Fonte do texto: IPHAN
O Sopapo é um tambor de grandes dimensões (1,5 m de altura por 60 cm de diâmetro) encontrado nas cidades de Rio Grande, Pelotas e Porto Alegre, no Estado do Rio Grande do Sul, cuja origem e difusão está cercada por dúvidas. Consta que sua origem é fruto da contribuição de escravos da região das Charqueadas, em Pelotas, no século XIX, tendo sido muito difundido a partir da década de 1940 em escolas de samba dessas cidades.
É consenso que o Brasil é um país constituído pela miscigenação de culturas e etnias distintas. A cultura afrodescendente, especificamente, se encontra entre as principais na base da pirâmide social brasileira, sendo a única espalhada por todo o território nacional. Entretanto, a percepção da participação étnica na cultura do sul do Brasil prossegue sendo vista como se somente oriunda de índios Guarani, missioneiros, bandeirantes, açorianos e colonos europeus, sem a participação dos negros na sua construção histórica. Esse é um fato predominante no registro histórico, especialmente a partir da entrada do positivismo como filosofia dominante no sul do país, a partir da década de 1930, quando a figura do gaúcho como a de um herói dos pampas passou a ser idealizada como desbravador e líder na luta pela liberdade do seu povo, os brancos.
Em 1999, identificou-se a existência de apenas três exemplares de tambores de sopapo no Estado. Diante da “carioquização” do carnaval brasileiro, gradativamente, os tambores tradicionais foram substituídos por surdos – de sonoridade mais grave e processo de construção industrializado. Atualmente, os processos de fabricação carecem de documentação histórica, sobrevivendo apenas por meio da oralidade de mestres Griôs e artistas interessados. E, assim, se perderam muitos elementos que poderiam ter sido preservados pela simples produção de registros culturais. Entre 2000 e 2001, o músico Gilberto Amaro do Nascimento, o “Giba-Giba”, realizou duas edições do Projeto Cabobu – encontros de celebração do Sopapo que contaram com a participação de músicos renomados como Naná Vasconcelos e Chico César, em Pelotas (RS). Os encontros chamara a atenção para a possível extinção do instrumento.
O desenvolvimento do projeto envolveu pesquisas in loco e históricas em cartórios, sebos e bibliotecas públicas. Entrevistas foram realizadas com o intuito de registrar e transmitir o conhecimento secular e histórico associado à produção do tambor de sopapo. Como produto final, foram confeccionadas cartilhas com ilustrações e detalhes, passo a passo, sobre a produção do tambor. Uma caixa com dois DVDs, contém um documentário em longa-metragem, um ensaio fotográfico, e um banco sonoro das batidas do tambor, além de entrevistas com luthiers (construtores e reparadores de instrumentos) e mestres Griôs envolvidos na produção e história do tambor. O projeto resultou, também, em um livro com as degravações das entrevistas e uma seleção de fotografias.
Documentário – 2010 – 124′ 02”
O filme narra a trajetória do Tambor de Sopapo, que carrega a história da diáspora africana no Rio Grande do Sul. Sua matriz vem pelas mãos e mentes dos africanos escravizados para a região das charqueadas, ao extremo sul do Brasil. É considerado sagrado, retumbando o som por séculos de um purificar religioso para os rituais de matança – realidade presente nas propriedades que produziam o charque entre os séculos XVIII e XIX. A partir da década de 1950, inicia seu caminho no carnaval, quando surgiram as primeiras escolas de samba no estado. O Grande Tambor conta uma parte da história sobre a contribuição dos afrodescendentes na formação simbólica e cultural do povo do Rio Grande do Sul. Sobreviveu pelas mãos de Mestre Baptista, Griô, que preservou a memória e a arte da fabricação de um instrumento de som grave e marcante e que hoje é patrimônio brasileiro.
Conteúdo para download
Trilha Sonora Original
Livro de Entrevistas
Cartilha de construção do Tambor
Mestre Baptista
Continuidade das ações com o Sopapo
Minha História
Parte 1
Parte 2
Meu Sopapo
Com Luciana Custódio, ativista social, Raquel Moreira, psicopedagoga e ativista do Movimento Negro, e Sandra Narcizo, produtora cultural. Falando sobre a trajetória pessoal de cada um com o Grande Tambor!
Esta série foi contemplada pelo EDITAL FAC DIGITAL – Universidade Feevale/SEDAC-RS Facebook: @RS.sedac, @feevale e @feevaletechpark Twitter: @sedac_rs e @Feevale Instagram: @sedac_rs, @feevale e @feevaletechpark Site: www.cultura.rs.gov.br, www.feevale.br e www.feevaletechpark.com.br
O Grande Tambor em revista
10 anos depois, Gustavo Türck, diretor do filme O Grande Tambor, contemplado em Culturas Populares nos Editais Emergenciais de Auxílio à Cultura da Prefeitura Municipal de Porto Alegre, propõe este podcast em estilo "live". Uma conversa com Marcelo Cougo, quem dirigiu a trilha sonora do documentário, e Leandro Anton, fotógrafo still do projeto e um dos mentores da ideia inicial desta jornada, e com Zé Baptista e Dona Maria, luthier e filho e a companheira de vida de Mestre Baptista, um dos personagens principais dessa história. Além das participações por áudio de Lorena Sanchez, percussionista do grupo de mulheres Iyalodê Idunn, Lilian Rocha, poetisa e idealizadora do espaço Sopapo Poético, Richard Serraria, músico e grande pesquisador do Tambor de Sopapo, e Ledeci Coutinho, professora, diretora de escola pública, gestora em educação e mulher negra em descoberta de si mesma, a voz e a imagem que dão a força ao final do quebra-cabeça montado por Têmis Nicolaidis e a equipe de direção do Projeto do filme O Grande Tambor.
Tambor de Sopapo – Resgate Histórico da Cultura Negra do Extremo Sul