Hoje protestos contra o genocídio do povo negro

Em Porto Alegre será no Largo dos Enforcados, Praça Brigadeiro Sampaio, às 16h, próximo ao Gasômetro.

Por Douglas Belchior

Em todo Brasil, em grande parte das capitais brasileiras e incontáveis outras cidades do país, negras e negros, autônomos e independentes realizarão nesta sexta-feira, dia 22 de Agosto, a II Marcha Nacional Contra o Genocídio do Povo Negro.

A partir da Bahia, a resistência organizada pelo Quilombo X e pela Campanha Reaja ou será morto, Reaja ou será morta, contagiou organizações negras em todo país e o resultado é a construção de um grande momento de mobilização de protesto.

Em São Paulo, a luta contra o genocídio negro protagonizada pela Uneafro-Brasil, MNU, Circulo Palmarino, NCN-USP, Levante Popular da Juventude, Mães de Maio, Kilombagem, Força Ativa, Posse Hausa, entre outros, já alcançou importantes resultados, como o Fim dos Autos de Resistência no Estado, mas ainda assim a violência policial e o índice de assassinados promovidos pelo aparato militar só aumenta.

Para se ter uma ideia, só em São Paulo, de 2002 para 2011 houve um aumento de 24% de morte de jovens negros, um crescimento de 11.321 para 13.405. Com esse diferencial, a vitimização de jovens negros passa de 71,6% em 2002 para 237,4%. A violência nos três primeiros meses de 2014 em comparação a 2013 apresentaram um aumento de 206,9% do número de pessoas mortas por policiais em serviço. O aumento sistemático de extermínios é uma das faces do genocídio do qual falamos.

O Mapa da Violência 2014 também releva dados estarrecedores que só reafirmam a guerra do Estado contra o povo negro brasileiro. Segundo o estudo, 100 em cada 100 mil pessoas de com idade entre 19 e 26 anos morreram de forma violenta em 2012. Negros são os principais alvos destas mortes: morreram proporcionalmente 146,5 mais de negros que brancos em 2012. No período entre 2002 e 2012 o índice de mortes negras em comparação com a de brancos, mais que duplicou.

Entre 2002 e 2012, os homicídios que vitimaram jovens brancos caiu 32,3%, enquanto que os homicídios de jovens negros aumentou 32,4%. Para além dos acidentes de transito, barco ou avião e da própria violência civil, que carrega em sim o racismo cultural como uma herança dos quatro séculos de escravidão, o principal motivador de tal desta necro-seletividade foi a radicalização de “políticas públicas de enfrentamento à violência” que investiu seu aparato para a proteção à vida em territórios brancos e direcionou seu armamento para os territórios majoritariamente ocupados por negros.

Não faltam motivos para marchar e exigir reparação histórica à população negra. Nas palavras de Hamilton Borges, esta marcha é “contra a brutalidade policial, contra o esculacho da polícia nos ambientes onde negros são maioria, contra o super encarceramento, contra a política proibicionista que justifica a violência e homicídios praticados por policiais e grupos de extermínio, contra as políticas do governo que sob a justificativa de combater a violência, gera mais repressão, militarização e punição, o que reforça o Estado de Direito Penal e enche as cadeias de mais e mais pessoas negras.”

A vida real é difícil para todos, mas há explícitos requintes de crueldade no tratamento dispensado à população negra por parte do Estado Brasileiro. É propositada a maneira como o Estado trata a população mais pobre, de maioria negra, negando a ela direitos básicos como saúde, educação, moradia, cultura, transporte, aposentadoria e segurança. “O corpo negro habita a zona da morte (física, simbólica, ontológica)…”, para lembrar palavras do Prof. Jaime Amparo, “… E, quando as balas da polícia o atingem, sua eliminação física é “apenas” a reiteração de múltiplas mortes. É possível concebermos a ideia de alguém morrer várias vezes?”

II marcha contra o genocidio

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