Papangu: Sonoridade do Sertão nordestino invade Porto Alegre

Na noite de 27 de janeiro, nas dependências do RR 44 Complexo Artístico, estúdio em Porto Alegre, ocorreu um evento de hipnose coletiva. O show da banda paraibana Papangu transportou o público para o meio do Sertão nordestino, ao mesmo tempo que foi capaz de levar todos a muitos outros cantos desse nosso planeta, com sua sonoridade contemporânea, universal e regional, tudo ao mesmo tempo.

Coisa que nossos irmãos do Nordeste sabem fazer como poucos. As 40 pessoas privilegiadas que puderam viver esse momento certamente não o esquecerão tão cedo. Tudo funcionou bem e nem as pancadas de chuva, tão comuns no verão porto-alegrense, atrapalharam o bom andamento das coisas. A casa que recebeu o espetáculo é diferenciada no som e no atendimento, até mesmo na magia das relações humanas e no encantamento de fazer e viver da arte nesse país.


A produção foi direta e eficiente e a banda… A banda, deixo o convite para que toda gente possa ouvir e tirar suas conclusões. Suas músicas podem ser acessadas pelo Spotify, YouTube, entre outras plataformas. Sua trajetória, que nesse momento percorre o Brasil de Sul ao Norte, pode ser acompanhada pelo perfil @papangu.br. Aqui fica a dica de, sempre que possível, se apoie os artistas que disponibilizam de forma gratuita suas músicas. As plataformas quase nada pagam. Por isso, consumir produtos como mídia física, camisetas, adesivos, ir aos shows, faz toda a diferença na vida dos artistas.

E foi isso que fizeram o Théo e o Fernando, dois guris de Canoas que já haviam acompanhado a banda no seu primeiro show em terras rio-grandenses, no famoso Rock na Praça de Esteio, e, na segunda, estavam lá no Estúdio RR44, para mais uma noitada de peso, técnica e musicalidade explícitas. Cantando todas as letras das canções, a dupla conheceu e virou fã através das plataformas digitais, não perdendo a oportunidade de, ao vivo, fazer aquilo que mais transforma nosso cotidiano: viver a arte. Aliás, viver a arte, fazer a arte, é tudo que a canalha facho mais detesta. Por isso é que devemos amplificar nosso modo de agir, ainda mais no underground. Por isso, também, todo apoio às bandas, às casas que recebem essas bandas, às produtoras que se aventuram nesse mar por vezes tão incerto.

Pra finalizar essa conversa, trago um pouco do que conversei com Marcel Bittencourt, um dos produtores do evento junto com o Jaydson, que assistiu a banda no Knot Fest em São Paulo e, com a visão da oportunidade, aproveitou a gira pelo Sul, que incluiu um show em Floripa, além da Praça Coração de Maria, em Esteio, para erguer, em duas semanas, o evento que aqui estamos relatando.

Tudo isso enfrentando o maior desafio para quem quer produz música no underground brasileiro: a falta de recursos financeiros para qualificar os trabalhos. Isso acaba impactando, como bem destacou Marcel, inclusive nas iniciativas a longo prazo, como bandas, produtoras, técnicos e afins. Aliás, em uma sociedade onde a grana é a régua mais utilizada para medir as coisas, faz com que muitas pessoas competentes e criativas acabem ficando pelo caminho.

O underground é dureza mas também é possibilidade, Foi o que aconteceu nesse caso, uma junção de uma banda musicalmente diferenciada mas que também se organiza de maneira mais profissional, se encontra com produtores que querem colocar o sarrafo mais pra cima, com uma casa onde a estrutura de som e acolhimento é muito boa e um público atento e sabedor de suas responsabilidades enquanto agentes que promovem a cultura e a as artes. Que venham muitos outros Papangus. Que nosso ano seja cheio de iniciativas de coragem e criatividade!

Texto: Marcelo Cougo
Fotos: Billy Valdez

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