23 de março, sábado, cerca de 20h10 da noite. Eu e meu companheiro saimos para observar o céu na sacada do apartamento. Eis que uma cena nos chama a atenção: homens serrando a copa de uma árvore na calçada em frente a Fármácia Panvel, recém contruída, na Av. Prótásio Alves esquina com a Rua Carazinho. Com dificuldade, os homens arrancam todo o verde de cima e, rapidamente, um deles arrasta galhos e folhas pelo estacionamento da loja. Acho estranho. Ligo para o número 156 da Prefeitura de Porto Alegre.
No telefone, relato para o atendente a cena que estou testemunhando, e pergunto se a loja tem autorização para tanto. A resposta foi: “olha senhora, mesmo que tivesse autorização da Prefeitura para retirar a árvore, só quem pode fazer o corte é a Secretaria do Meio Ambiente”. Fico em silêncio. E ele pergunta: “A senhora quer fazer uma denúncia? Eu mesmo encaminho para a SMAM”.
Enquanto falo ao telefone, meu marido tira fotos do corte pela sacada. Neste momento, estão arrancando o tronco. Possívelmente, para facilitar o acesso ao novo estacionamento da loja. Termino o relato, e ganho um número de protocolo para acompanhar o caso. O segurança da loja nos encara lá de baixo com cara feia. Acredito que sem refletir o porquê de estarmos documentando o fato.
Folhas, galhos e troncos são escondidos na parte dos fundos do estabalecimento, onde ainda resta um tapume que cobre os restos de materiais da obra. Tudo feito muito, muito rápido, em uma noite de sábado.
Por fim, o funcionário da loja comprimenta os homens, que saem rapidamente, divididos em dois carros pretos. Eu e meu companheiro nos encaramos tristes, pasmos e indignados.
Na manhã de domingo, com a luz do sol, observamos que aquela árvore não foi a única. Outras duas haviam sido arrancadas. O chamado “progresso” arranca nosso pulmão e substituí por concreto. Por vezes, arranca também o coração.
“Mas é só uma arvore!”, alguns podem pensar. Ou duas, ou três. Afinal, a capital gaúcha é uma das cidades mais arborizadas do Brasil. E assim segue esse progresso estranho: o progresso a qualquer custo. Tempo em que as decisões são feitas com base no lucro. O que vale mais a pena: pagar uma multa ou reduzir os danos ambientais? Por vezes, é mais vantajosa a multa. O resto, é o resto.