Dois Cartuns

Esses cartuns vão participar de duas exposições organizadas pela Grafar. O lá de cima é sobre a Monocultura de Eucalipto e o debaixo sobre Aquecimento Global.

Kuaray do Sul

Um filme em busca do mito guarani Sepé Tiaraju junto aos movimentos populares. De como sua luz se manifesta na atualidade: no espírito, no coração e nas ações de pessoas simples.

Rafael lança em livro Artur, o arteiro

O catársico Rafael está lançando seu primeiro livro de quadrinhos. Não é a toa que quem conhece seu trabalho o admira. Leiam o que o Edgar Vasques (autor do Rango) escreveu sobre ele no prefácio: “Rafael tem toda a ferramenta do grande cartunista: o desenho limpo e expressivo, simples (sem ser pobre) que veicula a verve reflexiva e falsamente ingênua das piadas ferinas. Isso o leitor descobre imediatamente no Artur e companhia. Mas tem mais: Rafa é jornalista, editor e visionário. Ainda na faculdade, foi um dos criadores do Bodoque, um zine diferenciado, cujas idéias desembocaram, com coerência e coragem, numa bem-sucedida experiência alternativa de jornalismo e ativismo cultural, que ele vem tocando com seus companheiros. Essa visão jornalística, abrangente e crítica, também está presente na historieta, que se inspira na infância (anos 80) do autor. E, sendo esse autor o multi-Rafa, podemos dizer, sem dúvida e sem trocadilho: essa “infância” é apenas o começo.” Quê: Lançamento do livro Artur, o arteiroQuem: Rafael CorrêaQuando: 23 de outubro, seugunda-feira, às 20hsOnde: Botequim Carioca (Rua Dr. Timóteo, 846, Porto Alegre)Um exemplar, um abraço e um autógrafo = 10 pilas

Usuários do GAPA/RS lançam jornal sobre HIV/AIDS

O GAPA/RS – Grupo de Apoio à Prevenção da AIDS do Rio Grande do Sul está lançando a primeira edição do jornal Mais Expressão de Vida. Escrito por pessoas que vivem e convivem com HIV/AIDS, o principal objetivo do projeto é ampliar a informação sobre o tema e sensibilizar as pessoas atingidas pela epidemia da AIDS para a adoção de atitudes positivas. Mas também estimular o protagonismo dos usuários da ONG, qualificando-os para atuarem como multiplicadores de hábitos, informações e atitudes relativas à epidemia, tornando-os sujeitos ativos na luta por direitos e construção da cidadania. Catarse promove oficinas de comunicaçãoEm encontros semanais, o grupo recebe orientação de jornalistas da Catarse sobre produção de textos e fotos, debate sobre assuntos relacionados ao HIV/AIDS, escolhe as pautas e realiza entrevistas. O principal diferencial deste jornal é justamente ser escrito por quem conhece por dentro a realidade de viver e conviver com HIV/AIDS, e isso se expressa nos textos. Cada edição conta com um encarte especial produzido por populações específicas, falando sobre suas particularidades. Neste primeiro número foi abordada a situação das travestis. A distribuição dos exemplaresO jornal é distribuído gratuitamente pelos próprios autores das matérias em locais onde a população busca informação ou atendimento para HIV/AIDS, como nas salas de espera nos Serviços de Saúde ou em outras ONGs. A Catarse também é responsável pelo projeto gráfico, diagramação e edição do jornal. Contatos para entrevistas e debates:GAPA/RS – Fone: 3221.6363 – E-mail: gapars@terra.com.brCoordenadora do projeto: Grazielly GiovelliAssessoria de imprensa: Catarse – Coletivo de ComunicaçãoF: 3012.5509

Reedição de vídeo sobre trocas solidárias

A Kindernothilfe (KNH) reeditou com a Catarse o vídeo Moeda Social – As trocas solidárias como instrumento para o desenvolvimento do fluxo econômico local. O vídeo é um apanhado de matérias veiculadas nos meios de comunicação, nesses últimos anos, sobre os clubes de troca solidária em atividade no Rio Grande do Sul. Para a KNH, responsável por atividades de multiplicação da metodologia para a formação de clubes de troca, o objetivo do vídeo é estimular entidades e comunidades a adotarem esta idéia que há alguns anos vem crescendo na Região Sul do Brasil.

Catarse finaliza reportagem cinematográfica sobre Sepé e a luta por terra pelos movimentos sociais

Kuaray do Sul é uma reportagem cinematográfica de 55 minutos produzida pela Catarse a partir da Assembléia Continental Guarani – 250 Anos de Sepé Tiaraju (https://www.projetosepetiaraju.org.br/), ocorrida em fevereiro de 2006 em São Gabriel/RS. O audiovisual está pronto e deve ser lançado em breve. Foi contratado pela Via Campesina e teve financiamento da Fundep – Fundação de Desenvolvimento, Educação e Pesquisa da Região Celeiro. Depoimento de líder kaiowá A Catarse publica aqui trecho de uma fala da professora guerreira, índia da comunidade Kaiowá Guarani (MS), Léia, seu nome. Foi pronunciada durante os dias do encontro, que reuniu indígenas do Brasil, Argentina, Paraguai e Uruguai. Numa das noites, ocorreu a exibição de um documentário (da equipe do Centro de Mídia Independente de Goiânia) sobre a expulsão dos kaiowás de Nhanderu Marangatu, sua terra ancestral, em operação da Polícia Federal, seguindo determinação do, então, ministro do Supremo Tribunal Federal, Nélson Jobim, de dezembro de 2005. As cenas de violência e intimidação do poder de Estado impressionam. A força das imagens entristeciam, machucavam e atordoavam os pensamentos dos que tem ainda a sensibilidade de se perguntar como pode o branco não parar nunca de destruir a vida dos índios. Léia foi convidada para comentar a situação no local, as repercussões da expulsão, com o assassinato de seu irmão de povoado, Dorvalino, após tomar 3 tiros de um segurança contratado pelo fazendeiro que tomou posse das terras. Dorvalino havia entrado na área que era de sua comunidade para colher mandioca, que ele próprio e seus irmãos haviam plantado para servir de alimento à comunidade. Algumas crianças, na beira da estrada há oito dias, estavam em processo de desnutrição. E Léia falou: – A gente já sabia que tudo isso ia acontecer. Y para isso não acontecer, a gente tentou sair pacificamente, por que se a gente resistisse, ali, dentro da nossa casa, dizendo que nós não íamos sair, que a gente ia permanecer, a gente ia perder muito mais pessoas. E para não perder nenhum pai, nenhuma mãe… Que as mulheres elas são muito mais corajosas, elas enfrentam os coisas mais de frente. Y quando vai falar ou se segura. Então tudo isso a gente pensou… y a gente pensou sair, assim, pacificamente. Mas mesmo assim a gente passou um sufoco, com a chegada da polícia, tudo. Y o que mais doeu com a gente, na comunidade inteira, foi o que aconteceu, com a morte do Dorvalino… Pra que a gente não perdesse… A gente não estava esperando mais, já eram mais de 8 dias que nós estávamos ali, no meio do caminho, ali, perto da rodovia, passando todos os problemas e as dificuldades… Y o sofrimento era incomparável. Y mesmo assim os fazendeiros não tiveram a tranqüilidade de ver a gente ali, com nosso sofrimento… Eles queriam ver mais sofrimento ainda na gente… Y mataram o Dorvalino ali, onde ele estava inseguro, né? – por que indefeso, ele não estava esperando esse tipo de coisa. Y acabaram matando ele ali, tirando a vida dele, assim, sem ele poder se defender. Então foi uma coisa assim que, como diz o Anastácio, cada um de nós está mesmo para morrer. Y a gente vai perdendo a nossa vida assim, lutando pela terra… Y como já estamos aqui também lembrando da morte do Sepé… Nós que somos liderança de coração, de sangue, de luta, que luta, realmente, para vencer e ver vitória futura, mesmo que não seja agora… Aqueles líderes que dizem: eu sou líder, eu vou lutar, chegarei até o fim. Y nós que pensamos na gente, de dizer, que se sentimos como liderança… Quero dizer para isso para todas as lideranças que se consideram líder indígena, aqui, agora, é… que sintam isso de coração, de lutar pelos interesses da sua comunidade, pelos interesses dos povos que você quer que sejam vitoriosos e não do seu interesse. Por que lutar por terra não é um interesse de um líder, mas interesse de comunidade, de um povo resistente que, até agora, mesmo a gente sabendo que morreram várias pessoas, vários líderes, como o Sepé… Talvez antes do Sepé houveram vários outros que morreram sempre na luta. Tivemos… Eu não sei se existe outros guarani que já morreram… Eu vou citar os nomes de líderes indígenas que já morreram na luta por interesse do povo e não pelo seu interesse. Como Marçal de Souza, que gritava e dizia: não somos animais, para vocês nos massacrarem e tirarem nossos direitos, queremos justiça. Naquela época o Marçal já gritava: queremos a justiça e até agora a gente não teve justiça. Com certeza, todos os líderes que já morreram gritaram à justiça, mas para nós, indígena, nunca tiveram justiça. Nunca. Até agora eu não vejo e não ouço dizer que existe justiça para as coisas que acontecem contra indígena. Nós já perdemos aqui, dos nossos guarani, vários líderes. As outras etnias também já perderam vários líderes, como o Xicão Xucurú y os outros. Y a gente tem que estar sempre firme. Eu não me sinto um líder, não posso dizer que eu sou um líder, mas eu quero ser. Y sinto que o povo precisa de cada um de nós que estamos aqui. Que o nosso povo precisa da gente. Se nós estamos dizendo, aqui agora, representando o povo guarani, temos que ser representante em tudo. Até mesmo lutando até a morte, como o Sepé, por que as pessoas que estão contra a gente não procuram aquelas pessoas que estão lá, na comunidade, procuram o líder. E para ser líder tem que ter coração. E se não tiver coração jamais será líder. Temos que ter coração. Yandé! Em seguida, Léia continuou seu discurso, agora falando em guarani, por mais 25 min. Até agora, este branco que vos escreve não conseguiu traduzir a fala para português, não entende nada de guarani. Desculpas. Principalmente, à Léia. As últimas informações que chegam de Nhanderu Marangatu dão conta de que no final de semana de 31 de março à 2 de abril, dois …

Uma história de índio contada por índio: de assassínio e resistência

Jefferson Pinheiro Houve um tempo no Brasil, que índios foram mortos pra servir de comida aos cães. Foi no interior de Minas Gerais, na região do Vale do Rio Doce. A Corte Portuguesa queria botar a mão nos minérios daquela área. Em decreto, mandou dizer que qualquer “obstáculo ao progresso” devia ser eliminado. Aquela medida, hoje, é lida como uma carta de guerra aos indígenas. Na verdade, uma permissão oficial para o extermínio. Ali, o primeiro contato entre os colonizadores e os índios se deu em 1850, mas somente com a abertura da Estrada de Ferro Vitória-Minas, construída entre 1905 e 1911, foi que os brancos invadiram a região. Uma parte dos Borum tentaram resistir e: – massacre! Outra, como tática de sobrevivência, preferiu o caminho da assimilação, misturando seu sangue com o dos invasores e trocando a mata pela cidade – um processo de aculturação tão contundente que os filhos desta união não conseguem se enxergar como índios. Um terceiro grupo reagiu ao perigo do confronto recuando na floresta até o seu limite, quando então o governo resolveu fundar um aldeamento (os aldeamentos não serviam para proteger os indígenas ou garantir-lhe terras, mas para confiná-los num espaço conveniente às forças políticas e aos interesses econômicos). Ainda assim, o SPI (Serviço de “Proteção” ao Índio) arrendou a área aos agricultores, que exploravam os Borum como mão de obra escrava. Acreditavam (será?) os senhores de terno que o aprendizado nas lidas da enxada e do arado seriam um estágio benéfico aos indígenas. Estes, em homenagem a um de seus líderes que pensava o contrário, passaram a se chamar Krenak. Então, na década de 50, os homens de colarinho resolveram construir uma prisão só para os índios, como forma de dar um corretivo nos rebeldes que não estavam dispostos a passar pelo processo de qualificação profissional imposto ou dividir as suas terras com os colonos. O lugar passou a ser muito freqüentado pelas lideranças indígenas e os krenak foram proibidos de falar a sua língua dentro das próprias casas. Chegou o período da ditadura e os fardados milicos indicaram um interventor para o estado de Minas, que resolveu simplificar o conflito. Saqueou as terras que pertenciam aos krenak (mesmo que o assunto fosse de competência federal) e presenteou-as aos agricultores. Os índios foram distribuídos para outras tribos ou abandonados nas cidades próximas. Pois bem, e as mulheres? Foram elas e as crianças remanescentes – já não havia mais homens adultos – que na década de 90 rumaram por dias a pé de volta pra casa e conquistando o apoio de parte da opinião pública, resgataram em 1996 o que os brancos haviam lhes roubado: o lugar original de viver. Foram elas também, que no encontro com o útero fecundo da mãe-terra, e determinadas a não mais serem violentadas em seus direitos, iniciaram o processo dos krenak de se apropriarem do estudo formal. Hoje, todo jovem krenak em idade universitária está cursando a faculdade. Esta história foi contada no Fórum Internacional Povos Indígenas em agosto de 2005, na PUC, em Porto Alegre, por Jaider Batista da Silva, Reitor do IPA Metodista. Descendente do povo krenak, junto com sua mãe e outros de mesmo sangue, construíram um grupo de solidariedade que propiciou apoio e infra-estrutura para os indígenas cursarem a universidade. Estes jovens continuam morando na aldeia e preservando a cultura, mas o povo krenak adquiriu autonomia e hoje é ele quem decide até onde os brancos podem ir nas trocas que estabelecem. Jaider lembra que a universidade domina o aprender a aprender e o aprender a ensinar – conhecimentos diferentes da sabedoria. Neste espaço são os índios que trafegam com maior naturalidade, contribuindo muito para o aprender a ser. Este texto não é uma fábula, portanto, não precisaria ter uma mensagem como desfecho, mas, se o Reitor quis lembrar Paulo Freire, por que eu o excluiria desta história!?: “Não importa o que fizeram de nós. O que importa é o que fazemos com o que fizeram de nós”. Os krenak chegaram a ser considerados extintos. Hoje, são 300 pessoas.