Paulo Montiel

In memorian (1958 – 2019)


Foi artista plástico, estudioso e pesquisador da cultura afro descendente e esteve intimamente ligado ao projeto do Ventre Livre desde 2011.


Em seu trabalho como artista plástico pintou inúmeras telas à óleo, desenhos e serigrafias retratando elementos dessa cultura. Montiel nasceu em 1958, no interior do estado do Rio Grande do Sul, na cidade de Santa Cruz do Sul, região de colonização alemã. Sua bisavó, Antônia Canabarro, foi trabalhadora escravizada e pertencia a família Canabarro. Ainda criança se muda com a família para Porto Alegre, no bairro Bom Jesus, vila periférica da cidade naquela época. Desde cedo se mostrou sensível às questões da espiritualidade e da religião afrodescendente. Frequentava festas de e terreiro de Batuque e Umbanda.

Abaixo, confira as obras que descobrimos enquanto o Ventre Livre estava sediado na Vila Jardim. Este legado é de propriedade dos filhos de Montiel e grande parte dos quadros abaixo se encontra na sede do Ventre Livre/Coletivo Catarse – Centro Histórico de Porto Alegre. Na sequência desta galeria mais informações sobre o artista.

Durante sua trajetória a escolha pela representação de elementos da cultura afro descendente está intimamente ligada às relações familiares e comunitárias. Quando começa a se expressar artisticamente é nessa raiz que busca sua inspiração. Suas telas de orixás são conhecidas por muitos daqueles que vivem essa religiosidade no estado do Rio Grande do Sul.


Quando trabalhava na Universidade Federal do Rio Grande do Sul, aprofundou a pesquisa sobre a representação do corpo humano frequentando o morgue da faculdade de medicina. Confiante no potencial de sua arte, Montiel pede demissão da UFRGS e se dedica integralmente à pintura.


Em 1996 criou a OJIXÉ PUBLICIDADE, com a proposta de trazer informações sobre a origem da cultura afro religiosa brasileira no RS. E como produto de publicidade para os centros de religião africana (Yiê). Esse projeto destinava 10% de sua arrecadação líquida para financiamento na área social e cultural. Nesse mesmo ano iniciou a série de calendários com os Orixás: 1996 – Bará, 1997 – Xapanã,1998 – Ogun, 1999 – Iemanjá, 2000 – Oxum e exus, 2002 – Xangô e Iansã, 2003 – Xapanã e Obá, 2004 – Oxóssi, 2005 – Iansã e Oxum, 2006 – Ogum, 2007 – Bará, 2008 – Ogum e Iansã e 2009 – Iemanjá e Xangô.


Em 2003 a produção financiou a Festa de natal da Associação da comunidade Quinta do Portal Vila MApa e em 2004 o Centro de Apoio ao portador da anemia falciforme.

As principais exposições montadas por Paulo Montiel foram:


1989 – Salão Museu da UFRGS
1991 – Casa de Cultura Mário Quintana
1992 – Secretaria de educação do RS
1993 – Câmara dos Vereadores de POA
1994 – Assembleia Legislativa do RS
1996 – Figurino da escola de samba U.B. – Cruz alta
1998 – 2ª semana da consciência negra da câmara municipal de poa
1999 – Espaço Cultural Panatieri – Rio Pardo/RS
2012 – Chalé da Cultura no Grupo Hospitalar Conceição (GHC)
2012 – Casa do Artista do Rio Grande do Sul
2015 – Exposições mensais e temáticas no Chalé da Cultura GHC

A pesquisa por novos elementos dessa cultura levou Montiel à outros países e estados, iniciando suas incursões no Rio de Janeiro e Bahia. De Salvador trouxe uma série de traços religiosos cultuados no estado do nordeste pouco conhecidos na região sul. Com seus quadros embaixo do braço foi para a Espanha e o Marrocos, divulgar sua obra e aprofundar pesquisas. Em 2009 sofreu um acidente, o que resultou em estado comático do artista durante trinta dias, teve comprometida sua mobilidade e memória, bem como seu jeito de fazer arte, seu traço, por um longo período. Em 2010, estabelece relação com o Ponto de Cultura e Saúde Ventre Livre, “vizinho” de sua residência, estabelecendo vínculo com os profissionais do lugar, onde atualmente tem seu atelier e parte do acervo.