As bancas de revista e as mesmas revistas de sempre

Por Eliana Mara Chiossi.

Estive no Rio de Janeiro. Mais uma vez. E me parece que lá é mais forte o hábito de ler jornais e revistas. E não digo isso baseada em fatos ou estudos tampouco estatísticas. Digo isso por andar pelas ruas e ver o que não vejo aqui em Porto Alegre nem em Salvador, nem em São Paulo, cidades que mais frequento. Os cariocas param nas bancas de jornais. Conversam. Olham as manchetes. Demoradamente.

Bem, é fato observável (não comprovado) que existe uma população de pessoas mais idosas, maior que em outras cidades (isto também é fruto de achismo e de impressões), mas estando no Rio vejo mais pessoas amontoadas em uma banca de jornal lendo jornais pendurados. Não vejo tanta gente comprando, vejo muita gente lendo. Parei numa certa banca dessas porque estava chovendo e, sem guarda-chuva, era o melhor lugar para esperar: protegida da chuva e podendo ouvir pessoas conversando.

Nestes minutos que fiquei esperando a chuva diminuir, talvez uns dez, ouvi histórias de violência, de brigas entre vizinhos, narrações resumidas dos últimos capítulos das novelas e comentários sem qualquer fundamento sobre o novo papa argentino. Depois de um tempo, aquelas conversas já haviam esgotado o repertório, e passei a olhar atentamente para as revistas penduradas. Revistas para todos os gostos.

Um pensamento insistente retornou: como é possível vender, para o mesmo público, a mesma revista, há tantas décadas, apenas mudando títulos e capa? Bastou ler os títulos e as chamadas para ver que nada mudou. Dietas miraculosas que não emagrecem ninguém, remédios naturais que não curam o câncer, estrelas da tevê e do cinema com os mesmos escândalos, chás para diversas doenças, pensamentos monótonos, a sensação de que tudo é igual, achatado, repetido.

Mas e como entender por que será que as mesmas manchetes atraem as pessoas? As revistas têm um poder maior, elas atraem até as pessoas que já foram traídas pelas outras revistas, de outroras, pelos outros remédios, panacéias falhadadas, que nunca resolveram.

Não, eu não tenho respostas porque já comprei revista de crochê pensando que iria finalmente fazer uma toalhinha, já comprei revista de dietas, já comprei revistas para saber escândalos de celebridades. Claro que, se frequentar salões de beleza, a leitura é gratuita. E é uma leitura quase autônoma, sem raciocínio, uma espécie de embotamento que faz o tempo passar.

Essas revistas, – ou quem sabe até – essas manchetes de jornais tão iguais (número de acidentes em feriados, péssimas condições da saúde para os pobres, escândalos com a merenda escolar, novos planos mirabolantes para resolver os problemas da educação), tudo que acontece e não para de acontecer, sempre repetido, como se houvesse uma base comum na sociedade que resiste à mudança, será que está também ligada com a compra repetida das mesmas revistas que prometem dietas?

Não sei. Sei que quero a utopia. Porque a utopia é um lugar que não existe ainda. É um lugar para ser sonhado e construído. Então, neste lugar, as manchetes não vão interessar. No lugar da utopia que imagino não haverá pessoas embotadas olhando com olhar abobado as mesmas manchetes de sempre, ou, então, procurando as manchetes em que haja crimes hediondos, desastres espetaculares. Para ficar entre dois pólos: as tragédias que excitam e as mesmices que embotam os sentimentos.

Quero as bancas de revistas cheias de sol e de novidades. Outras revistas, outras histórias, outras promessas. Que importa se há pessoas fora do peso considerado ideal? Quem importa se é melhor comer lichia ao invés de linhaça? Que a moda do momento seja uma imposição do momento.

A beleza de cada pessoa seria notícia. Os astros seriam considerados monótonos de tão humanos. E as manchetes seriam poemas, histórias de solidariedade, narrações de vida boa e prazenteira. Ah, que maçada este mundo de medidas. Ah, que monótono este mundo de shoppings e grifes. Eu quero a desigualdade, a deselegância indiscreta, cabelos azuis, carros velhos, carroças na rua, outra vez quintais, outra vez cadeiras nas calçadas. Que monótono o mundo dos condomínios e suas assembleias dissonantes e cheias de tédio.

Eu quero ir embora para Pasárgada! Junto com os reis, junto com as princesas, junto com os tambores, junto com as músicas, junto com o fogo. Quero dança em volta do fogo. Quero fogo. Quero lua. Quero o mundo da dissonância que faz música, harmonia, integração, prazer, graça e glória!

Um comentário

  1. Olé!!!

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