O Coletivo Catarse vem se manifestar porque entende este momento no Brasil como interessante, como singular na história do país. Imaginamos ser possível, no caos vigente – que é sinal de que alguma coisa está para acontecer (sábias palavras, Raul Seixas) -, que se possa crescer com tudo o que está ocorrendo.
Na nossa noção de democracia, de liberdade, entendemos que o pensamento divergente deva coexistir, deva servir de alimento a todos os lados para crescer e entender a realidade, que jamais, entendemos, seja monolítica ou, inclusive, dicotômica, de simplesmente “certos” e “errados”.
Mas nós, do Coletivo Catarse, a partir do momento em que se generaliza entre grupos de pessoas o sentimento de ameaça à existência, em suas vidas privadas, no seio da família – pra utilizar termo coerente e análogo ao conceito de reunião de pessoas que se amam de uma doutrina bem significativa de nossa sociedade -, nos sentimos na obrigação de nos manifestarmos. Não que já não o tivéssemos feito em outros momentos também de crise, não que já não o tivéssemos presenciado em ocupações, desalojamentos ou manifestações, mas, hoje, nos parece existir uma singularidade que nos demanda este tipo de manifestação.
Nossa pauta de cobertura sempre foi aberta e tratada com responsabilidade. Nascemos com a ideia de que vários estratos de uma sociedade deveriam ter um espaço que não lhes era concedido. Nunca deixamos de nos posicionar, opinando inclusive, acerca do que achávamos interessante para funcionar naquilo que é entendido como “sistema” – nossos trabalhos dizem isso e nunca nos escondemos.
Por tudo isso, achamos que é imprescindível que nos manifestemos agora. Não a favor de alguém, não a favor de um governo ou de um partido que faz parte de um tipo de democracia que grande parte de nosso coletivo entende como falida, mas a favor da liberdade. Não é possível que, no limiar atual de evolução da humanidade pessoas precisem esconder a sua identidade. Não é mais possível que as pessoas não possam se manifestar livremente sem que sejam assediadas e ameaçadas da maneira que seja. Fizemos uma cobertura intensa das manifestações de 2013, nossos vídeos estão abertos em um canal de multinacional que faz parte de uma rede social, foram divulgados em outra rede, circularam em palestras, eventos – com ou sem presença do Coletivo – e suscitaram discussões. Ali, naqueles vídeos, por mais tensas que fossem as relações entre os lados que cobrimos, não presenciamos e não lemos incitação declarada à eliminação sumária a algum lado que fosse, não se pedia abertamente a morte de alguém, mesmo que isso pudesse circular em algum diálogo ou pensamento na polícia ou na multidão.
Hoje, no entanto, enxergamos a construção de um momento mais complicado a quem sequer ousa diferir, a quem simplesmente pensa contrariamente a um conceito de sociedade culturalmente publicizado. Estamos enxergando o crescente ódio ideológico e de classes abertamente se implementar no país através de um pensamento monolítico empregado de forma maniqueísta por meios da mídia de massa – mas que não são propriedade das massas e, sim, de meia dúzia de famílias – e que encontra reverberação numa classe que não quer perder seu status, porque privilégios, do jeito que a coisa se desenha há 13 anos, ela nunca esteve perto de perder.
Não, de jeito nenhum compactuamos com isso. De jeito nenhum vamos aceitar o cerceamento, não do que pensamos, mas do que somos enquanto pessoas. Ninguém vai tirar o nosso direito de discordar, seja de quem for da esquerda ou da direita.
Em 2016, agora, alguns não se sentem seguros, não caminham seguros pelas ruas com a camiseta da cor que desejam ou estampando a sua idolatria, admiração ou pensamento político. Em 2016, há pessoas nas famílias de alguns, em grupos de whatsapp de futebol e amenidades, do Facebook, de lista de e-mails, que seja, que querem a sua eliminação.
Nós, enquanto Coletivo, nunca quisemos isso de ninguém, por mais que nos posicionássemos contrários às arbitrariedades de determinados grupos, por mais que individualmente sentíssemos, alguns, que iríamos explodir de angústias com os cenários que encontrávamos, quando cobrimos sem terras, movimentos LGBTs, de direitos das crianças e adolescentes, de luta pela moradia, agroecologia, quilombolas, indígenas…
Nós lutaremos da nossa forma até o fim pela liberdade de existência. Seja lá o que signifique isso na particularidade de cada membro do Coletivo.
PS: dia histórico ontem, 16/03?! Como na morte de Marighella, em 1969, havia um jogo do Corinthians passando e multidões aplaudindo (https://cartamaior.com.br/?/Editoria/Politica/A-morte-de-Carlos-Marighella-40-anos-depois%0D%0A/4/15243)