Uma das mentiras mais repetidas no Brasil sobre a Venezuela é sobre a falta de liberdade de expressão e sobre a inexistência de mídia de oposição.
É uma mentira repetida por ignorância ou por ideologia.
É como dizer que a liberdade de expressão está cerceada na Argentina, onde o Grupo Clarín torpedeia o governo diariamente. Pura conversa fiada.
Na verdade, o que se gostaria é que não existisse mídia a favor do governo.
Na Venezuela, o que não falta é jornal impresso anti-Chávez.
Na tevê, a Globovision é um partido de oposição.
Vai um texto para refrescar a memória dos empedernidos.
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Caracas, 6 mar (EFE).- Os principais jornais venezuelanos não esconderam as críticas ao governo do presidente Hugo Chávez ao analisar nesta quarta-feira sua morte, aos 58 anos, após quase dois anos de luta contra o câncer e depois de quase uma década e meia no poder.
“Começa era sem Chávez”, publicou “El Universal” sobre uma foto do governante e de um editorial em que sustentou que o presidente da Venezuela por 14 anos “entra para a história” e “tudo indica que se encerra um ciclo e termina o apelo extremamente personalista da chamada revolução bolivariana”.
O veículo acrescentou que o “estilo” de Chávez, “polarizador, sectário e agressivo com seus adversários, gerou a divisão do país em praticamente dois grandes setores: o chavismo, por si só, e a oposição democrática”.
O jornal “El Nacional”, de linha editorial crítica ao governo, também publicou uma fotografia de Chávez na capa, ao lado de outra, onde se vê um grupo de seguidores chorar a morte do líder.
“Durante os últimos 20 anos, Hugo Chávez se tornou o centro da política e da história venezuelanas. Sua ambição pelo poder tomou primeiro o caminho das armas”, disse a publicação em seu editorial de capa em alusão à tentativa militar frustrada que liderou em 1992, contra o então presidente Carlos Andrés Pérez.
“Dominou todos os poderes do Estado, impôs a reeleição indefinida, desfrutou dos mais altos preços do petróleo, personalizou o poder de maneira que depois de uma década e meia de revolução bolivariana deixa as a estruturas de um Estado construído a sua imagem e semelhança”, acrescentou.
O diário “Últimas Noticias” publicou a manchete “O povo chora Chávez” e destaca também junto a uma fotografia do governante que este, “após ganhar 16 processos eleitorais, perdeu sua última batalha contra o câncer”.
Sob um lacônico “Morreu Hugo Chávez” o jornal “TalCual” admitiu em sua capa que os que trabalham nesse matutino dissentiram “frontal e radicalmente de seu governo, sem rodeios”.
O editorial na capa do diário, dirigido pelo ex-candidato presidencial Teodoro Petkoff, conhecido opositor de Chávez, transmitiu seu pesar a familiares e colaboradores, e especialmente, disse, a “esses milhões de venezuelanos que o seguiram politicamente e nos quais despertou uma intensidade afetiva muito pouco comum”.
O “El Correo del Orinoco”, um dos jornais governistas, foi um dos poucos que não publicou na capa o rosto de Chávez.
Sob a manchete “Morte do presidente Chávez enluta a Venezuela e o mundo”, publicou uma fotografia feita no momento em que o vice-presidente do país, Nicolás Maduro, que será o candidato governista nas eleições presidenciais que acontecerão em até 30 dias, anunciou a morte do chefe do Estado.
Em outras três fotos menores, também na capa da publicação governista, veem-se seguidores de Chávez chorando a notícia de sua morte.
“Centenas de pessoas se reuniram perto do Hospital Militar e na praça Bolívar de Caracas para manifestar sua dor pela morte de um líder único que deu sua vida pelas grandes maiorias excluídas”, escreveu “El Correo del Orinoco”.