Como se constroi o imaginário coletivo

Por Gustavo Türck.

Há quatro anos morria assassinado o integrante do Movimento dos Sem Terra Elton Brum.

O Coletivo Catarse esteve na área que aconteceu o conflito antes e depois da ação do governo do estado que culminou com esta morte. Nossa opinião é de que não houve fatalidade e de que tudo apontava para esta tragédia, assim como posteriormente o sentimento era, pra além do desespero, o de indignação sobre como o tema vinha sendo distorcido – como se coloca no texto a seguir, publicado a 6 de novembro de 2009 no meu blog (link original).

Da série “Quem matou Elton Brum?”: como se constrói o imaginário coletivo
É assim que os meios de comunicação de massa procuram reescrever a história:

do Correio do Povo
PM afirma que não atiraria em colono
O policial militar Alexandre Curto dos Santos, 38 anos, declarou ontem que não atiraria contra o sem-terra Élton Brum da Silva, 44 anos, caso soubesse que sua arma estava com munição letal. Em entrevista exclusiva ao repórter Jimmy Azevedo, da Rádio Guaíba, o soldado da Brigada Militar relembrou os momentos que antecederam o disparo que resultou na morte da vítima, durante a operação de reintegração de posse da fazenda Southall, ocorrida no dia 21 de agosto passado em São Gabriel. O brigadiano, do 6º RPMon, com sede em Bagé, foi acusado de homicídio. “Se tivesse com uma arma com munição letal, não teria feito isto”, reafirmou.

O soldado Alexandre contou que visualizou o sem-terra junto de um colega seu que estava a cavalo. “Em um ato de reflexo, calculei que ele puxaria as rédeas do cavalo do meu colega para deitá-lo”, relembrou, ao falar sobre a reação que teve naquele exato momento.

O soldado atirou na “certeza que não causaria uma lesão letal”. O estampido diferente da arma, observou, chamou imediatamente sua atenção. “Vi que se tratava de cartucho letal e, a partir desse momento, não vi mais nada, fiquei completamente paralisado”, recordou Alexandre, acrescentando que ficou “em estado de choque”.
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Aqui algumas informações que estamos coletando:
– a cavalaria entrou pelos fundos do acampamento, Elton estava segurando a linha da frente, onde várias pessoas portavam escudos de compensado
– ele caiu, se virou, houve o tiro
– seu corpo ficou em área isolada, sob a lona preta por mais de hora, até que a situação fosse violentamente acalmada (sim!) pelos brigadianos e se tomasse providência de socorro
– não foi possível a ninguém de fora acompanhar esta ação (nem as procuradoras, que só tiveram acesso ao local bem depois)
– a primeira notícia que saiu, dada em primeira mão ao PRBS pela BM e prontamente publicada pelo seu veículo em internet, foi a de que Elton teria morrido de mau súbito
– aqui abaixo, a contundência desse “mau súbito”: a ignorância, a intolerância e a desfaçatez

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“Troca de arma teria sido acidental”, diz
Sentindo-se abalado e encontrando-se em tratamento psicológico, o policial militar desabafou que “é uma coisa que tu não esquece”. Ele explicou que, em caso de confronto com assaltantes, sabe que a situação seria diferente e alguém poderia ser morto. Em uma reintegração de posse, o PM entende que o tipo de munição é outro. Ao repórter Jimmy Azevedo, o soldado declarou ainda que deduz que trocou de arma acidentalmente com um colega durante a viagem entre Bagé e São Gabriel. Atualmente, o PM exerce função administrativa e foi afastado do policiamento ostensivo.

– noooooooossa!!! Este remendo-arremedo chega a ser constrangedor…
– “Atualmente, o PM exerce função administrativa e foi afastado do policiamento ostensivo.” – ele não deveria estar preso???

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