[por Jacques Távora Alfonsin]
Morreu Eduardo Galeano. A homenagem prestada aos mortos como Galeano sempre fica tateando palavras as mais adequadas para recordar uma vida querida, que as/os amigas/os não gostariam tivesse fim. Galeano era ateu e, com certeza, após a sua curta e aborrecida experiência infantil, como coroinha, quando abandonou a religião católica, como ele mesmo conta, pode estar comprovando agora se tinha ou não razão sobre sua falta de fé em Deus.
Escritor, perseguido político em mais de um país, durante as ditaduras latino-americanas do século passado, a sua pena não tinha pena do capital nem dos países que abriam e ainda abrem as veias da América Latina, cúmplice daqueles regimes de violência. Frequentador assíduo da Feira do Livro e do Forum Social Mundial em Porto Alegre, vizinha da sua Montevideo, sabia dosar literatura com crítica política nos dois eventos, em textos muito vivos ora de humor, ora de ironia e até de sarcasmo.
Ninguém passa incólume de impressão e emoção sobre a autenticidade e o vigor dos libelos “proféticos” desse ateu. Em coletânea de pequenos estudos críticos do Forum Social Mundial (“Reflexões sobre o consumo responsável”, São Paulo: Instituto Paulo Freire, 2008) publicou “O império do consumo”, abrindo a sua reflexão com um parágrafo muito oportuno para quem confunde a liberdade com a liberdade do mercado:
“O sistema fala em nome de todos, dirige a todos suas imperiosas ordens de consumo, entre todos espalha a febre compradora; mas não tem jeito: para quase todo o mundo esta ventura começa e termina na telinha da TV. A maioria, que contrai dívidas para ter coisas, termina tendo apenas dívidas para pagar suas dívidas que geram novas dívidas, e acaba consumindo fantasias que, as vezes, materializa cometendo delitos. O direitos ao desperdício, privilégio de poucos, afirma ser a liberdade de todos.” (…) “Como diz um velho provérbio turco: aquele que bebe a conta, fica bêbado em dobro”.(…)
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