A arte (desajeitada) de separar-se

Por Eliana Mara Chiossi.

“Eu ouvi
dizer que você falou
que está pensando em voltar pra mim
que se entristece ao saber como eu estou
mas você precisa saber que eu
ainda tenho um pouco de orgulho em mim
embora quase morto
eu tenha aquele amor
mas eu não vou deixar
você me ver assim…
(…)se não for por amor, me deixe aqui no chão”
Por Amor – Roberto Carlos

Pelo menos dois acontecimentos da semana passada me provocaram para escrever sobre o tema da separação: a leitura do livro A Arte de Separar-se, de Edoardo Giusti, e uma conversa com alguns amigos no Facebook, que virou debate e abertura de um grupo para discussão do tema intitulado The End. A conversa no Facebook girava em torno da constatação de que atualmente muitas pessoas estão se separando por e-mail, skype, gtalk e até mesmo por torpedos. Já no livro citado, o autor, psicólogo clínico, a partir de sua experiência no consultório, estuda os aspectos da separação e apresenta algumas considerações que podem guiar uma pessoa que esteja passando pelo processo da separação. Para o autor, numa relação amorosa, o fim do período de encantamento romântico é substituído por outra fase da relação que poucos casais estão preparados para enfrentar juntos.

Entretanto, partindo desses dois pontos, outras fontes foram surgindo. Um exame rápido pelas letras de música brasileira apresenta um verdadeiro mapa da separação, em seus mais variados aspectos e situações. A música que podemos rotular como brega e as músicas de vertente romântica praticamente só vão falar de amores problemáticos. Determinadas páginas do mesmo Facebook apresentam frases que mostram como a dor da separação é uma questão presente. E, em geral, quem fala da separação é aquele que foi deixado, preterido. E junto com a separação aparece outro tema importante que é a fidelidade.

A conversa que tivemos no Facebook girava em torno do modo desajeitado como as pessoas parecem estar lidando com os finais de seus relacionamentos. Fiquei surpresa com o relato de uma amiga: seu último namorado comunicou a separação através de um torpedo.

Sempre parece mais fácil falar daquele que termina a relação como algoz. E o que foi deixado vira rapidamente a vítima. Mas o que dizer daquele que termina a relação de um jeito tão desajeitado como este, através do envio de um torpedo? Do outro lado, está aquele que foi deixado. Que pode ter dado motivos para o fim da relação e para o uso do torpedo.

No repertório da MPB, a separação aparece em primeiro lugar como tema. Pode parecer um fenômeno dos nossos tempos, mas esta tendência dialoga com o início da Literatura Portuguesa. A coita amorosa era o núcleo da poesia, traduzida nas canções de amor e de amigo. Nessas poesias eram tratadas todas as dificuldades do amor, como a distância e a falta de reciprocidade.

Amor feliz está nos contos de fada e comédias românticas de Hollywood. Histórias que sabiamente são interrompidas no momento dos acertos e da chuva de pétalas de rosa. Histórias de amor bem sucedido raramente estão na pauta.

Apesar das mudanças extremas nos valores da sociedade, dos papéis vividos por homens e mulheres, dos direitos adquiridos para os pares românticos homossexuais, das diferenças na estrutura familiar, parece que o coração apaixonado atravessa as barreiras do tempo e segue sendo a mesma máquina misteriosa e complexa de sentir. Falar de separação como falar do amor é assunto para diversas crônicas. Por ora, deixo vocês com um dos versos mais bonitos da música brasileira, escrita por Nelson Cavaquinho:

Tire seu sorriso do caminho
Que eu quero passar
Com a minha dor.

Fonte da imagem da capa: https://eusebioalmeida666.blogspot.com.br/2012/10/pintura-de-eusebio-almeida.html

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