Agroflorestas na reconstrução das cidades

Diante da situação de calamidade climática e social que assola o Rio Grande do Sul desde o começo de maio, um movimento de centenas de instituições propõe para a reconstrução do Estado quatro programas na Carta das Agroflorestas e Soluções Baseadas na Natureza. É uma iniciativa de universidades, associações, ONG’s, institutos de pesquisa e iniciativas ecológicas de caráter urbano e rural, que busca sensibilizar os governos para reconstruir o Rio Grande do Sul através dos sistemas agroflorestais e de outras soluções em sintonia com os ambientes naturais. Neste episódio do podcast A Cidade é sua Casa, produzido pelo Coletivo Catarse em parceria com a Rádio Armazém, conversamos com Gabriela Coelho de Souza, que é coordenadora da AsSsAN Círculo e professora do Programa de Pós-Graduação em Desenvolvimento Rural da UFRGS. E também com Vicente Guindani, que é professor e agroflorestor no sítio Florestaria Tarumim, em Gravataí, integrante da Rede Água se Planta de Agricultura Sintrópica e da Associação de Preservação da Natureza do Vale do Gravataí. Ambos participam da articulação da Carta e nos falam sobre a importância de implementar ações e políticas, neste momento, que torne nossas cidades mais resilientes, ao mesmo tempo ajude a população diretamente atingida pelas enchentes e preserve a natureza para que o impacto de novos eventos climáticos extremos seja menor no futuro. Imagem de destaque da capa por Carta das Agroflorestas.

A Cidade é sua Casa debate os espaços públicos de Santa Maria

Não há cidade boa pra se viver sem praças, parques e árvores. Sem praças e parques cuidados. Sem árvores nas ruas. Isso é quase uma condição para a saúde física e mental das pessoas. Parece fundamental, inclusive, para a própria sobrevivência das cidades. Ainda mais agora, que já estamos sob o efeito das mudanças climáticas. Se ano passado foi o mais quente de todos os tempos, este ano promete ser mais ainda. E ano que vem será pior, adverte a ciência. Quem chega em Santa Maria, na região central do Rio Grande do Sul, avista a cidade rodeada por lindos morros verdes de mata atlântica, mas esta natureza normalmente se mantém fora do núcleo urbano, onde a vida acontece no cotidiano. Pelo menos, está pouco presente nos espaços públicos ao ar livre. São raras as praças e, frequentemente, estão sem manutenção ou degradadas. No dia 05 de março passado foi aprovada por unanimidade na Câmara Municipal uma comissão especial para fiscalizar as praças, tamanho o descontentamento da população que vê precarizadas as escassas áreas de lazer públicas. Para agravar, não há um plano de arborização urbana na cidade. No mesmo dia em que se instaurou a comissão especial para acompanhar o abandono das praças, foi ao ar na Rádio Armazém a primeira edição do podcast A Cidade é sua Casa, que propõe pesquisar, refletir e debater sobre a oferta e qualidade dos espaços públicos ao ar livre em Santa Maria. Já lançamos quatro episódios. Para o professor de arquitetura e urbanismo da UFN, Francisco Queruz, além da “falta de espaços públicos, os que existem são muito limitados”. O professor, que foi entrevistado no segundo episódio, indica que parte das pessoas encontram, de certa forma, uma saída nos clubes privados, mas que essa não é uma opção para a maioria da população, que não pode pagar para ter esse acesso. Ele também critica a arborização no município, lembrando os temporais do verão que passou: “A gente não pode usar o fato de que teve um temporal, isso gerou problema na fiação elétrica e as pessoas ficaram sem luz, pra dizer que a cidade não pode ter árvore. Não pode ser essa a conta porque nos outros 360 dias do ano a árvore nos dá sombra, nos dá melhor qualidade de vida. E não é aceitável, com a quantidade de passeio público que temos em Santa Maria, que na verdade não se tenha arborização em via pública”. Deputado estadual apresenta projeto de lei para instituir cota mínima de área verde por habitante nas cidades gaúchas O deputado estadual Matheus Gomes (PSOL) protocolou em 21 de março, na Assembleia Legislativa, projeto de lei que propõe alterar o Código Estadual do Meio Ambiente para estimular a preservação ambiental e a criar novas áreas verdes urbanas. O deputado, desde o ano passado tem proposto também que o Rio Grande do Sul declare estado de emergência climática, reconhecendo a extrema gravidade da ameaça representada pelo aquecimento global. Caso instituída a declaração, envolveria a adoção de medidas para conseguir reduzir as emissões de carbono a zero num prazo determinado e exercer pressão política aos governos para que tomem consciência sobre a situação de crise ambiental.  Receitando natureza O contato regular com a natureza em ambientes urbanos é tão importante para que a população se mantenha saudável, que a Sociedade Brasileira de Pediatria lançou em 2019 o Manual de Orientação Benefícios da Natureza no Desenvolvimento de Crianças e Adolescentes, que visa orientar e inspirar famílias, pediatras e educadores a respeito da importância do convívio de crianças e adolescentes em meio à natureza para a saúde e bem-estar. Há bastante tempo já se sabe que a infância cada vez mais fechada entre quatro paredes acaba levando ao sedentarismo e ao sobrepeso. Mas agora, surgem também ligações com prejuízos à saúde como hiperatividade, baixa motricidade, déficit de atenção e até miopia. “As crianças precisam de sol na pele, para produzir vitamina D, de espaço para correr e brincar livremente, para desenvolver sua motricidade. Há estudos associando a falta de brincar com o aumento da prevalência de estresse tóxico e de transtornos comportamentais, como o de déficit de atenção, a hiperatividade (TDAH) e a depressão. O contato com a natureza também propicia um relaxamento e a possibilidade de desenvolver curiosidade, criatividade, autonomia. Locais amplos exercitam os olhos a enxergar longe e perto, algo que não ocorre quando se está muitas horas somente em frente a telas e espaços fechados”, relata a pediatra Evelyn Eisenstein, que ajudou a elaborar o manual. “As crianças têm muito pouco contato com a natureza nos espaços urbanos, por questões de segurança, degradação… Muitas áreas periféricas sequer têm espaços recreativos naturais. Quanto mais tempo a criança passar ao ar livre, melhor”, relata o pediatra Daniel Becker, outro dos autores da publicação. O médico explica que os benefícios são incontáveis: “A natureza convida para a atividade física saudável, enquanto espaços fechados convidam para o sedentarismo. A criança ama a natureza quando exposta a ela. Se encanta e parte para correr, brincar, pular, explorar, descobrir. Isso é maravilhoso.” Além disso, segundo Daniel, esse contato é capaz de reduzir problemas de sono, alergias, infecções, melhora a memória e o desempenho escolar. O emparedamento nas cidades O cotidiano e as rotinas na cidade de trabalhos exigentes, trânsito, exposição a ambientes competitivos, desigualdades sociais, poluição sonora ou do ar, entre outros fatores da cultura ocidental moderna, acabam por gerar um ambiente propício ao desenvolvimento de depressão e outras psicopatologias. E embora essas situações possam ser mais gritantes nas metrópoles, também acontecem em cidades médias, como Santa Maria, quinta cidade mais populosa do Rio Grande do Sul. As cidades passam por um processo de “emparedamento”, que vem do perfil das moradias. O número de apartamentos no Brasil cresceu 321% de 1984 a 2019, segundo uma pesquisa do Grupo ZAP. Em um mundo cada vez mais urbanizado, o desafio de reconectar sociedade e natureza se torna uma demanda urgente. No Brasil, o percentual da população que vivia em áreas urbanas em 1960 era …

Mulheres Araucárias

Mulheres Kaingang e araucárias (“fãg”, na língua materna) tem uma relação forte, profunda, ancestral. O documentário “Mulheres Araucárias” conta as vivências de luta, resistência e esperança de Maria, Jociele e Tayla, três gerações de mulheres Kaingang que “caminham” desde o território indígena no Paraná até à III Marcha das Mulheres Indígenas, ocorrida em 2023, em Brasília (DF). O filme conecta as mulheres Kaingang e as árvores de araucárias na resistência aos projetos de morte nos territórios indígenas no bioma Mata Atlântica. Com protagonismo de mulheres Kaingang nas falas e também na produção, é um convite para conhecer e reconhecer o importante papel das mulheres Kaingang e das araucárias na defesa da vida e dos territórios. Realizado por FLD-COMIN e Coletivo Catarse, “Mulheres Araucárias” faz parte do projeto Moviracá: direito à terra indígena, fruto da parceria entre o Movimento Indígena e a Fundação Luterana de Diaconia (FLD), financiado pela União Europeia (UE). FICHA TÉCNICA Protagonistas:Maria EufrásioJociele LuizTayla Cristine Luiz Chagas Direção e roteiroCamila Mīg Sá: Comunicadora da Mídia Indígena OficialKassiane SchwingelVanessa Fe Há: Coordenadora de comunicação Arpinsul e cofundadora Ga Jare NarraçãoCamila Mīg Sá dos Santos: Comunicadora da Mídia Indígena Oficial ImagensCamila Mīg Sá dos Santos: Comunicadora da Mídia Indígena OficialVanessa Fe Há: Coordenadora de comunicação Arpinsul e cofundadora Ga Jare Equipe audiovisual Coletivo CatarseJefferson Pinheiro: Direção, roteiro, imagens e ediçãoBilly Valdez: Imagens, cor e finalização de videoGustavo Türck: Finalização de áudio e legendasMarcelo Cougo: Trilha sonora e pesquisa musical Designer do logotipoWanesa Ribeiro e Kath Xapi Puri Imagens adicionaisTV CâmaraLideranças indígenas pedem derrubada do PL do Marco Temporal – 30/05/2023 MÚSICAS Dois Irmãozinhos – Música tradicional KaigangVozes e chocalho: Coral de crianças da Retomada Gãh RéVãn Kafej | Nonóe | Nó fej | KojoîViolão e produção: Marcelo CougoBateria: Ale MendesProdução e mixagem: Gustavo Türck Canto com os PássarosInstrumentista | Intérprete: Gomercindo SalvadorViolão taquara: Gomercindo SalvadorÁlbum: Goj tej gor ror, as águas são nossas irmãs VozesTrilha sonora original do filme – Vozes Indígenas da América Latina: “Nós somos o documento da Terra”Composição | produção | violão: Marcelo CougoPercussões | flautas | sintetizadores: Paulinho BetanzosGravação | mixagem: Gustavo Türck AgradecimentosÀ Comissão de Lideranças da Aldeia Kakané Porã por abrir seu espaço para as gravações;Às protagonistas deste material por aceitarem compartilhar suas histórias e vivências;Às mulheres indígenas que travam duras batalhas em defesa da vida de todas as pessoas.