O tempo: meus pés e meus pensamentos

Por Eliana Mara Chiossi. Passando pela rua, comprei acessórios para enfrentar o frio. Penso que nunca tenho o suficiente, sempre me lembro de algo que pode melhorar meu modo de me agasalhar e talvez o erro seja na falta de aprendizagem sobre como viver no frio e enfrentá-lo. Tenho mais roupas que muita gente, claro. As campanhas de doação de agasalhos são tratadas como forma de mera caridade que afeta pouco a questão da desigualdade social.

Amar nosso corpo, dizer sim para nossa alma

Por Eliana Mara Chiossi. “Era difícil dizer com exatidão quando o inverno chegou. O declínio foi gradual, como o de uma pessoa que alcança a velhice, imperceptível no dia a dia, até que a estação se tornou uma realidade certa e inexorável. Primeiro veio uma queda na temperatura noturna, seguida de dias de chuva constante, surpreendentes rajadas de vento do Atlântico, umidade, a queda das folhas e a mudança do horário – embora persistissem momentos eventuais de alívio, manhãs nas quais era possível sair de casa sem um casaco e o céu se mostrava límpido e claro. Mas eram como sinais enganosos de recuperação num paciente cuja morte fora decretada.” A arte de viajar, de Alain de Botton

Os dragões nossos de cada dia

“Meu senhor, meu pai de santo, meu São Jorge protetor, defendei, com sua espada, a travessia do nosso amor…” Arthur Eid Escrevo esta crônica como se fosse possível me colocar, em palavras, pelo avesso. Como se fosse possível, pelo avesso, me expor melhor para as pessoas que amo. Amar é uma palavra curta que exige uma estrada muito comprida e acidentada para ser compreendida. Talvez amar seja coisa de se sentir, apenas. Falar do amor pouco acrescenta. E falamos do amor todo o tempo. Dizemos o nome do Amor em vão, diariamente, várias vezes ao dia.

Com que roupa você se veste para viver em outra cidade?

Por Eliana Mara Chiossi. Já vivi em quatro cidades diferentes: São Paulo, onde nasci, Aracaju, Porto Alegre e Bahia. Quando rememoro os fatos passados em cada uma, também vejo quem eu era, no momento. E como fui me modificando a cada mudança. Quando saí de São Paulo, tudo era novo: o casamento, o amor por um homem, a possibilidade de parar de trabalhar e realizar o sonho de fazer Letras. Seis anos depois, saindo de Aracaju, no caminho do aeroporto, um filme passava na minha cabeça. Amigos, histórias compartilhadas, aventuras, risos, erros, raríssimos inimigos, aprendizagens.

Cidade instantânea

Por Eliana Mara Chiossi. Uma serra atravessa a manhã, com seu ruído agressivo. Saio de casa e caminho pelas ruas. Vejo a mulher segurando o bebê com uma das mãos e dando a outra mão ao menino inquieto. O limpador de rua olha para baixo. Para. Coça a cabeça. Volta a limpar. Várias pombas correm atrás de migalhas.

A arte (desajeitada) de separar-se

Por Eliana Mara Chiossi. “Eu ouvi dizer que você falou que está pensando em voltar pra mim que se entristece ao saber como eu estou mas você precisa saber que eu ainda tenho um pouco de orgulho em mim embora quase morto eu tenha aquele amor mas eu não vou deixar você me ver assim… (…)se não for por amor, me deixe aqui no chão” Por Amor – Roberto Carlos

As bancas de revista e as mesmas revistas de sempre

Por Eliana Mara Chiossi. Estive no Rio de Janeiro. Mais uma vez. E me parece que lá é mais forte o hábito de ler jornais e revistas. E não digo isso baseada em fatos ou estudos tampouco estatísticas. Digo isso por andar pelas ruas e ver o que não vejo aqui em Porto Alegre nem em Salvador, nem em São Paulo, cidades que mais frequento. Os cariocas param nas bancas de jornais. Conversam. Olham as manchetes. Demoradamente.

Leitura e literatura: sair do círculo fechado dos estereótipos

Por Eliana Mara Chiossi. “Ler, segundo Freire, não é caminhar sobre as letras, mas interpretar o mundo e poder lançar sua palavra sobre ele, interferir no mundo pela ação. Ler é tomar consciência. A leitura é, antes de tudo, uma interpretação do mundo em que se vive. Mas não só ler. É também representá-lo pela linguagem escrita. Falar sobre ele, interpretá-lo, escrevê-lo. Ler e escrever, dentro desta perspectiva, é também libertar-se. Leitura e escrita como prática de liberdade. A escrita é também objeto do pensamento e da vida. O mundo ao sul da linha do Equador é marcado pela oralidade; aqui, a escrita e a leitura são um distintivo de poder. Portanto, a criação de uma política de desenvolvimento de participação do mundo da leitura e da escrita significa redimir as massas excluídas de 500 anos de história. A leitura do mundo antecede a leitura das letras. A leitura assim é um fato político cultural de participação.” – parafrase de texto de Paulo Freire (link original aqui).

Grata por fazerem barulho diariamente

Por Eliana Mara Chiossi. A construção civil é responsável por grande parte do emprego das camadas pobres da população masculina, e também considerada uma das mais perigosas em todo o mundo, liderando as taxas de acidentes de trabalho fatais, não-fatais e anos de vida perdidos.