Retomada Gãh Ré luta para ficar no território

Diante da reintegração de posse determinada pela juiza Clarides Hahmeier, os indígenas da Retomada Multiétnica Gãh Ré, em Porto Alegre no Sul do Brasil, reafirmam a luta em defesa do território. A Kuja Kaingang Gã Teh, liderança político espiritual à frente da retomada, faz um apelo para que as autoridades reconheçam o direto ao espaço dos povos que estão sendo roubados a 500 anos. O local é alvo de um empreendimento de condomínio de edifícios da Maisonnave Companhia de Participações, que pediu a reintegração de posse. A empresa que quer retirar os indígenas foi dona de um banco que faliu na década de 80; além disso, coleciona também acusações de fraude, ligações com a ditadura militar, especulação e conflitos com os povos Kaingang e Guarani. Mesmo com os ataques do poder econômico e judiciário, os povos originários seguem determinados a lutar em defesa do território tradicional que vinha sendo ocupado por seus ancestrais milênios antes da invasão. “Caso tirarem esse espaço de nós, eu sairei no caixão”, conclui Gã Teh.

Curtas do Dilúvio no Quilombo do Areal

No fim de tarde da última terça, dia 29, a equipe do Coletivo Catarse/Ponto de Cultura e Saúde Ventre realizou um cinedebate na comunidade do Quilombo do Areal com apoio do Sindbancários. Além da exibição dos curtas “Dilúvio – riacho que a cidade esqueceu” e “Tainhas no Dilúvio” o evento teve também a apresentação musical do Serestas da Ilhota. Embalado por músicas autorais e serestas, entre as quais algumas de Lupicínio Rodriguês, o evento rememorou os tempos da antiga Ilhota, nos quais as comunidades e a cidade como um todo se relacionavam de outras maneiras com o Arroio Dilúvio. Aliás, as imagens antigas do arroio e o registro histórico, presentes no documentário “Dilúvio – riacho que a cidade esqueceu” instigaram os mais velhos a compartilhar suas vivências e lembranças. “Estive na grande enchente de 1941, lembro que a água chegou no telhado das casas e tivemos que ser resgatados pela Brigada Militar” relatou uma senhora que assitia o filme da varanda da sua casa junto com a família. Por fim, última atração da noite, o curta de ficção Tainhas no Dilúvio trouxe um clima de leveza com sua ironia e momentos satíricos. Os deboches às relações das empreiteiras com os veículos de mídia corporativa – e o constante lobby contra a natureza – levaram o público às gargalhadas.

Encontro Coral Território Audiovisual

De 14 a 20 de novembro, comunicadores que usam o audiovisual para defesa de território estiveram reunidos em Paraty/RJ. Convocado pela Witness – ONG que defende o direito de filmar – o encontro foi o primeiro a reunir os participantes brasileiros da rede Coral – Coletivos Reunidos da América Latina. Em paralelo e traçando conexões, companheiras e companheiros de outros territórios latinoamericanos se reuniram na Cidade do México. A semana de trabalho foi intensa, com diversas atividades de formação, aprofundamento de capacidades, compartilhamento de saberes e vídeos produzidos nos diferentes territórios. E, de fato, o evento conseguiu reunir representar um pouco da diversidade territórial Brasileira, com participação de grupos do norte do Amazonas, fronteira com a Venezuela, até grupos do Rio Grande do Sul, vizinhos do Uruguai e Argentina. Além das atividades teóricas e práticas, realizadas no Silo Cultural (Ponto de Cultura local de Paraty) foram realizadas saídas em grupo para as praias do Sono e da Trindade, nas quais os grupos acompanharam as atividades de pesca artesanal dos grupos Caiçaras que vivem na região. Ponto culminante de um processo híbrido de formação de formadores em gestação desde 2021, o encontro conseguiu juntar diversos coletivos do país na missão de tecer uma rede independente. Diversas sementes foram plantadas, reforçando a necessidade entre os coletivos de mais encontros e espaços de fortalecimentos dos diversos territórios participantes da articulação. Porém, seguiu o desafio de integrar o grupo de coletivos brasileiros aos companheiros do restante de Abya Yala – tarefa complexa dadas as barreiras linguísticas e culturais, mas imprencisdível para se alcançar uma solidariedade continental que conecte os territórios em luta. Texto: Bruno Pedrotti.Fotos: Paulinho Bettanzos.