantidades imensas de terra. Latifúndio e Monocultura. Isso adoece o sistema natural. A cana ocupou toda a zona litorânea, em Pernambuco, Paraíba, Alagoas e Sergipe numa faixa de 200 km de largura. No engenho, a cana e a vida se transformam: açúcar para o mundo de lá, para os doces daqui, para a água ardente, aguardente… Casa Grande e Senzala. Os filhos, os netos. O Senhor do Engenho, o dono de tudo e de todos, barão da terra, bancou a festa da Coroa Portuguesa, usando o chicote sobre o Negro escravo. O latifúndio monocultor e escravocrata incendiou o nordeste, queimou as matas para abrir espaços de plantio e expansão, perdeu as madeiras de lei, eliminou a flora regional e espécimes da fauna. Gerou a seca. Entre 1560 e até 1850, traficou quase 20 milhões de pessoas de pele negra, excelentes agricultores; atrasou a civilização africana, que possuía agricultura diversificada em terras de posse comunal, trabalho coletivo, relações tribais, ligas artesanais, comércio regulamentado, metalurgia e Universidades. A Igreja Católica cobrou 5% para afirmar – segundo seus preceitos, que essa criatura não tem alma e precisa ser convertida ao bom caminho. Foi a última instituição a apoiar a campanha abolicionista. A alma, religiosidade, ritos, o canto, a dança, aprisionados! A diferença. A dor, o trabalho de sol a sol. A fuga dos engenhos e daquela vida de “porrada” é a maneira de recuperar a HUMANIDADE. O espaço livre, o espaço sagrado. Voltar a SER! O Quilombo dos Palmares, belíssima região, na Serra da Barriga (hoje União dos palmares, Alagoas) lutou 67 anos, recriou uma organização baseada na propriedade coletiva, comunal, a terra para produzir alimentos- milho, arroz, feijão, abóbora, mandioca, cana-de-açúcar para rapadura e aguardente, faziam cestos e outros utensílios da palha das palmeiras, tinham metalurgia para a força guerreira e o trabalho agrícola. Chegaram a gerar inveja e ódio pela quantidade de alimentos produzidos enquanto a crise do comércio açucareiro deixava os senhores de engenhos em fome. Nenhum produto influenciou tanto a história do mundo como o açúcar. Seu processamento em cristaizinhos brancos é resultante do múltiplo processamento químico do caldo de cana. Da cana é extraída toda a fibra. Perdem-se as vitaminas. Nos últimos 100 anos o consumo de açúcar passou de 5kg/pessoa/ ano para 45kg/pessoa/ano. Hoje o açúcar está nas pastas de dentes, biscoitos salgados e doces, conservas, fermentação de pães, confeitaria, refrigerantes. Associados a festa e alegria. O organismo recebe altas doses de produto desconhecido de sua fisiologia, gerando diabetes, obesidade, doenças no coração, hipertensão. Agride o sistema imunológico. Uma endemia, quase epidemia! O organismo humano precisa de glicose, não de “açúcar”. E a glicose é obtida a partir dos grãos (cereais integrais: arroz, aveia, milho,centeio, cevada, trigo, todos os feijões (de todas as cores), nos legumes, verduras, frutas, sementes como de abóbora, de melão, linhaça. Algumas frutas e verduras podem ser produzidas na comunidade. A saúde do povo voltará quando se utilizarem mais alimentos naturais e menos produtos coloridos, aromatizados, saborizados artificialmente. E, também usando plantas medicinais que ajudam a baixar a glicose no sangue. Importante, ainda, é melhorar as condições ligadas ao lixo, ao esgoto, às moradias…todos movimentos importantes. Três séculos foram necessários à consciência européia: a primeira sociedade anti-escravista (inglesa) é de 1792. Em 2007, foi inaugurado o primeiro Museu da Escravidão, em Liverpool, um dos centros do mercado de negros. E no Brasil? Ah, Brasil!BRA… $$$$$$$$$$$$$$$$il… Por Claudinha Lulkin, nutricionista ambientalista e educadora popular. Esta matéria é parte de uma aula sobre Diabetes, apresentada na Cozinha Comunitária da Maria da Conceição, em agosto de 2007.