Num dia marcado como o Dia Internacional da Mulher, 8 de março, a Serra Gaúcha recebeu o evento “Cultura Viva: Mobilização e Redes no RS”. Espaço pulsante de cultura e diversidade e com produção do Ponto de Cultura e Memória Vale dos Vinhedos, da Associação Circolo Trentino Di Bento Gonçalves, foi realizado pelo Comitê de Cutura RS, na Casa das Artes, reunindo agentes da cultura gaúcha na região para refletir sobre os desafios do setor.

O encontro teve início com um painel que debateu as perspectivas da Política Nacional Cultura Viva, que completou 20 anos em 2024. Estiveram presentes na mesa Mariana Martinez, do Escritório do Ministério da Cultura, Geziel Souza, membro do Comitê Gestor Cultura Viva e coordenador metodológico do Comitê RS, e Mãe Carmen de Oxalá, liderança espiritual da Associação Beneficente Cultural Africana Templo de Yemanjá (ASSOBECATY), integrante da Comissão Nacional de Certificação para Pontos de Cultura. Além disso, o turno da manhã teve ainda intervação teatral de Andressa Argenta e apresentação de rap e break dance com o grupo Sala Hip Hop BG .

Confira a íntegra:

No turno da tarde, depois de uma roda de Capoeira e Jongo com o grupo Abada Capoeira de Bento Gonçalves, a atividade foi retomada com uma intervenção do Movimento Negro Raízes com uma reflexão acerca do racismo e de ataques às manifestações culturais de matriz africana como os terreiros, o carnaval e os recorrentes episódios de trabalho análogo a escrividão na serra gaúcha. Na sequência, o gestor cultural Pedro Vasconcelos e o produtor cultural e cineasta Rogério Rodrigues compartilharam um pouco de suas experiências sobre economia criativa, reforçando a relevância socioeconômica e ambiental de diferentes tipos de artesanato presentes no território brasileiro.

A mesa ensejou a introdução perfeita para a sequência do painel, a qual apresentou uma forma de artesanato típica da serra gaúcha em processo de patrimonialização: a dressa.

Cristine Tedesco, doutora em história da arte pela UFRGS e Universidade de Veneza, apresentou o Inventário “O trigo é meu cristal: memórias do artesanato em dressa na Região de Colonização Italiana no RS”. A dressa é um artesanato trançado na palha do trigo realizado historicamente principalmente pelas mulheres da região. Cristine destacou o caráter afetivo da manifestação, que costuma ser ensinada pelas mães, avós e familiares no geral. Ela apontou ainda que a dressa é um dos legados da imigração italiana no Rio Grande do Sul e que, apesar do caráter sustentável da prática (que não é dependente de energia elétrica ou combustíveis fósseis, além gerar produtos biodegradáveis), recebe pouco estímulo e incentivos públicos para garantir a sua continuidade.

As artesãs, que estiveram presentes em todo evento acompanhando e prestigiando outras expressões culturais – mas sempre mantendo suas mãos ativas trançando chapéus, bolsas (conhecidas como Esporta) e tantos outros artefatos – também contribuíram e complementaram as falas da pesquisadora. “Hoje nós somos 4 gerações fazendo dressa. A biza, a avó e nós duas.” – contou a artesã Ângela, do Mãos de Palha, e concluiu: “É um saber que não é só da minha nona [avó], mas também da nona da nona dela, e isso é ancestralidade. É isso que queremos: não só resgatar, mas manter”.

A última mesa da tarde foi uma rodada de negócios, na qual produtoras e produtores culturais apresentaram seus trabalhos e pensaram coletivamente maneiras de se potencializar o ecossistema cultural da Serra Gaúcha. Ao final, o evento teve como encerramento um show de música popular da Banda Raízes.

Para saber mais sobre o Comitê de Cultura RS e o Programa Nacional dos Comitês de Cultura, acesse https://www.instagram.com/comitedeculturars/.

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