por Ana Campo
O mundo acabou em 2012. Como o prognóstico era latino a coisa atrasou um pouco e depois de alguns feriadinhos, carnaval e um belo recesso, por fim, a coisa toda começou a deslanchar em 2013 (claro, o calendário era maya mas a latinidade potencial…). Meu embasamento teórico para tal afirmação sobre o fim do mundo é Slavoj Zizek, que se deslocou da Eslovênia à Câmara de vereadores de Porto Alegre para comunicar duas coisas, que Chávez morreu e que concorda com Fukuyama. Zizek é quase (ufa) um Chacrinha, ele veio para confundir. Chacrinha era rodeado por umas mulheres “objeto” com roupas apelativas e vulgares . Zizek é orbitado por um ovni, uma argentina que faz publicidade de lingeries…
Os militantes do capitalismo com mais visibilidade (os da mídia) prontamente o rotularam (depois os comunistas é que são conservadores) de filósofo pop star . Mas ao ouvi-lo pela primeira vez sem mediação audiovisual entendi. A cada sacada intelectual e conclusão lógica – que nada têm de conclusivas pois pensa desesperadamente para todos os lados, países, épocas, teóricos -as pessoas aplaudem, mas não dá vontade de aplaudir, dá vontade gritar gol. Até imagino o que Zizek deve ouvir de sua argentina: Sos un crack…
Sobre o fim do mundo, da história, etc, etc, etc, o esloveno é um provocador e “não discordar completamente de Fukuyama” é apenas uma maneira de aprofundar o fim da história até Hegel para atacar a teoria do estadunidense na raiz. Em seu Vivendo no fim dos Tempos o filósofo, professor, militante, psicanalista, analisa e critica as reações, respostas e alternativas políticas (ou despolitizadas) à atual fase da crise capitalista (apocalíptica) pelos próprios capitalistas e demais agentes sociais, a partir dos estágios do luto elucidados pela psicanálise a saber: negação, raiva, barganha, depressão, aceitação. Quanto a Chávez, não era provocação, até gostaria que fosse. A provocação ficou para os meios de comunicação da burguesia que comemoraram escancaradamente o falecimento. Nas manchetes de forma deliberada não se lê frases como: O presidente da Venezuela Hugo Chávez faleceu vítima de câncer como diriam de qualquer empresário corrupto e sim: Chávez está morto. Meu amigo Rodrigo Fonseca doutor em Análise do Discurso há de convir comigo, se “Chávez está morto” parece que ninguém morreu, e sim que algo indesejado findou e mais um monte de coisas…
O Papa renunciou…Quando os meios de comunicação estiverem na mão de comunistas retrógrados caçadores de bruxas como Yoani Sánchez obviamente serei a editora chefe e vou publicar: O Papa caiu fora. Perdeu mané. A classe proletária que planeja expropriar as classes possuidoras de maneira hedionda pelo menos dá aviso prévio para não provocar desordem…
Slavoj Zizek é um conservador – como o papa, que por sinal é o sonho de qualquer um desses agentes do Bird, FMI, BM que baixam por aqui querendo acabar com a previdência social, só se aposenta quando está com o pé na cova -, quando formulou suas críticas contra o discurso anticonsumista hipócrita as maçãs orgânicas ainda eram piores que as envenenadas, isso já foi superado, está desatualizado, pouco dialético. Quanto ao resto não deixa de ter razão, a pós modernidade nos traz café descafeinado, cerveja sem álcool, sexo virtual e ao reciclar o lixo queremos ingenuamente reciclar o capitalismo, mas insisto na superioridade das maçãs no atual estágio da produção agroecológica para ser bem marxista…
Sobre o processo bolivariano e a mão na cara que o povo venezuelano e Hugo Chávez meteram no capitalismo imperialista (redundância..) que sempre adorou não só o calendário como o ouro maya, meus amigos Mathias Luce e Carla Ferreira produziram vasto material, também conviveram nos barrios caraqueños, é só lançar seus nomes na internet para ler. Mas para aqueles que pensam que é o fim da história na Venezuela eu lembro: Simón Bolívar morreu doente há quase duzentos anos, e aviso: a revolução bolivariana será – para provocar Zizek – a nossa causa recuperada.