Organizações pela soberania popular no combate à catástrofe

Apesar do tempo nublado com momentos de garoa e do vento sul gelado (que fazia a sensação térmica parecer bem menor dos 12 C que a temperatura marcava), o sábado dia 25 de maio foi um dia de mobilização intensa. Tanto nos espaços centrais quanto nas periferias de Porto Alegre, grupos diversos de pessoas se juntaram para combater a capitalização da catástrofe que atinge o RS e pensar alternativas locais que levem em conta a ciência e as demandas dos territórios.

O Coletivo Catarse esteve presente em dois locais bastante distintos – uma livraria na região central da cidade e a quadra de uma escola de samba na periferia – e presenciou os dois espaços cheios de pessoas dispostas a discutir alternativas para a cidade neste momento difícil.

Pela manhã, estivemos, a convite de um amigo professor de biologia, na “Sabatina Parêntese – Conversas sobre o futuro”. O encontro organizado pelo Matinal Jornalismo teve como convidada Marcia Barbosa, professora da UFRGS representante de um grupo de professores que estão elaborando Programa de Emergência Climática e Ambiental para organizar e coordenar a resposta aos desafios climáticos que o estado está passando e que irá enfrentar com uma frequência cada vez maior. O público composto principalmente de professores, estudantes, acadêmicos, ambientalistas lotou o espaço da livraria Paralelo 30, localizado em uma das travessas do Brique da Redenção.

A pesquisadora da UFRGS apresentou um pouco do plano proposto pelo grupo de profissionais do qual faz parte, sendo ele divido em dois grupos de serviço: de alerta e adaptação. O grupo de alerta ficaria responsável por juntar as diferentes informações coletadas por estações meteorológicas, cruzar com diferentes fontes e propor planos de ação. Segundo ela, seria possível e necessário também a modernização dos equipamentos de água e esgoto, incluindo equipamentos que alertem quando necessitam de manutenção ou estão para falhar.

Sobre o grupo de adaptação defendeu a realização de estudos sobre ordenamento territorial, mudando as regras do que se planta, como se planta e como se organiza o território. Defendeu o uso de editais voltados para as universidades públicas e comunitárias, favorecendo dinâmicas de rede e investindo em cientistas que já atuam no estado. Em oposição aos projetos de consultorias estrangeiras, concluiu: “não preciso de gringo pra resolver esse problema aqui”.

No outro extremo da cidade, no bairro Rubem Berta, Zona Norte da capital, movimentos sociais e atingidos pela enchente realizaram a plenária de fundação do Movimento de Atingidos pela Enchente do RS. Em torno de 200 pessoas se reuniram na quadra da escola de samba Imperatriz Dona Leopoldina para reivindicar “um processo de organização que combata esse negacionismo climático” conforme destacou Cláudia Favaro na fala de abertura. A militante defendeu que os refugiados climáticos estão pagando a conta do modelo de desenvolvimento predatório, por isso a necessidade de se organizar para defender seus direitos.

Antônio Moraes militante do Emancipa e um dos organizadores do abrigo Santa Rosa, que vem recebendo principalmente abrigados vindos da região do Sarandi, relatou a luta pela permanência do abrigo na Escola Estadual de Ensino Médio Santa Rosa, em oposição à pressão da diretoria para que a escola deixe de abrigar as famílias e retome as aulas. Bryan Rodrigues também do Abrigo Santa Rosa apresentou a carta de exigência da organização para o poder público. A carta, construída com os abrigados combate a cidade temporária proposta, tida como uma “Faixa de Gaza no Porto Seco”, e busca um retorno em espaços de dignidade, citando os imóveis vazios que não estão disponíveis para a população, pensando também em opções de moradia permanente.

Almiro Rodrigo Gehrat, conhecido como Cebola, morador de Canoas, por sua vez trouxe um relato da sua cidade, que até então ainda tinha os bairros Mathias Velho, Harmonia e Rio Branco alagados. O militante levantou a proposta de que os atingidos não paguem o IPTU (Imposto sobre a Propriedade Predial e Territorial Urbana) .

Nas duas iniciativas acompanhadas pela reportagem, foi evidente a ânsia da sociedade gaúcha em participar do combate à catástrofe climática que o estado do RS enfrenta. Nos dois espaços, diferentes em tantos pontos, verificou-se a grande quantidade de pessoas reunidas lutando para que a gestão da crise climática seja construída de maneira horizontal e com participação da população dos territórios e dos pesquisadores gaúchos.

Texto e fotos: Bruno Pedrotti.
Produção e revisão: Marcelo Cougo.

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