Por Maria da Graça Türck*.
Nada como uma decisão para que o preconceito de classe se explicite e desmascare os discursos de direitos na boca da classe dominante e de seus representantes – porta-vozes da opressão – instituídos e protegidos pela mídia corporativa e nos tribunais, travestidos de idoneidade moral e compromissada com a “verdade”, palavra que se torna palavrão na boca dos hospedeiros da opressão.
Em primeiro lugar, a classe médica – me pergunto, em que mundo vivem estes sujeitos de jaleco branco, cujo preconceito de classe se esconde e se explicita através de seus Conselhos? Em que momento se perderam? Deixaram para trás o Juramento de Hipócrates, para abraçarem a hipocrisia. Perderam o sentido de humanidade e sua conexão com a vida para olharem as pessoas que os procuram através do $ (cifrão).
Nós, assistentes sociais, que transitamos profissionalmente na política de saúde, sabemos muito bem como muitos desses sujeitos de jalecos tratam usuários do SUS ou até mesmo aqueles que necessitam de uma perícia médica. Nós, profissionais, sabemos o significado do preconceito de classe quando acompanhamos, sem podermos fazer algo, a desumanidade e a coisificação do humano que se materializa no atendimento da saúde pública, aos seus usuários, por muitos profissionais que o fazem sem o sentido de humanidade. É neste momento que o “nojo sartreano” passa a me acompanhar ao ouvir e observar estampado na mídia corporativa a tentativa de convencimento da população de que o preconceito de classe é o que deve predominar, através de argumentos sacanas disfarçados de apologia do direito. É nesse momento que faço a opção de descartar de meu cotidiano os representantes dessa mídia, tirando dos meus olhos jornais e revistas e de meus ouvidos o rádio e a televisão, porque não tenho mais estômago. Mas também descubro que não me fazem falta, porque a informação vou buscar em outras fontes.
Caminhando na estrada da resistência, começo a me dar conta em que becos o preconceito de classe e a defesa dos interesses da classe dominante se escondem para manter a desigualdade social e a opressão – na Justiça, que neste momento se explicita em algumas pessoas que, sem sombra de dúvidas, acham que são DEUS, outros têm certeza que são, e nós, simples mortais, ficamos com o grito preso na garganta, sem condições de pedir justiça.
E vou descobrindo que este momento de análise só foi possível porque, ao me apropriar do Projeto Ético-Político do Serviço Social, me dou conta que estar na luta e defender direitos é difícil e até mesmo paradoxal, porque todos têm direitos, até mesmo os dos jalecos brancos, que vomitam o preconceito de classe ao buscarem através de seus órgãos representativos caçar o direito ao atendimento à saúde de populações desprovidas de um atendimento de qualidade. Por mais que eu discorde frontalmente deste posicionamento…
*Assitente Social e Doutora em Serviço Social