ARBITRIO E ARBORICÍDIO

Por Tania Jamardo Faillace – jornalista e escritora – ativista social

Que tristeza, Sr. Governador

Mandar nossa Brigada Militar, aparelhada em missão de guerra, prender, não assaltantes, sequestradores ou corruptos e malversadores dos recursos públicos,  mas duas dúzias de jovens que estavam dormindo, e que não cometeram qualquer crime, a não ser zelar justamente pelo patrimônio público e ambiental de nossa cidade!

Enodoar nossa Brigada, de gloriosa memória, com essa ação ignóbil contra os direitos humanos e os da cidadania, para acobertar os crimes ambientais da Quadrilha da Vegetação Zero (que já foi indiciada federalmetne) , órgão da administração municipal, que imagina ser uma monarquia absoluta de direito divino (ou demoníaco?).

Uma operação de guerra contra jovens inofensivos que cumpriam seu dever de cidadãos e de defensores dos interesses de nossa cidade, contra a poluição, o aquecimento global, e a favor da saúde pública e da qualidade de vida, numa demonstração do mau uso de recursos públicos num Estado que está perdendo a arrecadação, desde que cedeu totalmente à exploração do exclusivismo rodoviário…

Qual a rubrica dessa despesa que a cidadania não pediu?

Qual a justificativa? Abrir espaço para as extravagâncias do PAC da Copa, evento que deixa um rastro de ruína pelos países por onde anda, e que está sob o arbítrio de uma entidade que todos conhecem como a maior lavanderia mundial de dinheiro mal havido?

Quando pensamos que a luta ambientalista no Brasil começou exatamente no Rio Grande do Sul, e que, justamente agora, – quando no mundo se abre a consciência da depredação ambiental e do crescimento errado das cidades, em matéria de política fundiária, mobilidade urbana, construções de espigões sem demanda, ao passo que o cidadão de baixa renda deve espremer-se em favelas legais de paredes cartonadas e 20m2 de área… – vem o Rio Grande do Sul institucional alinhar-se com os especuladores do espaço urbano, os inimigos do meio ambiente, e da saúde ambiental.

E que ação covarde, tchê! Atacar uns poucos jovens desarmados, que não cometiam qualquer crime ou infração, usando centenas de homens pagos pelo Estado (e também mulheres que se prestaram a isso) num ataque sorrateiro durante a madrugada, para derrubar dezenas de purificadores naturais de nosso ar contaminado…

Servidores públicos estaduais a servirem de cobertura para crimes ambientais cometidos por servidores municipais, contra a vontade do povo de Porto Alegre, e inclusive sem prestar esclarecimentos sobre as razões secretas da pista sui generis que está sendo construída, e cujos planos e projetos são conservados em sigilo nos cofres  da secretaria da Copa (ou da FIFA, já nem se sabe direito quem é o poder superior em nossa terra).

Que vergonha e que tristeza…

Cinquenta mil pessoas que estão listadas para o despejo compulsório, centenas de ilícitos são cometidos em licenciamentos ambientais e outros, inclusive transações discutíveis, e que ferem o Direito Adminstrativo, em torno desse opróbrio que já é a Copa de 2014, questionada judicialmente de norte a Sul em nosso País, e o Estado do RS rebaixa sua segurança militar ao papel inglório de servir de guarda-costas da  Quadrilha da Vegetação Zero…

Não lutamos tantos anos pela redemocratização para cair novamente nas mãos do arbítrio e do despotismo institucional.

Foto da capa: Ramiro Furquim/Sul21

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