Uma feira para outro mundo possível e necessário

Dizem que durante os três dias da FEICOOP, Santa Maria se transforma na capital mundial da Economia Solidária. A Feira Internacional do Cooperativismo e da Economia Solidária, que também é uma feira da agricultura familiar, está carregada com os ideais dos fóruns sociais mundiais, que aconteceram em Porto Alegre, a partir de 2001. Mas a FEICOOP iniciou ainda antes, em 1994. Além de movimentar a economia local, proporciona encontros e trocas, por meio de oficinas e de diversas atividades formativas e culturais, com pessoas vindas de vários lugares do Brasil. Um sentimento de pertencimento, de irmandade que aflora. Essa diversidade celebrada colabora para construir um outro mundo possível, que nunca esteve tão necessário como agora, em que as mudanças climáticas ameaçam a continuidade de muitas formas de vida e de viver no planeta. Neste vídeo, conhecemos um pouco do trabalho e do que pensam participantes da 30ª edição da feira, que ocorreu em julho desse ano:

Juçaras em movimento

Ao longo do último fim de semana, seguiu a diáspora das juçaras em busca de novas florestas. Aproximadamente 50 mudas da palmeira, espécie-chave da Mata Atlântica, foram resgatadas de uma área de mata de manejo do sítio dos Nicolaidis Cardoso (em Triunfo/RS) para integrar o viveiro e “centro de distribuição” na Comuna do Arvoredo, no centro de Porto Alegre – um local já clássico da resistência agroecológica em área urbana.

Regina Tchelly, do Favela Orgânica, fala sobre aproveitamento de alimentos em Porto Alegre

Fundadora do Favela Orgânica e cozinheira autodidata, Regina Tchelly estará em Porto Alegre neste final de semana, quando cumpre agendas nas quais irá falar de seu projeto, que há mais de dez anos ensina o “uso de ingredientes até o talo”, por meio do combate ao desperdício dos alimentos e da fome, fazendo da cozinha um espaço de transformação social. Sua proposta é modificar a relação das pessoas com a comida e seus ingredientes. Na sexta-feira (6), ela participa do evento de lançamento da Cartilha Exigibilidade do Direito a Estar Livre da Fome, de autoria da Aliança pela Alimentação Adequada e Saudável, atividade marcada para as 19h no Sindicato dos Aeroviários, na Rua Augusto Severo, 82, bairro São João. Já no sábado (7), a partir das 8h30min, Regina faz uma caminhada seguida de uma roda de conversa nas Feiras Ecológicas da Redenção – Feira dos Agricultores Ecologistas (FAE) e Feira Ecológica do Bom Fim (FEBF), na Avenida José Bonifácio, junto ao Parque Farroupilha (Redenção). O Favela Orgânica foi criado em setembro de 2011. A iniciativa, precursora em seu formato, teve origem nas comunidades Babilônia e Chapéu Mangueira, na zona sul da cidade do Rio de Janeiro. Na época, com apenas R$ 140,00 para montar uma primeira oficina de aproveitamento de alimentos, Regina fez o projeto crescer, espalhando suas sementes, multiplicando saberes e democratizando a comida criativa, econômica e nutritiva não somente dentro da favela, mas pelo Brasil e em viagens ao Exterior, a convite de diversas organizações e chefs renomados. Trabalhando conceitos como consumo consciente, gastronomia alternativa, compostagem caseira, hortas em pequenos espaços e defendendo o uso de Plantas Alimentícias Não Convencionais (PANC), Regina ensina como usar integralmente folhas, raízes, cascas, talos e por aí afora. Ideias que inclusive viraram um livro de receitas ao ar livre, por meio de murais pintados em setembro de 2019 na entrada do Morro da Babilônia que reproduzem as dicas de Regina. A inciativa Favela Orgânica atua no combate ao desperdício do alimento e da fome. A proposta é modificar a relação das pessoas com os alimentos. “Aproveitar o alimento é coisa de gente inteligente”, defende. Sobre a convidada Natural de Serraria, interior da Paraíba, nasceu em 4 de agosto de 1981. Aos 12, já era manicure. Três anos mais tarde, se mudou para João Pessoa. Chegou ao Rio com 20 anos, onde trabalhou como doméstica para uma família que comia de forma saudável, novidade para ela na época. Como adorava cozinhar, superou o estranhamento inicial e passou a se interessar por alimentos integrais e orgânicos.“Quando cheguei ao Rio de Janeiro vi o volume e a quantidade de alimentos sendo desperdiçados nas feiras livres da cidade. Foi uma das coisas que mais me incomodou, porque lá na Paraíba a gente sabe como aproveitar tudo”, conta. Sobre a Aliança A Aliança pela alimentação Adequada e Saudável é uma coalizão que reúne organizações da sociedade civil, associações, movimentos sociais, entidades profissionais e pessoas físicas que defendem o interesse público com o objetivo de desenvolver e fortalecer ações coletivas que contribuam para a realização do Direito Humano a Alimentação Adequada (DHAA). Suas ações buscam o avanço de políticas públicas para a garantia da Segurança alimentar e Nutricional (SAN) e da soberania alimentar no Brasil. Em Porto Alegre, o Núcleo RS da Aliança surgiu em outubro de 2016, durante o 24º Congresso Brasileiro de Nutrição, que teve como sede a Capital gaúcha. As bandeiras e práticas da Aliança são orientadas pela promoção da equidade, da transparência, da realização e respeito dos direitos humanos. Assim como pela valorização da interação entre culturas de forma recíproca, respeitando e incluindo saberes e práticas de lugares não acadêmicos. por Anahi Fros | Semeadora Comunicação | parceira do Coletivo Catarse(Assessoria de Imprensa Voluntária)

Sarau das Agroflorestas II – Comuna do Arvoredo

No início do mês de agosto, dia 10, a Floresta Urbana da Comuna do Arvoredo acolheu o encontro de trabalhadores, acadêmica(o)s, militantes, artistas, todo um pessoal que luta pela causa do meio ambiente através das Agroflorestas, opção fundamental para moradia, produção de alimentos, mudança de postura na vida e, principalmente, cuidados com a natureza e o planeta. Esse foi o segundo encontro, organizado pela Comuna, Coletivo Catarse e o coletivo da Carta das Agroflorestas. A Carta das Agroflorestas é uma iniciativa para enfrentar a crise climática e buscar alternativas baseadas na natureza para reassentar famílias que perderam seus lares na enchente de maio, regeneração dos solos erodidos pelas águas e reconstituição das matas devastadas pelo desenvolvimento capitalista desenfreado no RS. Esse segundo encontro trouxe as experiências de Fabianne Vezzani, Kátia Zanini, Vicente Guindani e Isabel Cristina Dalenogare em uma roda de conversa que depois foi aberta ao público presente. Logo em seguida tivemos as apresentações do Musical Talismã, Jéssica Nucci, acompanhada pelo Vicente Guindani, Rodrigo Apolinário e outros artistas que usaram do palco para expressar sua arte e posicionamento político. Esperamos em breve a realização do terceiro encontro.

II Carijada Serrana Caconde

No último final de semana de julho, foi realizada mais uma edição da Carijada Serrana no Caconde, distrito rural de São Francisco de Paula/RS. Nesta, além de se manejar os pés de erva-mate nativos em meio à floresta com araucárias da Fazenda das Taipas – propriedade que acolheu o evento mais uma vez – também foram podadas plantas cultivadas em sistema agroflorestal na propriedade do professor, da UERGS, Ricardo Mello.

Ele voltou! E vai para a 2ª Carijada Serrana em São Chico

Após algumas semanas aos cuidados do amigo e médico veterinário Fabio Haussen, que o resgatou das águas da enchente do Rio Taquari – que acometeu sua morada em Triunfo -, o soque de erva-mate do Coletivo Catarse passou por uma “internação” nas mãos do marceneiro Juca Rocha, ali mesmo, no bairro Olaria, e… voltou a funcionar! Depois desse processo de recuperação, deve chegar em São Francisco de Paula um dia antes da carijada marcada para passar por uma limpeza profunda e ajustes finais, quando ficará à disposição para voltar a bater erva novamente. Esta que será a 2ª Carijada Serrana do Caconde, já contando com muita gente inscrita e que vai ocorrer entre os dias 26, 27 e 28 de julho. Um evento que marca também os 20 anos do Coletivo Catarse e os 10 anos do lançamento do documentário Carijo! Para mais informações, clique aqui e leia a matéria original de divulgação da carijada. Confira mais imagens da recuperação do soque, que passou (e vai passar mais um pouco) por troca e limpeza de rolamentos – da estrutura de madeira e do motor (que ficou uma semana embaixo da água e voltou a funcionar!) -, limpeza e refeitura do cocho da erva-mate, afiação das lâminas, mais uma desinfecção e lubrificação geral. *Texto de Gustavo Türck e fotos e vídeo de Bruno Pedrotti e Billy Valdez.

2ª Carijada Serrana acontece em 26, 27 e 28 de julho

Evento que aconteceria em maio já firmou nova data! Serão 3 dias para experienciar um feitio ancestral da erva-mate. Na sexta, sábado e domingo (26, 27 e 28 de julho), na Fazenda das Taipas, localidade de Caconde, São Francisco de Paula, vai ocorrer a segunda edição da chamada Carijada Serrana. Uma realização do Centro de Tecnologias Alternativas Populares (CETAP – https://www.cetap.org.br/site/) e da Câmara Temática Agroflorestas e com o apoio, entre outros, do Coletivo Catarse – no que deve marcar mais uma atividade dos 20 anos do Coletivo e também os 10 anos do lançamento do documentário Carijo, o filme (https://coletivocatarse.com.br/acervo/carijo/). Esta é uma atividade que se repete após dois anos, quando foram produzidos cerca de 50 kg de erva, podando-se árvores nativas e realizando-se todos os processos e etapas da produção em formato de oficina – montagem do carijo, poda/coleta, sapeco, secagem, ronda, moagem e mateada. Veja como foi a primeira edição! Na carijada deste ano, a proposta é complementar a vivência dos processos com uma perspectiva do manejo agroflorestal para a fabricação artesanal de erva-mate neste sistema ancestral que é o carijo. O CETAP é uma organização que atua nesse contexto já há muito tempo, na região dos Campos de Cima da Serra, e está trazendo essa ideia para enriquecer ainda mais uma função que já é recheada de valores históricos e ecológicos por si só. “Acredito que a inclusão dessa questão do manejo agroflorestal, de se conectar essas pontas da parte de campo, dos manejos, das práticas, da poda, das roçadas, adubação e tudo o mais com o processamento em si, na proposta deste ano, traz mais um importante elemento nos arranjos agroflorestais possíveis para podermos replicar na região, aproveitando os princípios regionais dos campos de cima da serra e, claro, para espalhar a outras regiões também. Então, acho que vai ser uma atividade bem interessante, de se movimentar, por exemplo, uma área com um sistema já estabelecido há pelo menos uma década” – pondera o engenheiro agrônomo da equipe técnica do CETAP e também um dos responsáveis pela organização do evendo, Tiago Fedrizzi. Na programação também está prevista a projeção do documentário Carijo, o filme pela equipe do Coletivo Catarse, que estará presente acompanhando e auxiliando na realização de toda a carijada. Um documentário realizado em edital de Patrimônio Cultural Imaterial em convênio com o IPHAN, baseado em estudos e com acompanhamento do biólogo Moisés da Luz, que trata sobre a metodologia de fabricação artesanal de erva-mate no sistema de carijo, suas implicações, relações e desdobramentos deste conhecimento ancestral. A circulação do filme vem permitindo, na última década, a disseminação do conhecimento de uma prática, hoje, tradicional, carregada na própria história do Rio Grande do Sul, que remonta à época da dominação indígena no território. “Impressiona que, na atualidade, com todo esse avanço tecnológico e a circulação de informações, e mesmo com o massivo consumo de chimarrão no estado, não é todo mundo que conhece como se iniciou a história desta que, hoje, é oficialmente a nossa bebida símbolo e que acompanha milhares de pessoas na rotina do dia-a-dia – seja solitariamente, nas rodas de amigos e familiares e até mesmo no trabalho. Como que algo que é uma construção da cultura indígena, intrinsicamente ligada à Natureza, vira uma commodity industrializada? E quase some depois?” – é o que instiga à reflexão Gustavo Türck, diretor do documentário e que estará presente na 2ª Carijada Serrana. O filme está disponível para quem quiser assistir no canal do YouTube do Coletivo Catarse (clique aqui). Importante ainda destacar que as vagas para participação são limitadas, e as inscrições devem ser feitas o quanto antes. O valor estabelecido de R$ 150,00 por pessoa garante alimentação nos 3 dias e área para acampamento com estrutura de banheiro e energia elétrica. Abaixo segue a programação: DIA 1 – SEXTA-FEIRA – 26/07– final do dia (a partir das 17h), chegada dos participantes e sessão de cinema com exibição do documentário Carijo, o filme (20h) DIA 2 – SÁBADO – 27/07– visita ao SAF com manejo do erval em área de regeneração natural, com Professor Ricardo Mello (UERGS)– montagem da estrutura do carijo– colheita e sapeco da erva-mate– início da secagem e celebração da ronda no carijo DIA 3 – DOMINGO – 28/07– cancheamento e soque da erva-mate– mateada e divisão da erva-mate de carijo As inscrições devem ser feitas em contato com Tiago Fedrizzi pelo telefone 51-99105.4541.

No Centro da cidade, um Sarau das matas.

No sábado, dia 22 de junho, aconteceu o Primeiro Sarau das Agroflorestas, no Espaço Cultural Maria Maria. Esse encontro de música e poesia proporcionou a interação presencial de diversas pessoas que ajudaram a construir a Carta das Agroflorestas, um documento que reuniu inicialmente 405 assinaturas e apresenta propostas para reconstrução do Estado por meio dos sistemas agroflorestais.