Do Portal EcoDebate.
Entrevista com Magno Castelo Branco, responsável pelo Departamento Técnico da Iniciativa Verde – organização não governamental que trabalha para a mitigação e a adaptação às mudanças climáticas por meio de recomposição florestal.
Magno Castelo Branco diz que a organização da Copa do Mundo no Brasil acertou na gestão de resíduos, mas decepcionou na compensação de emissões. “Tivemos promessas de plantio de até 34 milhões de árvores, coisa que não ocorreu”. Também consultor do Banco Mundial, da Confederação Nacional da Indústria (CNI) e da Embaixada Britânica sobre assuntos relacionados à mudança do clima, Castelo Branco acredita que a opção por chamar empresas para doarem créditos de carbono – adotada pelo governo e pela Fifa -, tenha pouco valor. “Foi uma atitude desesperada para cumprir de qualquer jeito uma promessa”. Na sua avaliação, é preciso incorporar de maneira significativa iniciativas de compensação de gestão de grandes eventos, buscando mecanismos de compensação que contribuam de maneira significativa para a realidade local.
A entrevista é de Maura Campanili, publicado por Clima e Floresta e reproduzida por EcoDebate, 08-08-2014.
Eis a entrevista.
Você acompanhou as medidas de sustentabilidade anunciadas pelo governo brasileiro para a COPA DO MUNDO? Podemos dizer que foram eficazes?
Sim, acompanhei as medidas de sustentabilidade anunciadas, mas também as que foram efetivamente implementadas. Posso dizer que fiquei bem impressionado com a gestão de resíduos recicláveis durante o evento. Foram contratados 1,5 mil catadores que coletaram mais de 180 mil toneladas de resíduos. Essa foi uma iniciativa importante, principalmente por criar e incentivar a cultura de coleta e reciclagem nas cidades sedes. Sobre a certificação dos estádios, considero que seja uma obrigação, pois hoje é inadmissível pensarmos em construir arenas dessa magnitude sem considerarmos formas de torná-las mais eficientes. Apenas seis das 12 arenas foram certificadas com o selo LEED (Leadership in Energy & Environmental Design). Minha experiência mostra que a certificação das obras não necessariamente aumenta os custos de implantação e sempre reduz os custos durante a operação. Um ótimo exemplo é a Arena Castelão, que foi a mais barata da Copa mesmo sendo certificada. Porém, sobre os estádios ainda tenho outra preocupação. Observando que quase todos os estádios custaram mais do que deveriam e tiveram suspeitas de superfaturamento, tenho certeza que essas ineficiências de gestão significaram também um aumento do consumo de recursos e nas emissões de gases de efeito estufa. Talvez seja difícil mensurar, mas é certo que uma gestão ineficiente acarreta maiores desperdícios financeiros e, consequentemente, de materiais.
E em relação à compensação de emissões de gases de efeito estufa, houve iniciativas importantes?
Sobre a compensação de emissões fiquei decepcionado, pois tivemos promessas de plantio de até 34 milhões de árvores antes do evento, coisa que não ocorreu. Nem ouvimos mais falar sobre o assunto. Essa era uma oportunidade única de incentivar projetos de grande impacto positivo, pois a visibilidade era muito grande. Era uma chance de dar visibilidade a projetos de recuperação da Mata Atlântica – uma das grandes riquezas de nosso país-, além de muitas outras iniciativas espalhadas pelo Brasil. O que vimos foi um ato desesperado de tentar, de última hora, “zerar’ as emissões do evento com a doação de créditos de carbono. Infelizmente, o que aconteceu foi muito menos significativo do que poderia.
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