Por Eliana Mara Chiossi.
Ainda é de manhã
e pouco importa
se acordo quando todos já vão almoçar
Faço meu café com leite
penso nas horas da madrugada
que foram minhas
e em toda a poesia que
este dia terá.
Peço que a distração
me acompanhe pelo caminho.
Que eu veja, ouça e fale menos.
Que não me interessem tão avidamente
os pássaros urbanos
os cães com olhares perdidos
os homens vestidos de rua.
Peço o esquecimento parcial
das coisas que há na vida,
porque são muitas
e muitas vezes doloridas.
Peço um pouco de embriaguez
sem nenhuma substância
algo que seja meu
e que eu possa usar
sem ter de cair pela rua
e assim embriagada
tenha os sentimentos amortecidos.
Só por hoje,
peço para ser menos sensível
e posso até continuar
sendo tola.
Que um certo grau
de tolice não faria mal
a ninguém.
É isso. Peço aos deuses um pouco de distração.
Uma certa cegueira temporária.
Uma audição comprometida.
E a competência para fazer silêncio,
A vida é um emaranhado.
E sinto que muitas vezes, participo demais, ouço demais, falo demais, sinto demais.
Por alguns instantes, gostaria de trocar isso por um certo embotamento. De sair tranquila e gastar em algum centro de compras. De por alguns minutos, cantarolar músicas sem compromisso, de poder colocar os pés na terra e só voltar para casa no final da noite, avisada por uma lua radiante.
A cidade pesa.
Os horários pesam.
E somos sempre agendados, cheios de coisas para fazer.
Um pouco feito baratas tontas, se vistos de uma certa distância.
Nesta terça-feira sem chuva, eu peço isso. Uma boa dose de distração.
Talvez possa vir em Abril, porque em Março a agenda está cheia.
Mas quero uns dias para esquecer até de mim, esquecer meus dados pessoais e meu endereço, esquecer cenas do passado e não ter ideias para os dias futuros.
Ficar na varanda da frente da casa dos meus sonhos e esperar um homem, que só conheço nos meus sonhos, trazer pão e flores me convidar para o café da tarde.