O RESSECAMENTO DO BRASIL CENTRAL PRECISA SER INTERROMPIDO!

Ainda sentindo os impactos de uma enchente sem precedentes no Rio Grande do Sul, o Brasil enfrenta também uma nova onda de queimadas no Pantanal, que levou os estados do Mato Grosso e Mato Grosso do Sul a decretarem estado de emergência ambiental.

Os focos de incêndios no bioma subiram mais de 900% em comparação com o período de janeiro a junho dos anos anteriores, segundo dados do INPE (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais). Além do fogo, o bioma enfrenta também uma seca recorde na Bacia do Rio Paraná – que abrange mais de 10% do território nacional, sendo o Paraná o segundo maior rio do continente, atrás apenas do Amazonas, e oitavo maior do mundo.

Neste contexto de eventos climáticos extremos no Brasil e no mundo, o Coletivo Catarse recebeu uma carta endereçada ao presidente do país escrita por um parceiro professor de biologia que preferiu não se identificar, justamente para fugir do personalismo e promover um debate focado em ideias:

CARTA ABERTA AO PRESIDENTE DO BRASIL

Excelentíssimo Sr. Luiz Inácio Lula da Silva

Senhor Presidente,

No início de Abril, o STF deu um prazo de 90 dias para o governo apresentar um programa efetivo de combate a incêndios e desmatamentos no Pantanal e Floresta Amazônica. Venho humildemente como professor de Biologia trazer sugestões que poderiam fazer parte deste futuro programa. Seguem abaixo fatos conhecidos por pessoas da área ambiental e que estão relacionados às sugestões apresentadas a seguir.

1) A maior parte da água da chuva que cai sobre os continentes foi evaporada sobre o mar. Ela é progressivamente derramada à medida que as nuvens se deslocam em direção ao centro dos continentes, restando pouca água ao final da jornada. Por isso, os grandes desertos da Terra situam-se no centro dos continentes. Brasília é a única capital situada no centro de um continente! Esta exceção deve-se aos “rios voadores”, as nuvens formadas pela evaporação nas florestas e rios do Pará e Amazonas. Esse é o nosso melhor argumento de que, de fato, “Deus é brasileiro”. Infelizmente, os rios voadores estão em risco, já que o ponto de “não-retorno”, no qual a Floresta Amazônica perderá sua capacidade de se regenerar por si mesma está a menos de meio século a nossa frente, segundo recente pesquisa¹. Não há outro assunto mais urgente para ser enfrentado nas políticas ambientais em virtude das conseqüências diretas sobre o povo brasileiro, sua agricultura, fauna e flora!

2) Em outra pesquisa², gotas de chuva coletadas individualmente na alta atmosfera de áreas florestadas, áreas de campo e outros tipos de ambientes foram analisadas ao microscópio. Como o vapor d´água não se condensa sobre si mesmo, é necessário um diminuto núcleo de condensação para a formação da gota de chuva. Gotas coletadas sobre a floresta revelaram núcleos feitos de microfragmentos de fungos, cascas de árvores e folhas. O ar aquecido sobre a floresta eleva estes fragmentos até a alta atmosfera. Assim, a floresta reproduz sua própria chuva se encarregando da sua própria hidratação nas áreas centrais do Brasil. Este importantíssimo mecanismo natural de produção de chuvas só pode ser mantido com a proteção das florestas restantes e replantio em áreas desmatadas. Do contrário, pagaremos um preço altíssimo à curto e médio prazo com o ressecamento progressivo do nosso país.

Presidente, como diria John Lennon: “Imagine” um programa nacional de reflorestamento de estados do Arco do Desmatamento e das áreas degradadas da Amazônia, com a construção de milhares de estufas para a produção de mudas de essências nativas! Incluiria prefeituras, escolas, empresas e a participação de população local, subsidiada por novas “bolsas-reflorestamento”. Imagine a adesão dos estudantes e demais cidadãos, tanto do Brasil como do exterior. Inicialmente, o governo federal subsidiaria os custos deste projeto. Depois, poderia ocorrer uma verdadeira enxurrada de doações de outros países preocupados com as mudanças climáticas globais. A maior parte da população mundial está angustiada com as mudanças ambientais e nos olha com esperança. Não é mais possível atitudes paliativas. Os incêndios florestais no Brasil são contados aos milhares anualmente. Isto é inadmissível e pode ser revertido. Imagine uma esquadrilha de aviões KC-390 produzidos pela Embraer dedicados exclusivamente ao combate imediato de incêndios florestais, bem como outras aeronaves empenhadas em lançar sementes preparadas para germinarem em áreas degradadas. Imagine o IBAMA e a Fundação Chico Mendes com aumento significativo de funcionários para gerirem este projeto, com a participação de várias entidades governamentais e não governamentais. A partir da expertise adquirida, o projeto se expandiria para outras áreas degradadas do nosso país, quiçá resgatando o Projeto Floram, concebido por Aziz Ab´Sáber, com espécies nativas da Amazônia. Todo o nosso arcabouço técnico, legislativo, jurídico, administrativo e educacional aos poucos e naturalmente respaldaria estas ações positivas.

Finalizando, lhe pergunto como cidadão brasileiro: podemos ter boas notícias para reverter o quadro de incêndios e degradação ambiental na Amazônia e Pantanal?

Atenciosamente, um professor de Biologia.

“Vamos focar mais nas ideias e menos nas pessoas.” Madame Curie

¹https://www.nature.com/articles/s41586-023-06970-0

²https://oeco.org.br/salada-verde/estudo-descobre-como-nuvens-de-chuva-se-desenvolvem-na-amazonia/

REENVIE ESTA CARTA PARA QUE OUTRAS PESSOAS TOMEM CONHECIMENTO.

A SOLUÇÃO DE QUALQUER PROBLEMA COMEÇA PELA CONSCIÊNCIA DA SUA EXISTÊNCIA” .


Foto em destaque: Incêndios no Pantanal Corpo de Bombeiros Militar do Estado de Mato Grosso do Sul (CBMMS)

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