Cobertura internacional das enchentes no RS

Durante o mês de maio, o Coletivo Catarse recebeu a visita do jornalista independente Michael Fox – profissional estadunidense com histórico de coberturas na América Latina e atual responsável pela série em podcast Under The Shadow (sabe inglês? ouça aqui!), produzida em parceria com o Coletivo e que conta a influência e exploração do imperialismo estadunidense sobre a América Central. Numa volta que envolveu idas a bairros de São Leopoldo, Canoas, Centro da capital e ilhas, produziu-se em conjunto diversos materiais sobre as enchentes, que foram veiculados em diferentes canais de mídia mundo afora. A recorrida se iniciou em um domingo, passando-se pela Rua Washington Luiz, indo-se até as margens do Guaíba, adentrando-se ruas de praia adentro – já bastante esvaziadas, mas ainda com muitos resquícios como um fundo de lago que virou a região por muitos dias. Do primeiro movimento surgiu materia para a Al Jazeera, contando a história das pessoas e lugares atingidos – a dona da papelaria, ao lado do colégio particular, sem energia elétrica ainda, que perdeu praticamente tudo; os donos de pequenos comércios, um bar e uma lanchonete, moradores da rua, que ficaram sobre as mesas por dias a fio para cuidar de seus negócios; dos pescadores das ilhas, sem mais o que pescar; os afogados de um bairro inteiro que ficou 5m embaixo d’água; e os prédios e caminhos históricos no meio disso tudo: https://www.aljazeera.com/economy/longform/2024/6/11/the-future-is-dark-inside-the-brazilian-businesses-shattered-by-floods Um dos desdobramentos que Michael Fox reportou foi os problemas de saúde pública que começavam a aparecer. Na ida às ilhas, acompanhando um médico, viu-se um atendimento precário, mas necessário. Conversas sobre leptospirose, micoses e outros enjoôs foram constantes, fosse cruzando o Guaíba ou nos abrigos visitados – como um com mais de 500 pessoas em São Leopoldo. https://theworld.org/stories/2024/06/18/as-flood-waters-drop-brazil-faces-a-waterborne-disease-outbreak A cidade, que comemoraria 200 anos da imigração alemã logo ali, em 25 de julho, teve muitas áreas inundadas pela superação dos diques do Rio dos Sinos – um curso de água tão mais conhecido por sua escassez nas últimas décadas do que por suas cheias. O prédio da prefeitura ficou com seu primeiro andar completamente alagado, mas, nesse dia de visita, conseguimos acessar em meio à limpeza os andares superiores para uma conversa com o prefeito Ary Vanazzi. Este acompanhamento gerou um material para uma rede de televisão turca: Michael ainda deu a “sorte” de presenciar o nascimento de uma ocupação – na vizinhança da Comuna do Arvoredo, sede do Coletivo Catarse, na Rua Fernando Machado, surgiu a Ocupação Desabrigados da Enchente. https://truthout.org/articles/climate-refugees-are-occupying-abandoned-buildings-in-southern-brazil Como bom estadunidense que é, também cobrindo para um programa de rádio pública de seu país natal, de notícias globais, o tema “aeroporto” está sempre em voga – uma ida a um shopping em Canoas para presenciar as retomadas dos voôs partindo da região metropolitana de Porto Alegre. Azul, Latam e Gol usando um espaço e o saguão ao lado de uma pista de patinação no gelo para embarcar até a Base Aérea de Canoas pessoas que estavam com suas passagens remarcadas de longo tempo, presas, com destinos como São Paulo, Recife, Rio e Equador. https://theworld.org/stories/2024/06/06/a-city-in-southern-brazil-is-forced-to-adapt-after-floods-shut-down-a-major-airport Mike, mesmo sendo from USA, não voltaria mais ali – para Canoas, substituindo o Salgado Filho. Mesmo sendo estadunidense, pegou um Uber de retorno a Osório, onde embarcou em um bus a Floripa e vem mandando todo o seu trabalho captado e processado, enquanto planeja mais uma volta no futuro – que pode vir a ser Alaska, no caminho, agora, contando as histórias de como o Império agiu e como foi a resistência na nossa América do Sul – isso, então, para uma segunda temporada de Under The Shadow. To be continued… Texto: Gustavo TürckFotos: Billy Valdez, Michael J. Fox (sim, este é o nome dele) e Gustavo Türck

Novas Fronteiras do Ativismo Social – live! Inicia dia 20/06, 19h30

Na quinta-feira, a partir das 19h30, no Espaço Cultural Maria Maria, Comuna do Arvoredo (Rua Fernando Machado, 464 – Centro de Porto Alegre), inicia-se um ciclo de debates proposto por um conjunto de pesquisadores e ativistas, no contexto das interações e dos resultados propiciados pelo Projeto de Pesquisa “O TERCEIRO ARQUIPÉLAGO – A RECIPROCIDADE E OS COLETIVOS DE AUTO-ORGANIZAÇÃO DA VIDA COMUM”. São encontros que ocorrerão como forma de se oportunizar momentos de diálogo entre ativistas, estudiosos e outros agentes. Estreiando neste espaço, ao vivo e com transmissão simultânea pelo canal do Coletivo Catarse no Youtube, o ciclo consistirá em uma sequência de painéis (2 por mês, um no Espaço Cultural Maria Maria e outro na Cooperativa GiraSol), com apresentações, comentários e conversas, versando sobre práticas contemporâneas de ativismo social, abordadas em sua diversidade temática e em suas múltiplas formas de atuação. “O propósito do ciclo é trazer conhecimento mútuo a respeito, com referência principalmente aos coletivos de auto-organização da vida comum, e propiciar diálogos acerca de suas motivações, inovações e sentidos, no contexto local de Porto Alegre, regional, em países ou continentes, e global. É uma ideia de se reunir pessoas envolvidas ou interessadas nos temas abordados, com variadas inserções e enfoques, para se realizar uma dinâmica de reflexão conjunta, visando conhecer, compreender, apreciar e dimensionar os ativismos atuais, assim como gerar engajamento e participação” – é o que afirma o Professor Luiz Inácio Gaiger, coordenador geral do proposta. O ciclo se direciona a ativistas, agentes (ONGs, entes públicos, entidades diversas), pesquisadores, acadêmicos e demais pessoas interessadas. Seu intuito principal é promover o diálogo direto, face a face, entre os participantes. Cada painel será composto por ao menos um ou uma ativista no papel de apresentador/a de sua experiência, por ao menos um ou uma ativista de outra experiência, no papel de comentador/a e, ainda, por pessoa conhecedora do tema (pesquisadores, intelectuais engajados, agentes sociais, acadêmicos), no papel de analista. Ademais, haverá uma pessoa mediadora em cada sessão, função a ser exercida em rodízio por integrantes da equipe responsável pelo Ciclo. Detalhes da programação e do desenvolvimento das sessões serão anunciados mensalmente em vários canais de divulgação. Programação temáticaAs formas de ativismo e os propósitos do engajamento são múltiplos. Há exemplos concretos de vários deles em Porto Alegre e região. O Projeto de Pesquisa à base dessa proposta explorou detidamente 120 casos (coletivos) em vários países, encontrando exemplos similares às iniciativas de Porto Alegre, além de outras formas que podem ser trazidas para fins ilustrativos, comparativos ou de contextualização. Assim sendo, a programação dará preferência a temas em relação aos quais se conheçam experiências locais e ativistas. Os nomes dos coletivos e demais participantes convidados serão divulgados a cada mês, tendo-se em vista a seguinte lista temática: • Agroecologia, vegetarianismo e veganismo• Alternativas de mídia e jornalismo• Ancestralidade, raça/etnia e desenvolvimento comunitário• Consumo consciente• Cooperativismo de plataforma• Cuidado, reparação social e emancipação• Cultura digital e software livre• Cultura e arte• Feminismo, equidade e questões de gênero• O ativismo a partir de empresas de mercado• O Bem-Viver e o sentido do Terceiro Arquipélago• Produção, consumo e sustentabilidade• Vida urbana e sustentabilidade Promotores e ResponsáveisAuspiciam a atividade o CNPq (via Prof. Luiz Inácio Gaiger), a Cooperativa GiraSol, o Espaço Cultural Maria Maria, o Coletivo Catarse/Ponto de Cultura e Saúde Ventre Livre e o CAMP (Centro de Assessoria Multiprofissional), por meio de recursos financeiros e materiais, diretos e indiretos. Colaboram, participando do evento e auxiliando em sua difusão, o Grupo de Pesquisa EcoSol (Unisinos), a Rede de Economia Solidária e Feminista (RESF) e a Guayí. Apoiam, por meio de suas marcas institucionais e via mobilização de seus docentes, pesquisadores e estudantes, a Unisinos a UFPEL e a ABET (Associação Brasileira de Estudos sobre o Trabalho). Equipe gestoraLuiz Inácio Gaiger – CNPq (coordenação geral – luiz.Gaiger@gmail.com)Marilia Veronese – UnisinosAndré Mombach – Cooperativa GiraSolDaniela Tolfo – Espaço Cultural Maria MariaHelena Bonumá – Rede Feminista de Economia Solidária e GuayíMarcelo Cougo – Coletivo CatarseGustavo Türck – Coletivo CatarseMonika Dowbor – UFPEL (PPG de Ciência Política)Adriane Ferrarini – UFPEL (PPG de Sociologia)

Recuperar o soque para simbolizar a superação

As enchentes no RS atingiram não só diretamente as vidas de pessoas e animais, mas também os objetos, os projetos, as atividades, planos… os diversos futuros. Em Triunfo, há cerca de 500m de distância da margem do Rio Taquari, a residência de um parceiro do Coletivo Catarse foi atingida completamente. Uma área no tranquilo bairro Olaria, fora do centro urbano, mas bem habitada, no estilo vila bucólica. A casa e a estrutura de trabalho da família, um tipo de gleba, com pequena agrofloresta, cheia de frutíferas e outros manejos, ficaram completamente sob as ferozes águas das cheias, que chegaram escoadas em um rio já quase sem mata ciliar em suas margens – uma das razões diretas do absurdo que se viveu na região. O médico veterinário Fabio Haussen e sua companheira, a psicóloga Andreia Vasques (insta: @psico.andreiavasques), agora se dividem na recuperação de suas estruturas e no auxílio à comunidade e ao município – já que fazem parte de uma frente de solidariedade que não vai parar ainda por um bom tempo. A ligação desta família com o Coletivo Catarse vem de algum tempo já. Por certa proximidade e por ter um gosto ligado à cultura do gaúcho, Fabio já participou de duas carijadas realizadas pelo Coletivo – seu sítio, no interior do município, mantém um erval, ao qual teve duas podas cedidas aos eventos, uma em 2016 e outra ano passado, em 2023. Aqui neste link é possível observar todo o processo da produção artesanal de erva-mate que se fez, demonstrado em texo, fotos e vídeo, com as imagens da colheita à pilagem. A pilagem… Foram moídos ali, então, cerca de 25kg de erva, num soque adquirido pelo Coletivo Catarse durante o projeto Roda Carijo em 2015, que acompanhou diversas carijadas ao longo dos anos, apoiando amigos e parceiros ou batucando em eventos próprios, produzidos pelo próprio Coletivo. Numa nova fase de realizações destes eventos, pós um período inerte de pandemia, esta ferramenta pesada já havia circulado alguns bons quilômetros – e se planejava, num futuro bem recente, fazê-lo andar ainda mais. Então, nesta parceria com a família de Fabio, após a I Carjada Kaatártica em Triunfo, decidiu-se por armazenar o soque na casa às margens do Rio Taquari – sob a espectativa da realização, num próximo período, de pelo menos mais duas carijadas. Infelizmente, como mais uma vítima das enchentes – mas jamais igualada em sofrimento com quaisquer das vidas atingidas por tamanho desastre -, o soque ficou completamente embaixo d’água. Agora, Dr. Fabio e o Coletivo Catarse vão, juntos, tentar recuperar esta ferramenta simbólica, fazê-la bater erva novamente e já planejar um novo encontro de carijada para representar uma superação necessária. Amigos e parceiros que não se entregarão ao infortúnio, mas de jeito nenhum! Reportagem: Bruno Pedrotti e Gustavo Türck (texto)Fotos: Billy Valdez Confira uma pequena galeria:

Vem aí o Talk Exu, o talk show do Coletivo Catarse

Dia 14/06, 20h, no canal do Youtube do Coletivo Catarse – com Musical Talismã e Lorena Sánchez. Direto do Espaço Cultural Maria Maria – situado na Comuna do Arvoredo, na Rua Fernando Machado, 464 (Quer ser público? É só chegar!). Esta é uma proposta de projeto. Uma ideia que quase emplacou num edital do Fumproarte, já sendo uma derivação de outras iniciativas que o Coletivo Catarse/Ponto de Cultura e Saúde Ventre Livre realizou ao longo dos últimos 5 anos, principalmente em tempos de pandemia. Pois o Talk Exu vem a se concretizar em um momento complexo para a arte e a cultura popular da cidade de Porto Alegre. Vai servir, num primeiro momento, para divulgar e conversar com artistas que foram atingidos pela parada no cenário cultural – pelo desastre das enchentes -, mas, também, para abrir os caminhos de um novo canal de produção do Coletivo Catarse, que comemora, dentro do possível, neste ano, 20 anos de existência. A escolha pela banda Musical Talismã e pela performance de Lorena Sánchez, com excertos da peça Língua Lâmina, para estreiar o talk show se deu também porque, para além de ambos terem sofrido com cancelamentos de apresentações suas, são simplesmente “artistas da casa” – amigos, parceiros e integrantes do Coletivo – e com uma bela caminhada na cultura popular da capital dos gaúchos. MUSICAL TALISMÃ Sabe aquela música que você tem guardada no cantinho do seu coração? Uma memória que vem junto com um chiadinho de rádio AM e que, se puxar por um fiapo, vem toda a letra e melodia? O Musical Talismã foi criado para trazer à tona essas lembranças, como se encontrássemos roupas antigas em um brechó, que longe de serem conservadoras, lembrassem-nos de antigos afetos, risadas e, por que não, reflexões. A banda é um tributo à Música Popular Brega Brasileira, que fazia sucesso nas rádios, vendia muitos LPs e permitia que as gravadoras pudessem investir nos artistas que hoje são considerados a “nata” da MPB. Álvaro Balaca (vocal) e Marcelo Cougo (Baixo e Violão) se juntaram a Rodrigo Rodrigowski (Guitarra e Violão 12) e Ale Souza (Bateria) e tiraram desse brechó musical obras dos anos 60, 70 e 80 e as transformaram, com roupagens despojadas, em músicas atuais. (facebook.com/musicaltalisma70 e @musicaltalisma70) LORENA SÁNCHEZ Língua Lâmina é um espetáculo lítero-teatral em formato de monólogo que homenageia a poeta Gilka Machado (1893-1980),“a primeira mulher nua da literatura brasileira”, grande pioneira da literatura erótica brasileira, que foi sufocada, criticada e incompreendida pelos preconceitos da sociedade de seu tempo. Em cena, a atriz Lorena Sánchez dá movimento às palavras e verbaliza cada gesto, apresentando fatos marcantes da vida da escritora, ao mesmo tempo em que sua obra vai permeando cada momento. (@lola_produtora e @loresanchez_apa) E a seleção pela figura da entidade Exu… Vai no nome e estará também nas paredes do “estúdio” montado no Espaço Cultural Maria Maria, vem da ligação que esta força da natureza tem com os processos de comunicação, é o Orixá da comunicação e da linguagem, que atua como mensageiro entre os seres humanos e as divindades. O artista plástico Paulo Montiel, que foi residente no Ponto de Cultura e Saúde Ventre Livre, quando era sediado na Vila Jardim, infelizmente falecido recentemente, deixou um acervo de telas pintadas a óleo com motivos dos Orixás – quadros que seguem, hoje, a história do Ventre Livre e ilustram a ligação do Coletivo Catarse com mais este aspecto da cultura popular brasileira.

– ADIADO! – 2ª Carijada Serrana! Para vivenciar o feitio de um mate ancestral

Em virtude das questões climáticas que nos assolam, a carijada que ocorreria em São Francisco de Paula, em 17, 18 e 19 de maio, está adiada. Assim que tivermos condições e novas datas marcadas, divulgaremos. Fique atento! ———————————————– – ADIADO! – Nos dias 17, 18 e 19 de maio, na Fazenda das Taipas, localidade de Caconde, São Francisco de Paula, vai ocorrer a segunda edição da chamada Carijada Serrana. Uma realização do Centro de Tecnologias Alternativas Populares (CETAP – https://www.cetap.org.br/site/) e da Câmara Temática Agroflorestas e com o apoio, entre outros, do Coletivo Catarse – no que deve marcar mais uma atividade dos 20 anos do Coletivo e também os 10 anos do lançamento do documentário Carijo, o filme (https://coletivocatarse.com.br/acervo/carijo/). Esta é uma atividade que se repete após dois anos, quando foram produzidos cerca de 50 kg de erva, podando-se árvores nativas e realizando-se todos os processos e etapas da produção em formato de oficina – montagem do carijo, poda/coleta, sapeco, secagem, ronda, moagem e mateada. Veja como foi a primeira edição! Na carijada deste ano, a proposta é complementar a vivência dos processos com uma perspectiva do manejo agroflorestal para a fabricação artesanal de erva-mate neste sistema ancestral que é o carijo. O CETAP é uma organização que atua nesse contexto já há muito tempo, na região dos Campos de Cima da Serra, e está trazendo essa ideia para enriquecer ainda mais uma função que já é recheada de valores históricos e ecológicos por si só. “Acredito que a inclusão dessa questão do manejo agroflorestal, de se conectar essas pontas da parte de campo, dos manejos, das práticas, da poda, das roçadas, adubação e tudo o mais com o processamento em si, na proposta deste ano, traz mais um importante elemento nos arranjos agroflorestais possíveis para podermos replicar na região, aproveitando os princípios regionais dos campos de cima da serra e, claro, para espalhar a outras regiões também. Então, acho que vai ser uma atividade bem interessante, de se movimentar, por exemplo, uma área com um sistema já estabelecido há pelo menos uma década” – pondera o engenheiro agrônomo da equipe técnica do CETAP e também um dos responsáveis pela organização do evendo, Tiago Fedrizzi. Na programação também está prevista a projeção do documentário Carijo, o filme pela equipe do Coletivo Catarse, que estará presente acompanhando e auxiliando na realização de toda a carijada. Um documentário realizado em edital de Patrimônio Cultural Imaterial em convênio com o IPHAN, baseado em estudos e com acompanhamento do biólogo Moisés da Luz, que trata sobre a metodologia de fabricação artesanal de erva-mate no sistema de carijo, suas implicações, relações e desdobramentos deste conhecimento ancestral. A circulação do filme vem permitindo, na última década, a disseminação do conhecimento de uma prática, hoje, tradicional, carregada na própria história do Rio Grande do Sul, que remonta à época da dominação indígena no território. “Impressiona que, na atualidade, com todo esse avanço tecnológico e a circulação de informações, e mesmo com o massivo consumo de chimarrão no estado, não é todo mundo que conhece como se iniciou a história desta que, hoje, é oficialmente a nossa bebida símbolo e que acompanha milhares de pessoas na rotina do dia-a-dia – seja solitariamente, nas rodas de amigos e familiares e até mesmo no trabalho. Como que algo que é uma construção da cultura indígena, intrinsicamente ligada à Natureza, vira uma commodity industrializada? E quase some depois?” – é o que instiga à reflexão Gustavo Türck, diretor do documentário e que estará presente na 2ª Carijada Serrana. O filme está disponível para quem quiser assistir no canal do YouTube do Coletivo Catarse (clique aqui). Importante ainda destacar que as vagas para participação são limitadas, e as inscrições devem ser feitas até o dia 10 de maio. O valor estabelecido de R$ 150,00 por pessoa garante alimentação nos 3 dias e área para acampamento com estrutura de banheiro e energia elétrica. Abaixo segue a programação: DIA 1 – SEXTA-FEIRA – 17/05– final do dia (a partir das 17h), chegada dos participantes e sessão de cinema com exibição do documentário Carijo, o filme (20h) DIA 2 – SÁBADO – 18/05– visita ao SAF com manejo do erval em área de regeneração natural, com Professor Ricardo Mello (UERGS)– montagem da estrutura do carijo– colheita e sapeco da erva-mate– início da secagem e celebração da ronda no carijo DIA 3 – DOMINGO – 19/05– cancheamento e soque da erva-mate– mateada e divisão da erva-mate de carijo As inscrições devem ser feitas em contato com Tiago Fedrizzi pelo telefone 51-99105.4541.

Dilúvio não ocorre por acaso ou obra divina

Estamos em maio de 2024, e o Rio Grande do Sul, principalmente sua capital, Porto Alegre, é atingido por pesadas chuvas. Por anos, por ter acabado com praticamente toda sua cobertura de matas, por investir no concreto e asfalto, por acabar com todos os resquícios mínimos de qualquer lei de proteção ambiental, o estado e a cidade passam a ter um problema sério em virtude de um clima extremo que se apresenta. A água não é mais absorvida. A água é escoada. E os corpos hídricos se enchem de corpos… O Coletivo Catarse realizou em 2018 o projeto Tainhas no Dilúvio. Ali, já naquela época, após vários eventos climáticos extremos – que já vinham avisando -, Porto Alegre e as grandes cidades mereciam uma reflexão sobre sua relação com as águas. E nossa proposta foi esta websérie/curta-metragem, que faz uma sátira de uma situação de se ter muita água caindo, acumulando, mas não se ter como utilizar este recurso essencial à vida. Assista aqui ao filme: Acesse aqui o site do projeto: https://projetotainhasnodiluvio.wordpress.com —————————- Ficha TécnicaEste filme/websérie é parte integrante do Projeto Uma Tainha no Dilúvio, apoiado pela fundo Socioambiental CASA em edital na linha de ação (tema): Água e questões socioambientais do meio urbano. Produção Coletivo Catarse e Cinehibisco EQUIPE AUDIOVISUAL (COLETIVO CATARSE E CINEHIBISCO) ROTEIROCinehibisco DIREÇÃOGustavo Türck DIREÇÃO DE PRODUÇÃOTêmis Nicolaidis PRODUÇÃOJefferson Pinheiro FIGURINOGustavo Cardoso e Paula Cardoso FIGURINO REPÓRTEREstela Nicolaidis Cardoso FIGURINO FISCAISLeandro Silva FIGURINO PESCADORMário Pirata ASSISTÊNCIA DE DIREÇÃO E OPERAÇÃO DE CÂMERABilly Valdez IMAGENS ADICIONAISTêmis NicolaidisMarcelo Cougo EDIÇÃO E FINALIZAÇÃO DE SOMGustavo Türck EDIÇÃO E FINALIZAÇÃOTêmis Nicolaidis SITE E COMUNICAÇÃOTêmis Nicolaidis ELENCOJanaína – Ana RodriguesDiego – Gustavo CardosoBia – Camila GalarzaYeda – Nena AinhorenDiogo Mezón – Gustavo TürckOuvinte – Ana Lúcia PolettoZé da Terreira, como ele mesmoMara Bodosa – Têmis NicolaidisPescador – Mário PirataFiscais – Leandro Silva e Marcelo PistojaLeonardo Melgarejo, como ele mesmo TRILHA SONORA Delírio UrbanoComposição: Marcelo CougoXilofones: Daniel Lemos e Marcelo CougoGravação: Daniel Lemos Lições de Água (Têmis Nicolaidis e Marcelo Cougo)Violão – Marcelo Cougo Idade Mídia (Eu Acuso!)Música: Carlos LotsLetra: Marcelo Cougo, Carlos Lots e Rafael Göessel MONTAGEM DA CISTERNAAna de Carli AGRADECIMENTOSAna de Carli, Roberta Darkiewicz e Maura RodriguesCris Cubas e Rafael SarmentoCarla Araújo, Junior Cunha e Vinícius CunhaGraça e Eraldo TürckLeandro Anton2nd Chance BrechóAline Ferraz e Antu Tahiel Ferraz LeiteEstela Nicolaidis Cardoso

CANCELADO! FORÇA, PORTO ALEGRE! *CULTURA na Rua #02, comemorando o 1° de maio com as trabalhadoras e trabalhadores da cultura

EVENTO CANCELADO, AGUARDE NOVA DATA. No dia 4 de maio, um sábado, a partir das 17h, a Rua Fernando Machado, na altura do número 464, Comuna do Arvoredo, vai receber mais uma edição de uma atividade promovida em parceria com o Espaço Cultural Maria Maria e o Coletivo Catarse/Ponto de Cultura e Saúde Ventre Livre. As calçadas das 3 casas da Comuna serão ocupadas com estrutura de som, mesas, feira, antiquário e, ainda, uma apresentação de teatro na rua – já a chamada Garajona do Casarão será montada como uma clássica discoteca. Às 18:30, inicia a apresentação “Língua Lâmina – fragmentos”, um espetáculo lítero-teatral em formato de monólogo que homenageia a poeta Gilka Machado (1893-1980), “a primeira mulher nua da literatura brasileira”, grande pioneira, uma autora sufocada, criticada e incompreendida pelos preconceitos da sociedade de seu tempo. Em cena, a atriz Lorena Sánchez (@loresanchez_apa) dá movimento às palavras e verbaliza cada gesto, apresentando fatos marcantes da vida da escritora, ao mesmo tempo em que sua obra vai permeando cada momento. “Desde tempos imemoriais, as mulheres têm enfrentado uma batalha incansável por reconhecimento, por voz, por espaço. É como se a história tivesse sido escrita com uma tinta invisível para nós, obscurecendo nossas contribuições, nossas vozes, nossas vidas. Mas nós, mulheres, não nos resignamos ao silêncio. Muitas se ergueram das sombras e das críticas e fizeram da palavra uma arma, da escrita um escudo. Gilka é dessas pessoas que desafiaram essa realidade, e esta obra é uma tentativa de trazer à luz sua essência, sua luta, seus sentimentos. É um convite para uma experiência sensorial, onde cada palavra, cada movimento, cada projeção nos convida a mergulhar no universo de uma mulher que desafiou as convenções de seu tempo.” – é o que explica Lorena. Terminando o teatro, as atenções devem se voltar para a parte interna, para a Garajona, com DJ Piá (@piaprodutor) em suas pick-ups trazendo só os clássicos do RAP, original funk, soul, reggae, rock e som Brasil. Um presente para um público que andou pelas casas noturnas de Porto Alegre nos anos 2000/2010. Piá, por si só, já é uma atração nostálgica, pois fez sua história de vivências na cultura popular desde 1984, sendo um dos clássicos DJs da tão aclamada Rádio Ipanema FM 94.9 por 17 anos – além de muitas outras atividades, incluindo recentemente as Oficinas de Discotecagem Hip Hop no próprio espaço do Ponto de Cultura e Saúde Ventre Livre. São duas atrações que devem movimentar quem se fizer presente na calçada, nas mesas que estarão por ali, ou quem estiver conferindo a feira de artesanato da FESPOPE (@loja_fespope) – Fórum de Mulheres Negras na Economia Popular e Solidária, composto por mulheres negras empreendedoras e ativistas de movimentos sociais – e, também, o antiquário Ao Belchior (@carmenantiguidades) – tradicional casa de antiguidades, funcionando desde 1930 na cidade, hoje com sede na Comuna do Arvoredo (@comuna_do_arvoredo). Haverá ainda os petiscos das Marias, da Kyzzy Rodrigues (@kyzzyrodrigues), Pão da Comuna, entre outros. “A gente teve um movimento muito legal no nosso primeiro evento do CULTURA na Rua. Comemoramos 1 ano que nos integramos neste espaço da Comuna, e é um prazer receber e trabalhar com um grupo que pensa de uma forma diferenciada, que são todos os envolvidos nesta função. Seja por conta dos coletivos que habitam e se apoiam, seja pelo público que busca algo acolhedor e político. Estamos ansiosas e esperando a todos no dia 4 para celebrar conosco!” – convida Márcia Tolfo, uma das idealizadoras do Espaço Cultural Maria Maria (@mariamariaespacocultural). Toda esta proposta da CULTURA na Rua, além de ser uma atividade conjunta, de muitas parcerias de realizações, integra programação dos 20 anos do Coletivo Catarse. “A Catarse sempre foi boa de festa! Basta ver o nome escolhido para batizar a cooperativa para se perceber o quanto estar junto, coletivamente celebrando, é importante na nossa trajetória. Mas, depois que nos mudamos para a Comuna do Arvoredo – e ainda mais com a chegada das Marias -, a coisa ficou séria! Também, são 20 anos para serem comemorados, revividos, afirmados e sustentados para os próximos anos. E uma parte dessa vivência estará conosco no dia 4 de maio, celebrando as trabalhadoras e trabalhadores do mundo. O teatro na rua e a cultura Hip Hop se encontram com a cultura de luta das mulheres negras da Economia Solidária, se espraiando pela charmosa Fernando Machado, de tantas histórias. Bem, cá estaremos nós montando equipamentos de som e luz, trabalhando com firmeza e alegria para que tudo corra da melhor maneira possível e deixar mais uma marca na história dessa rua e do Centro de Porto Alegre. Se Nietzsche disse não acreditar em um deus que não dance, nós só cremos na luta quando ela se movimenta, dança, ocupando espaços, se relaciona com outras pessoas, outras lutas, outras maneiras de ver e estar no mundo. Desse modo, neste ano, já fizemos e faremos muitos eventos para encontrar para ouvir e contar histórias, dançar e sonhar, pois, na segunda-feira, tudo começa de novo!” – Marcelo Cougo, músico e produtor cultural, um dos integrantes do Coletivo Catarse. E, para finalizar, a data também vai marcar um (re)lançamento oficial pelo Coletivo Catarse do seu (novo!) site – que esteve inativo por um bom hiato durante a pandemia e que já vem sendo reconstituído no último período como um local que, além de contar com as atualizações das ações da cooperativa e do Ponto de Cultura e Saúde Ventre Livre, está em plena organização de um acervo de duas décadas de materiais produzidos, disponibilizando para acesso irrestrito e pesquisas um compêndio de produções das mais variadas. É o que se está denominando Ponto de Memória Catarse – um projeto com apoio da ONG Witness Brasil, realizado em plataforma livre, com a tecnologia Tainacan. Acessa lá e explora bem todo o nosso conteúdo! https://coletivocatarse.com.br CULTURA na Rua #02 Programação:Os trabalhos se iniciam às 17h com os Comes & Bebes das Marias, da Kyzzy Rodrigues, Pão da Comuna, Feira da Loja do …

Ao vivo no Maria Maria #04 – Érick Feijó

Mais uma noite de quinta nas Marias. A cidade aguarda uma chuva que insiste em não cair. Está abafado, e o verão parece ter desistido de viajar. Dentro da Garajona, lugar na Comuna do Arvoredo que acolhe o Espaço Cultural Maria Maria, a alegria é moeda corrente, e o trabalho se mistura com a missão de abrir caminho para mais uma voz negra cantar suas influências, seu passado ancestral, nos colocando ao par, no presente, da existência de um jeito tão leve e encantador de cantar e tocar violão. Com um repertório que transita entre clássicos da MPB e do Samba – e alguns Lados B muito instigantes -, Érick Feijó nos trouxe a lembrança de Paulinho da Viola e João Gilberto. Sempre é bom referenciar um novo artista para que saibamos por onde ele anda, mas Érick vai além, emprestando à sua interpretação algo seu, tão familiar e potente quanto o nome que carrega. Andou também por Montevidéu, e isso traz um sotaque especial, não no seu jeito de cantar, mas no toque sincopado do violão que traduz negritudes no cone sul das Américas. Mais uma noite nas Marias, uma noite única e que, espero, se repita de outras maneiras, com a força e a sutileza da música de Erick Feijó. Texto de Macelo Cougo

Quando a percussão é o coração

No domingo, 7 de abril, o trio Metá Metá esteve com o compositor Douglas Germano no palco do Agulha, na zona norte de Porto Alegre. Lugar de bom espaço, aconchegante – de luz e conforto. Banda de apresentação fenomenal. Um trio com Juçara Marçal (voz), Kiko Dinucci (guitarra) e Thiago França (saxofone), que tem nas suas obras uma tendência forte ao jazz, brasileiro, bem sambado – aliás, eu, na minha ingenuidade sonora, chamaria muito mais de um samba jazzado. Foi um show de sopros e cordas – de violões, cavaco e vocais. E de presença de palco. Impressionante como pessoas com semblante simples, no ápice de suas artes, performando magistralmente, parecem gigantes ali na nossa frente, quase na distância de nosso toque. E o som… Quem ouve Metá Metá, gravado, nas suas plataformas de streaming favoritas – ou baixando as músicas do próprio site da banda (aqui!) – vai perceber que o elemento percussivo está muitas vezes bem presente. Só que o trio é formado por músicos sem as batidas. E confesso que não senti falta do pulsar grave, porque o equilíbrio voz-cordas-sax foi tamanho que entendi o ressoar do meu tambor interno completando as melodias – meu coração foi o “molho”. Destaque para a facilidade com que Juçara Marçal canta, que voz, que mulher – aclamada como “Deusa!” pela plateia (de mais homens que mulheres, interessante). Quem não conhece a banda e gosta de música boa… Pesquisa que não vai se arrepender (aqui o Wikipedia, o insta oficial, ali o site oficial, neste aqui, o insta do Douglas Germano, um encaixe que se mostrou perfeito). Release oficial do show, adaptado: O @agulha.poa recebeu de maneira inédita o mágico encontro entre alguns de seus artistas favoritos: @metametaoficial & @douglas__germano ✨ Metá Metá é formado por @jucaramarcal (voz), @thiagosax (sax) e @kikodinucci (guitarra) desde 2008. A banda tem 3 discos lançados e 2 EPs, onde funde elementos da canção brasileira com música africana, jazz e rock. “Metá Metá” em yoruba quer dizer “três ao mesmo tempo”. Já Douglas Germano é compositor desde 1986, gravado pela primeira vez pelo grupo Fundo de Quintal e conhecido nacionalmente na voz de Elza Soares. Autor de discos antológicos como Golpe de Vista, Escumalha e o mais recente, Partido Alto. Em 2016 ganhou o Prêmio Multishow na categoria Música do Ano por sua “Maria de Vila Matilde”. Com a mesma canção foi indicado ao Grammy Latino na categoria Melhor música em língua portuguesa. O repertório desse show reuniu canções dos discos de ambos artistas, bem como inspirações e versões de canções que certamente irão crescer a partir desse encontro. Texto original de Gustavo Türck, fotos de Têmis Nicolaidis.

Passar uma tarde em Itapuã…

Da frase famosa, de uma Itapuã famosa, a música que enconsta na nossa geografia aqui do sul, não tão famosa, do extremo sul de Porto Alegre, já em Viamão.Somos uma cidade que tem um rio, que, na verdade, é um lago, mas que tem correnteza, então, pode ser um rio mesmo – no final das contas.O fato é que os rios – estes, sim, só rios mesmo – vindos de regiões ao norte, de geografia mais alta, chegam aqui na região metropolitana e formam o nosso Guaíba, um grande estuário que vai se estender por vários quilômetros até chegar à Lagoa dos Patos, imensa, gigantesco corpo d’água que faz com que nos conectemos fluidamente a Pelotas e Rio Grande para, em fim, desaguar no mar.E, bem no limite do Guaíba com a lagoa, tem o Parque Estadual de Itapuã – um espaço público, bem cuidado, com uma estrutura bem legal para receber pessoas que desejam curtir mato e praia de rio/lago/lagoa. A água é ótima e segura. São duas praias para se escolher quando se chega ao parque e se vai comprar os ingressos – pouco mais de 20 pila por pessoa, em notas reais -, a Praia das Pombas e a Praia da Pedreira (aqui tem toda a informação sobre o acesso).Nestas fotos, a Praia das Pombas, um local em que a sombra está mais perto da água e que conta com boa estrutura para aquele churrasquinho. Dá pra passar o dia interio lá!De quebra, se a pessoa estiver com sorte, a fauna local pode dar uma chegada por perto (bugios, capivaras, lagartos…).Vale a pena. Fotos de Billy Valdez e Giulia Sichelero.