O nada misterioso futuro das crianças com consciência

Aqui quem escreve é uma mulher de 45 anos, que acompanhou muitas mudanças sociais, mesmo nessas (poucas) 4 décadas de vida. Muito avançamos como sociedade em relação às questões de gênero. Hoje, pais já embalam seus bebês, dão de comer, fazem o tema de casa. Homens já choram sem vergonha e lavam a roupa de sua família, comportamentos que quando eu nasci eram inconcebíveis para a maioria. Porém, muito mais devemos avançar já que mulheres ainda são mortas, violentadas, assediadas ou mesmo importunadas de maneiras “sutis” apenas por serem mulheres….todos os dias. Por isso, quando assistimos uma peça de teatro protagonizadas por crianças que, livremente, debocham e gritam em cena essas mudanças, a sensação é de que não vamos parar de avançar, e ainda bem. O enredo de O Atual Mistério de Feiurinha, adaptado da história original “O Fantástico Mistério de Feiurinha”, escrito em 1986 por Pedro Bandeira, desconstrói todo o tempo essa ideia de que a princesa precisa ser recatada e do lar e, sim, ela deve ser a heroína de sua própria história. Essas princesas que batem em lobos, se recusam a servir os principes e não querem casar, são mostradas como personagens que vão atrás de desvendar seus próprios mistérios para que não desapareçam, assim como aconteceu com Feiurinha. Esse não desaparecer significa, para mim espectadora, superar a condição de invisibilidade a qual muitas mulheres e questões sociais relacionadas a elas são submetidas.Em conversa com uma amiga, ela comentou da falta de políticas para a infância, e eu refleti no porque. Um dos pensamentos que me ocorreu foi sobre as pessoas encararem a infância como transitória, curta e o importante mesmo é a vida adulta pois ela permanece até o fim. Pois, para mim, é ao contrário. A infância é um estado permanente pois ali a base é formada de maneira sólida e transformadora. Trabalhar questões tão basilares à sociedade como machismo, feminismo, patriarcado e papéis de gênero, através do teatro, com crianças é de uma potência absurda. Oportunizar a elas apresentar um espetáculo com esse teor para suas famílias é revelar a ideia de criança cidadã, pessoa que tem o seu lugar na sociedade e que já está pensando o tal de futuro melhor que todos nós concordamos que é urgente que seja construído. Eu quero um mundo melhor para a minha filha mas mais do que isso eu quero que ela tenha as ferramentas para lutar por seu próprio futuro de uma maneira mais equânime entre homens e mulheres e que eles possam fazer juntos e que o teatro possa ser o caminho possível para isso. SinopseO Atual Mistério de Feiurinha traz princesas empoderadas e independentes que procuram por uma princesa desaparecida. Feiurinha é criada para competir, mas se converte em uma feiticeira que questiona bem e mal, beleza e feiura, acabando com a competição entre as mulheres imposta pela sociedade. As princesas percebemos que nunca tinham ouvido ou lido sua história e contam ela para que todos e todas possam conhecer. A peça foi inspirada na obra de Pedro Bandeira, O Fantástico Mistério de Feurinha, mas traz um conteúdo renovado da narrativa. Ficha técnica Direção, figurinosAndressa Corrêa e Helen Sierra Produção e escolha da trilha sonoraAndressa Corrêa ElencoÁgatha Beatriz Dias MarquesAntü TahielAurora Corrêa MouzerDora Flor Dapuzzo de OliveiraEnrico Haas WiltuschnigLara Lopes SchröderLeonardo Dalmolin MartinsLuz BrasilMainô TürckMônica Santos KöhlerNauê Bassi da SilvaNina Bueno NoguezSofia Yeshe da Silva Corrêa Simões KadriTerra Muriel Fernandes AmorimVicente Maranhão de OliveiraVioletta Dalmolin Martins SomFábio Castilhos IluminaçãoClarí Tittoni Fotos e texto porTêmis Nicolaidis RealizaçãoYeshe Cultural ApoioComuna do ArvoredoPonto de Cultura Ventre Livre

Estamos fazendo um filme!

Numa parceria com o Ponto de Cultura Vale Arvoredo, o Coletivo Catarse/Ponto de Cultura e Saúde Ventre Livre desenvolveu, ao longo do mês de abril, Vamos fazer um filme? oficina prática de produção audiovisual para crianças, através de projeto contemplado pela Lei Paulo Gustavo no município de Morro Reuter. Foram 5 encontros até o momento, quando crianças do 1º, 2º, 3º e 4º anos da EMEIEF Tiradentes tiveram a oportunidade de experimentar um pouco de como é a lida da produção de um vídeo mais trabalhado. Juntos, contamos histórias, assistimos filmes, trabalhamos em grupo, fizemos um roteiro e filmamos um pequeno curta-metragem – que está em fase de edição. “Num momento onde o audiovisual é onipresente em nossas vidas, a importância de um projeto como este é o desenvolvimento de um pensamento crítico a respeito do que é consumido como entretenimento ou mesmo como informação. Saber e viver os bastidores de um filme, a exemplo do que foi feito com essas turminhas, é desmistificar as produções, colocando em perspectiva o conteúdo que chega através dos computadores, televisões e, principalmente, celulares. É estimular a reflexão a respeito do que é verdade e do que é puramente ficção. Colocar os pequenos como produtores de um filme é dar voz ativa ao público que diante de uma tela, normalmente é passivo e, isso, é dar ferramentas para que possam decodificar as mensagens, tendo opinião própria sobre o que assistem”.Têmis Nicolaidis – Oficineira No dia 7 de maio, as crianças visitarão o espaço do Ponto de Cultura Vale Arvoredo, proponente deste projeto. Lá, conhecerão mais sobre este espaço cultural, que é uma referência no município, e participarão de uma sessão de cinema com filmes produzidos em Morro Reuter, culminando com a estreia do filme que produziram: Trio Parada Dura – e o mistério do brilho no mato.