Sexta 7 de Abril os Kaingang da Fag Nhin, na Lomba do Pinheiro em Porto Alegre/RS, celebraram os vinte anos da sua comunidade, uma das primeiras áreas indígenas urbanas do Rio Grande do Sul.
Em 2002, os Kaingang reivindicaram o espaço na Lomba do Pinheiro, enfrentando o senso comum que reduzia os indígenas aos espaços rurais. Na época, um grupo que depois viria a fundar o Coletivo Catarse esteve na aldeia acompanhando a luta pelo território na Parada 25, por meio do Projeto Indíos Urbanos (na época o termo indígenas ainda não era amplamente usado) que teve uma revista e um documentário em VHS.
Passadas duas décadas, o Coletivo Catarse/Ponto de Cultura e Saúde Ventre Livre voltou a aldeia para celebrar junto a conquista do território. Em clima de festa, com direito a muita comida tradicional Kaingang, o coletivo contribuiu com a exibição do documentário Indíos Urbanos e a mostra das revistas e fotografias do Projeto.
A equipe do Coletivo assistiu maravilhada enquanto a juventude reconhecia os mais velhos, protagonistas da luta retratada no telão e nas fotografias. O momento suscitou reflexões importantes, recordou do papel de lideranças que participaram para a conquista da aldeia como Zílio e Francisco.
E quantos conquistas a se celebrar: do acampamento lutando para se manter em 2002, a equipe encontrou uma aldeia consolidada, com moradias dignas, espaço, áreas de mata preservada e uma escola estruturada. Mas, para além dos ganhos materiais, a comunidade também avançou em uma das principais preocupações de lideranças décadas atrás: a manutenção da cultura e das práticas tradicionais no ambiente urbano.
Longe de “perder sua cultura” por viver na capital, a comunidade fortaleceu tradições e conhecimentos ancestrais como as pinturas e grafismos relacionados as marcas Rá Ror e Rá Tej das metades Kainru e Kamé, a língua Kaingang, a culinária tradicional, os artesanatos com cipó, taquara e outros materiais.
Estar em um território pulsante, com a cultura ancestral fortalecida e difundida e o clima geral de festa reforçou a importância de seguir ao lado dos povos tradicionais registrando suas lutas. Mas, para além de apenas registrar, o valor de tornar acessíveis os registros para as comunidades.
Até porque as imagens oferecem um suporte importante para que a juventude visualize as histórias contadas pelos anciões sobre a comunidade e sua trajetória. Além disso, o audiovisual é sempre um disparador para discussões e momentos coletivos de compartilhamentos de saberes e vivências. Sem contar a possibilidade de manter registros da visão dos povos tradicionais, para além das narrativas dominantes contadas pelo viés dos opressores.
Se a memória também é um campo de batalha, nos posicionamos nesta trincheira ao lado dos povos, da diversidade e contra as monoculturas de ideias.