Uma vez mais a chama carijeira iluminou a noite do Rio Grande do Sul, aquecendo corações e reafirmando coletivamente o fazer ancestral. No último fim de semana, 18 e 19/11, reunidos na Ecovila Karaguatá, Santa Cruz do Sul/RS, cerca de dez pessoas prepararam artesanalmente 13 kilos de uma erva mate deliciosa.
A vivência foi conduzida pelo Mestre Carijeiro Moisés da Luz – pesquisador responsável pela base teórica do Projeto Carijo e um dos principais divulgadores do Carijo no RS – e moldada pelos saberes das pessoas presentes. Unindo as habilidades de bioconstrução de Aquiles Gusson, um dos fundadores da Ecovila Karaguatá, e de Luis Karaí, da Retomada Mbya Guarani de Cachoeirinha, esculpiu-se um carijo com paredes de pau a pique e coberto por uma lona com estrutura de telhado recíproco.
O resultado, para além da beleza, se mostrou extremamente funcional, com as paredes de barro impedindo a fuga do calor, e a posição da lona direcionando a saída da fumaça pelas diagonais superiores, sem causar incomodo a quem se sentava em frente ao fogo. A estrutura do “Carijo a pique” pode ainda servir de base para se “fundar”um Carijo (fazer com que a esrutura dure anos), caso se reforce o barro e cubra os 4 moirões, necessitando somente de trocas pediódicas das taquaras da base do estrado e das guias laterais.
Montada a estrutura, a erva colhida na sexta no sítio Cepa Cipó, do Amadeu Krebs foi sapecada. Com o mate no Carijo, iniciou-se o fogo e a ronda. À noite, seguiu a arte, tanto na gastrônomia das pizzas de coração de bananeira quanto no repertório da orquestra Filarmonia Santa Cruz do Sul, com destaque para o cancioneiro do cone sul interpretado pela anfitriã paraguaia Glória Miranda Carceres, também fundadora do espaço que vem recuperando a floresta a 20 anos.
Depois de aproximadamente 13 horas secando – que poderia ser muito mais tempo se não fosse a retenção do calor pelas paredes de barro – a erva foi levada para o cancheador para então ser pilada manualmente. Os galhos mais grossos saídos do cancheador foram separados para serem aproveitados em múltiplos usos – do chá mate gelado, dica da Biosolange na Carijada da Lomba Grande, até a Cachaça Carijeira da Dani da Maria Maria Espaço Cultural …
Mas e a erva mate???
Moída grossa a tantas mãos no pilão, seca ao som da orquestra entre paredes de barro, sapecada na agrofloresta entre juçaras e bananeiras, ficou simplesmente maravilhosa. E não poderia ser diferente, já que o artesanal vem justamente da arte do fazer manual, quando se encontram pessoas diferentes e constroem juntas a partir de suas habilidades diversas e dos potenciais que o local oferece.
Agradecemos a todas as pessoas que partilharam estes momentos conosco. Que venham muitas outras carijadas!
Fotos: Giulia Sichelero, Lisiane Jahn e Bruno Pedrotti.
Texto: Bruno Pedrotti.
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