No bairro Boa Vista, zona nobre de Porto Alegre, o Quilombo Kédi busca o direito de permanecer no território ancestral que há séculos tem sido seu lar. A comunidade, remanescente de um antiga bairro de africanos e descendentes, hoje é um dos poucos focos – junto com o Quilombo da Família Silva, primeiro Quilombo urbano titulado no Brasil – de resistência negra em uma região engolida pelas grandes construtoras. Na noite desta quinta feira (15/12) o quilombo travou mais uma batalha para manter seu território. A comunidade foi convidada pela prefeitura para conhecer o projeto de reassentamento proposto pela incorporadora CFL depois que uma decisão judicial ordenou o reassentamento da comunidade. A Kédi compareceu em peso, junto com apoiadores da causa quilombola, lotando o espaço da Escola Estadual de Ensino Fundamental Bahia. O Secretário Municipal de Habitação e Regularização Fundiária André Machado apresentou a proposta da incorporadora: um terreno na Avenida Baltazar, na periferia da cidade próximo ao limite com a cidade de Alvorada, no qual a CFL construiria um condomínio fechado para 52 famílias. O público presente não conseguiu conter o riso, que tomou conta do auditório quando foram mostradas as imagens do projeto de habitação prometido pela empresa: uma réplica do modelo dos condomínios de elite, porém com casas menores. Quem não tivesse interesse na moradia prometida teria direito a um valor cerca de cem mil reais. A comunidade se manifestou contra as propostas, reforçando a vontade de ficar no território e demandou investimento em infraestrutura na próprio local “porque o dinheiro não é aplicado na comunidade?”, questionaram. Os moradores da Kédi reforçaram a qualidade de vida que tem no local, onde não há violência e as crianças brincam na rua tranquilamente, e defenderam o direito de seguir vivendo no espaço que seus avós e bisavós construíram. Diante das manifestações a favor do Quilombo (de conselheiros municipais, do Conselho Estadual de Diretos Humanos, das Vereadoras Karen Santos e Reginete Bispo, da Frente Quilombola), que reforçaram o direito ao território garantido pela constituição, o prefeito Sebastião Melo se comprometeu a buscar uma solução junto ao Ministério Público sem remover a comunidade: “Não estou aqui para tirar ninguém de lá. Estou aqui para abrir uma discussão. O Ministério Público pra mim tem fé pública, ele já disse que vamos resolver, então nós vamos resolver”.