Capoeira, cultura e saúde na Comuna do Arvoredo

Desde o final de março, o Ponto de Cultura e Saúde Ventre Livre/Coletivo Catarse vem recebendo mais uma atividade entre as tantas que vem movimentando os espaços do coletivo na comunidade urbana da Comuna do Arvoredo, na Rua Fernando Machado, 464, Centro Histórico de Porto Alegre. Desde a quarta feira, 19 de março, o Salão Zé da Terreira e a Garajona do Casarão têm recebido os trabalhos do Africanamente Capoeira Angola.

O núcleo coordenado pelo Treinel (graduação comum na capoeira angola, semelhante a professor) Daniel Jamaica está com aulas fixas nas terças, quartas e quintas às 19h e também às 8h30 das quintas-feiras. Durante os encontros são praticados os movimentos da capoeira angola, a músicalidade tradicional desta arte e também a manutenção dos berimbaus.

A relação com o Ponto de Cultura Africanamente não é novidade, já que a Catarse e a escola de capoeira já têm um histórico de parcerias longíquo e diverso , que vai desde a colaboração recente do Africanamente no 1° Encontro de Cineastas Indígenas CORAL Porto Alegre em 2024 até a participação de capoeiristas da escola no curta de ficção Cine Marighella, em 2016.

Pensando-se no contexto atual de retomada das políticas públicas culturais, nada mais natural que ocorra esta aproximação, principalmente levando-se em conta o viés de Cultura e Saúde do Ventre Livre. Até porque a capoeira é considerada promotora de cultura e saúde de maneira integrada e parte de uma perspectiva afrocentrada, e o Africanamente é um ponto que tem um histórico de atuação e divulgação da intersecção entre cultura e saúde nas diferentes práticas de matriz africana.

Um exemplo desta parceria é o curta “Capoeira – a saúde está na ginga”, produzido durante as oficinas práticas de Produção Audiovisual e Trilha Sonora (3º Ciclo – 2019/2020) do Ponto de Cultura e Saúde Ventre Livre. O ciclo de oficinas teve a participação do Mestre Guto Obafemi, responsável pela escola. Além da Africanamente, o curta também teve a participação e apoio da Associação Herança Cultural Capoeira, Associação Palmares de Capoeira Angola, Escola do Be a Bá de Angola Malta dos Guris e Gurias de Rua e Movimento Cultural de Capoeira Angola Guayamuns.

Para além da atuação do Mestre Guto e seus treinéis e treinelas (com dois núcleos em Porto Alegre, Bento Gonçalves/RS, Florianópolis/SC e Santo André/SP), a perspectiva de pensar a capoeira enquanto uma promotora de saúde já vem das raízes. Não por acaso, a referência mais velha viva (algo positivo dentro de uma cultura de tradição) seguida pela escola, Mestre Renê Bitencourt da ACANNE (Associação de Capoeira Angola Navio Negreiro, Salvador BA), há muito tempo fala dessa relação. Na visão transmita pelo mestre baiano, a cultura atua como um sistema imunológico, que fortalece não só a saúde física, mas também mental, espiritual e mesmo financeira. Frases como “um corpo saudável não gera lucro pra indústria famacéutica”, “um corpo sem Exu é um corpo doente” e a clássica estampa das camisetas “Capoeira Cura” são alguns exemplos. Muito além da teoria, está a prática do mestre, que, aos 65 anos de idade, segue com energia, vigor e disposição para a prática da sua arte, além de não depender de remédios como tantas pessoas no país. Somando a esse bem-estar do corpo físico, a rede de relações sociais fortalecidas pela capoeira e a conexão com a ancestralidade proporcionada pelas rodas e outros rituais, pode-se ter uma noção da saúde integrada que a prática de matriz africana proporciona.

Por conta destas e tantas outras intersecções entre capoeira e saúde, o Ponto de Cultura e Saúde Ventre Livre/Coletivo Catarse está extremamente grato de colaborar sendo uma das sedes da escola Africanamente Capoeira Angola.

Vida longa a esta parceria, axé!

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